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Centro histórico de Varsóvia no início da tarde - durante os meses de inverno escurece muito cedo! |
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Bebida mundialmente famosa, a vodka é um ícone polonês |
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Pode ser que dezembro e uma temperatura abaixo de zero não sejam elementos que combinassem com uma viagem a um país do leste europeu. Mas, como a curiosidade e a gula são atributos mais poderosos que o medo do frio, foi com grande entusiasmo que aceitei um convite pra me familiarizar com a nova gastronomia polonesa. Mais precisamente, a de Varsóvia, capital. Aberto há apenas 7 meses, este boutique hotel fica no centro de Varsóvia. Me entupi de roupas quentes e me preparei pra enfrentar o início do inverno num dos lugares reputados como um dos mais afetados pela rigidez da última estação do ano.
Cheguei no aeroporto de Varsóvia, debaixo de neve. Mas, a acolhida calorosa das anfitriãs Annette e Shiri, fundadoras e sócias da empresa Foodsteps, foi o suficiente pra esquecer que do lado de fora o clima estava mesmo pra pinguins. No entanto, os flocos sempre embelezam o cenário de qualquer lugar e de início me encantei com a perspectiva de um final de semana prolongado com uma programação intensa - a maior parte dela dentro de recintos onde o que mais se faz é comer. E beber, claro, pois não faltam ingredientes pra isso - e uma boa desculpa pra aquecer o corpo e a alma com a típica bebida local - você já sabe, né, a vodka!! Em tempo: pra quem gosta de detalhes culturais, saiba que vodka quer dizer "pequena água"...Mas, cuidado ao beber dessa "água"!!!
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Confeitaria é uma das tradições polonesas |
"Nasdrovia", brindam os poloneses a cada copo derramado com firmeza goela abaixo! Mas, a gente só ia ter uma aula sobre a bebida nacional no penúltimo dia, quando uma guia super especializada nos conduziu de bar em bar pra experimentar gole a gole cada tipo de vodka. Sim, porque existem centenas de rótulos e marcas, algumas bem conhecidas mundialmente como a Wyborova ( que significa exquisite, no sentido de excelência) , outras apenas no território nacional. E, quem diria, ficamos sabendo que houve até uma polêmica sobre quem inventou a vodka, se foram os soviéticos ou os poloneses. Durante o período comunista, conta a lenda ( segundo a narração da nossa simpática guia) de que Stalin encomendou - melhor dizer, pressionou - a um escritor polonês para que ele escrevesse a trajetória histórica da vodka, mas salientou um detalhe: era pra encontrar provas de que a dita cuja teria sido originada na Rússia e não na Polônia. Diante disso, o livro foi redigido assim.
Fora isso, a Foodsteps, uma empresa tão jovem quanto as suas mentoras, foi criada há pouco mais de um ano com o intuito de divulgar a revolução gastronômica de Varsóvia, especificamente. Embora a cultura das receitas culinárias é enraizada em todo o país, a cidade tem uma conotação especial por ser o berço de muitos acontecimentos históricos, quase sempre trágicos. Basta rememorar os anos que antecederam a Segunda Guerra e a própria guerra para se dar conta disso.
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A comida, como não podia deixar de ser, está intrinsecamente ligada aos fatos e, óbvio, aos costumes. Desde que se libertou das garras comunistas dos russos , no início dos anos 90, e assim que ingressou no Mercado Comum Europeu, a Polônia começou a resgatar o seu passado com tudo que lhe pertence. E a memória gastronômica veio junto.
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O saguão do hotel Indigo, um quatro estrelas recém reformado, instalado numa construção antiga e com localização privilegiada. |
O nosso QG era o hotel Indigo, um estabelecimento interessante, pois novinho por dentro e antigo por fora, de extremo bom gosto e funcionalidade. A suíte era ampla e aconchegante, com uma cama king e um banheiro moderno. O mais impressionante era o lobby, com um bar atraente, uma mega tela refletindo imagens galopantes, um ambiente hospitaleiro em todos os sentidos. Assim que me instalei me senti bem à vontade. Apesar do frio, não tinha como fugir de bater pernas por alguns quarteirões...
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Shiri & Annette, fundadoras da Foodsteps |
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Indigo Hotel, um charme e de bom gosto |
Começamos o nosso tour gastronômico com um almoço num restaurante bastante popular, turístico, chamado Zapiecek, mas que seduz pelas características típicas. Assim sendo, o grupo foi introduzido às especialidades natalinas como pierogies, os dim-sum nacionais. São pequenas trouxinhas de massa recheadas com qualquer tipo de coisa, frango, carne,cogumelos especialmente. Depois de preparadas, elas são cozidas na água por apenas alguns segundos e saboreadas com creme ácido e queijo ralado. Uma delícia. Além disso, sopas regeneradoras como a de beterraba (barszcz) ou de galinha.
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Em contrapartida, no jantar fomos brindados com um leque de pratos selecionados num dos reputados restaurantes chiques da cidade, o Rozána. Além de várias entradas frias e quentes, como arenque marinado e patê de pato, desfilaram iguarias como vitela e bacalhau fresco. Tudo regado a bons vinhos, entre outros um gustativo Chablis...O ambiente deste lugar é algo fantástico e nos leva de volta aos áureos tempos de Varsóvia.
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Rozána: detalhe do ambiente |
No último dia, tivemos uma aula de culinária durante a qual aprendemos a confeccionar os tais pierogies, e confesso que foi um dos pontos altos da programação. Não que esse prato seja especialmente sofisticado, mas é fantástico, e a gente se anima e consegue encaixá-los na rotina para fazer a qualquer hora, numa boa!!
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Os famosos pierogies, recheados com tudo quanto é possível imaginar, tudo bem picadinho, uma delícia. |
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O sofisticado restaurante Ale Wino e sua cozinha criativa. Mãos à obra... |
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A manhã do segundo dia foi dedicada a um city tour, e embora o tempo não ajudasse - tudo meio molhado devido à neve derretendo nas ruas, ameaça de chuva e muita poça - a gente caminhou por locais bastante emblemáticos, como o gheto de Varsóvia, do qual não sobrou pedra sobre pedra. Embora o cenário avassalador já não existe, na memória da população esta época é um marco sofrido e relembrado sempre. Outra imagem marcante são as construções que datam da era comunista,muito concreto e a cor cinza predominante. No centro histórico, o que se vê é réplica daquilo que existia, pois tudo foi reconstruído após ter sido inteiramente arrasado pelos bombardeios durante a guerra.
Nosso almoço foi num restaurante conhecido como "milk bar", popular, daqueles que serviam aos operários durante os 50 anos que durou a ditadura comunista. Preço de banana, comida farta e bem básica, com ingredientes que podiam ser adquiridos naquela época sem grandes dificuldades. Leia-se pratos a base de batatas, repolho e , claro, os indeléveis pierogies. No Zkbkowski, nem sequer servem bebida alcóolica!
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Placki - panquecas de batata no Zkbkowski, simples e saboroso. |
Em compensação, à noite vinha a recompensa. Ou até mesmo na hora do lanche, quando nos levaram para Stodki Stony, uma das confeitarias mais famosas da cidade, daquelas que é melhor nem entrar se você tem apreço ao seu peso original. Dos mini-éclair à torta de Natal, guloseimas servidas a rodo, irresistíveis. Os poloneses tem fascinação por doces e sabem prepará-los muitíssimo bem. Daí as deliciosas sobremesas que sempre enfeitaram as nossas mesas durante o tour. Outro restaurante muito simpático foi o Ale Wino, com ambiente festivo e alegre, pratos que incluíram truta, pato e cordeiro, preparados com criatividade e temperos ótimos. Uma festança pro paladar, surpreendendo a todos pela delicadeza e requinte.
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Mini éclair irresistíveis |
No terceiro dia, foi tudo bem diferente: começamos a percorrer as feiras livres, nas quais se vende de tudo, frutas, legumes, carnes e peixes, de maneira bem rudimentar e simples. Mas o melhor é um novo centro gastronômico, um imenso mercado fechado, um recinto onde se pode escolher o que comer na hora, preparado diante dos olhos , de escargots à churrasco de picanha brasileira. Pasme! Muito concorrido, o ambiente é aconchegante, com mesas comunitárias e dezenas de barracas para agradar a qualquer paladar. De frios a sushis, passando por pizzas, especialidades asiáticas e muita cerveja artesanal, experimenta-se de tudo um pouco e ainda se pode comprar produtos frescos oriundos de regiões próximas, como mel e frios.
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Urban : o mel que é produzido na cidade |
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Varsóvia no inverno com um pouco de sol. |
Falando em mel, também conseguimos visitar um criador de mel que tem suas colmeias nas coberturas dos edifícios da cidade. Chama-se, para fazer jus, "Urban", ou seja, mel urbano, uma tendencia de produção que está se espalhando por várias capitais da Europa.
Na noite de despedida, Shiri e Annette levaram o grupo pra um restaurante chamado Kieliszki, renomado pela quantidade de copos suspensos ( falam em 3 mil) que fazem parte da decoração do lugar. Bem trendy, descontraído, onde nos serviram várias pequenas porções de receitas da casa, como panqueca de batatas com ovo e trufas, e uma versão de arenque com beterraba e picles de cebola, entre outros pratos. Não resta dúvida de que a experiência gastronômica em quatro dias revelava apenas uma pequena amostra do que é hoje a cozinha polonesa. Por ter passado tantas décadas quase paralisada, ela se encolheu bastante, mas o cenário hoje é de retomada vigorosa para ressuscitar os sabores enraizados na cultura de um país que tem tudo pra dar certo.