domingo, 25 de junho de 2017

Harvest Inn, Napa Valley, USA

A região de Napa Valley representa para a Califórnia o mesmo que Bordeaux significa para a França. Para melhor degustar cada pedacinho da paisagem, nada como explorá-la de maneira inusitada, se debruçando de um balão a 200 metros de altitude.

O despertador tocou às cinco da manhã. Embora estivéssemos no meio da primavera, o dia ainda não estava totalmente claro. Da varanda do nosso cottage no Harvest Inn, deu para perceber apenas a névoa fina encobrindo os vinhedos que se enfileiravam a perder de vista. Ninguém tinha confirmado a previsão do tempo para esta quinta feira de maio em Napa Valley. Havia até a possibilidade do sol nem aparecer. Isto, sem dúvida, era uma preocupação para quem pretendia, dali a pouco mais de uma hora, iniciar a exploração desta belíssima região californiana sem qualquer tropeço climático... a bordo de um balão!


O céu fica estrelado de balões coloridos

Este passeio, que sobrevoa durante quase duas horas boa parte dos vinhedos que se estendem sobre cerca de 30 milhas, é uma das atrações turísticas mais originais –e também a mais onerosa -  entre as múltiplas escolhas oferecidas aos visitantes que freqüentam este sofisticado pedaço do território americano. Basta abrir o pequeno jornal local, Inside Napa Valley, distribuído gratuitamente comércio afora. Programa talhado sob medida para quem quer fugir do lugar-comum ou celebrar com louvor algum evento memorável, a aventura de balão só não condiz com quem prefere curtir as primeiras horas da manhã na cama, pois inevitavelmente você será convidado a se levantar de sua confortável king size no primeiro toque de alvorada. A explicação é simples: em qualquer lugar do mundo, todo e qualquer passeio de  balão sempre tem início de madrugada pois aproveita os ventos fracos matinais para levantar vôo com total segurança e, também, melhor controlar a posição, a altitude e assim realizar uma viagem sem contratempo algum.


Conforme combinado, o guia chegou pontualmente às 5:30 para nos levar até o nosso ponto de partida, a pouco mais de cinco quilômetros de distancia.  Lá, encontramos outros participantes já  à espera. Estavam previstos para embarcarem em mais dois balões. Embora estivessem todos com cara de sono, havia também um pouco de apreensão no ar: assim como nós, a maioria deles nunca tinha tido esta experiência antes. Você chega a duvidar se vai ter mesmo coragem de pular (é pular, sim, literalmente!) para dentro de um brinquedo deste,  embora já tivesse sido vislumbrado por Julio Verne há tantas décadas atrás como um dos melhores meios de transporte para se admirar as belezas do mundo – do alto.  




Também se encontravam no local outros membros da equipe organizadora. Muito afáveis, logo nos ofereceram uma xícara de café com biscoitos e recomendaram uma ida ao toalete antes da decolagem. Além disso, pediram para todos se agasalharem bem, pois a temperatura cairia a partir de uma determinada altitude. Em seguida, juntaram as pessoas para dividi-las em três grupos e fizeram um rápido briefing sobre o desenrolar da programação.  “Dentro de cinco minutos vamos caminhar até os balões que estão sendo inflados,” disse Matt, o dono da empresa,  apontando para uma área descoberta atrás de um galpão. “Ainda não sabemos exatamente a direção que vamos tomar, mas sempre seremos monitorados por terra,” explicou, tentando relaxar a audiência que se entreolhava. Mas o que isto iria adiantar caso fossemos levados por uma súbita rajada de vento? “Não se preocupem, fica tudo sob controle na mão do seu experiente piloto,” tranqüilizou o organizador, indicando para que todos o seguissem. Obediente, a turma seguiu. E, meio boquiaberta, meio atônita, mas vibrante, ficou a observar a pouco mais de dois metros de distancia o gigante de pano adormecido que, aos poucos, ia ganhando forma graças às golfadas de gás, insufladas por meio de um maçarico posicionado para o centro do balão. 




 O barulho compara-se a um estrondo, ou ao ronco de uma fera sendo domada. As cores, antes sobrepujadas, iam se destacando mais vivas a cada instante que passava, para logo em seguida se erguerem com nitidez, inflando com orgulho. Em questão de minutos, a operação estava terminada, e o balão, já encorpado e ereto, tal qual um potro indomável, estremecia para ser posto em liberdade. “Vamos, vamos, rapidinho, folks,” comandava Matt, enquanto pulávamos para dentro do cesto de vime redondo. E antes que nos déssemos conta, tínhamos decolado em silêncio.  Matt foi sumindo aos poucos de baixo da gente, até que o perdemos rapidamente de vista. Em menos de cinco minutos, já ultrapassávamos os telhados e o topo de árvores. Voávamos.             
Aí é que cai a ficha: você está dentro de um cesto de menos de três metros de diâmetro, onde são acomodados 4 passageiros e mais o nosso piloto, Steve, dono de nossas vidas pelos próximos 100 minutos. Cinco pessoas adultas, de pé, cercadas de...nada por todos os lados, rodopiam (lentamente, por favor!) sobre elas mesmas para melhor apreciar a vista. Debruçadas com atenção, e nada de peripécias ou movimentos drásticos. A balaustrada fica numa altura de cerca de 1,5 metro, o que significa que da cintura para cima, não há mais proteção. A uma certa altura (de novo, literalmente, pois vamos subindo cada vez mais alto até atingir cerca de 200 metros de altitude!) aquela sensação de friozinho na barriga já não é mera imagem figurada. Faz frio mesmo! E já mencionei vertigem? Bem, caso alguém desconheça esta sensação, não é este o momento sensato para falar sobre ela. Lá no alto, não há barulho algum, estamos sobrevoando em paz absoluta uma paisagem ainda meio turva, pois os primeiros raios de sol lutam para saírem detrás das nuvens. Aos pouquinhos, a bruma matinal vai se dissipando e o céu se tinge de azul pastel. São os primeiros vestígios do fim da aurora e o inicio de um amanhecer de mais um lindo dia sobre Napa Valley. Os outros dois balões estão visíveis e trocamos acenos. O mundo, cá embaixo, está saindo do seu torpor e acordando lentamente.
Sobrevoamos pastos, bosques, colinas e, principalmente, os vinhedos, que  podemos contar às centenas, enfileirados com simetria, recortados por alamedas onde pontinhos humanos parecem formiguinhas atarefadas. De repente, não há mais nuvem no céu e o sol despontou,  majestoso, no horizonte. Os seus raios refletem no balão, realçando as suas cores vivas. O único barulho é o ronco do maçarico que Steve manuseia, controlando e mantendo a altura desejada.  A impressão é de que subimos cada vez mais alto. A linha do horizonte já se curva e é mais saudável nem perguntar ao piloto qual é a nossa altitude. Também fica difícil discernir qual é o itinerário, pois os ventos fracos ora nos   empurram para uma direção ou para outra.
O tempo voou mais rápido do que o balão. Após algumas manobras sobre um vinhedo, Steve explica que estamos nos preparando para descer e que teremos que jogar alguns cabos para fora do cesto quando ele mandar. Isto para que a equipe em terra ( que deveras estava seguindo de carro a nossa trajetória )  possa nos resgatar e firmar o cesto no solo para evitar que o balão seja arrastado.  “Se segurem na borda para não sentirem o tranco,” orienta o piloto.  No entanto, uma lufada de vento impede aquela aterrissagem perfeita no alvo previsto, o cesto se desequilibra ligeiramente, mas nada que atrapalhe o desenrolar da operação. Em poucos minutos já estamos a salvo, com os pés em terra firme. Prontos para estourar a garrafa de champagne que nos aguarda como desfecho, como manda o figurino após qualquer passeio de balão. E’ o famoso champagne breakfast! Bem, a esta altura – ou na falta de – já eram quase 9 horas da manhã! E ainda havia muito o que fazer naquele dia em Napa Valley...          

Emoção garantida e visual esplêndido



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