O despertador tocou às cinco da manhã. Embora
estivéssemos no meio da primavera, o dia ainda não estava totalmente claro. Da
varanda do nosso cottage no Harvest Inn, deu para perceber apenas a névoa fina
encobrindo os vinhedos que se enfileiravam a perder de vista. Ninguém tinha
confirmado a previsão do tempo para esta quinta feira de maio em Napa Valley. Havia
até a possibilidade do sol nem aparecer. Isto, sem dúvida, era uma preocupação
para quem pretendia, dali a pouco mais de uma hora, iniciar a exploração desta
belíssima região californiana sem qualquer tropeço climático... a bordo de um balão!
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O céu fica estrelado de balões coloridos |
Este passeio, que sobrevoa durante quase duas horas
boa parte dos vinhedos que se estendem sobre cerca de 30 milhas , é uma das
atrações turísticas mais originais –e também a mais onerosa - entre as múltiplas escolhas oferecidas aos
visitantes que freqüentam este sofisticado pedaço do território americano.
Basta abrir o pequeno jornal local, Inside
Napa Valley, distribuído gratuitamente comércio afora. Programa talhado sob
medida para quem quer fugir do lugar-comum ou celebrar com louvor algum evento
memorável, a aventura de balão só não condiz com quem prefere curtir as
primeiras horas da manhã na cama, pois inevitavelmente você será convidado a se
levantar de sua confortável king size no primeiro toque de alvorada. A
explicação é simples: em qualquer lugar do mundo, todo e qualquer passeio
de balão sempre tem início de madrugada
pois aproveita os ventos fracos matinais para levantar vôo com total segurança
e, também, melhor controlar a posição, a altitude e assim realizar uma viagem
sem contratempo algum.
Conforme combinado, o guia chegou pontualmente às 5:30 para nos levar até o nosso ponto de partida, a pouco mais de cinco quilômetros de distancia. Lá, encontramos outros participantes já à espera. Estavam previstos para embarcarem em mais dois balões. Embora estivessem todos com cara de sono, havia também um pouco de apreensão no ar: assim como nós, a maioria deles nunca tinha tido esta experiência antes. Você chega a duvidar se vai ter mesmo coragem de pular (é pular, sim, literalmente!) para dentro de um brinquedo deste, embora já tivesse sido vislumbrado por Julio Verne há tantas décadas atrás como um dos melhores meios de transporte para se admirar as belezas do mundo – do alto.
Também se encontravam no local outros membros da
equipe organizadora. Muito afáveis, logo nos ofereceram uma xícara de café com
biscoitos e recomendaram uma ida ao toalete antes da decolagem. Além disso,
pediram para todos se agasalharem bem, pois a temperatura cairia a partir de
uma determinada altitude. Em seguida, juntaram as pessoas para dividi-las em três
grupos e fizeram um rápido briefing
sobre o desenrolar da programação. “Dentro
de cinco minutos vamos caminhar até os balões que estão sendo inflados,” disse Matt,
o dono da empresa, apontando para uma
área descoberta atrás de um galpão. “Ainda não sabemos exatamente a direção que
vamos tomar, mas sempre seremos monitorados por terra,” explicou, tentando
relaxar a audiência que se entreolhava. Mas o que isto iria adiantar caso
fossemos levados por uma súbita rajada de vento? “Não se preocupem, fica tudo sob
controle na mão do seu experiente piloto,” tranqüilizou o organizador, indicando
para que todos o seguissem. Obediente, a turma seguiu. E, meio boquiaberta,
meio atônita, mas vibrante, ficou a observar a pouco mais de dois metros de
distancia o gigante de pano adormecido que, aos poucos, ia ganhando forma
graças às golfadas de gás, insufladas por meio de um maçarico posicionado para
o centro do balão.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGAuKA7_zOF19NDNQKdX-McsSu00NRtMuBxOvNPvtiPktGFogHOJGxPq630_XP6lzXs677nfXI58G1g2vifgF8fA78NgEsFJA5RHA5J5oL8pBqPbwbAXExMSJm59A7CehOQC2ej3FzOAh7/s200/napa+valley2440.jpg)
O barulho compara-se a um estrondo, ou ao ronco de uma fera sendo domada. As cores, antes sobrepujadas, iam se destacando mais vivas a cada instante que passava, para logo em seguida se erguerem com nitidez, inflando com orgulho. Em questão de minutos, a operação estava terminada, e o balão, já encorpado e ereto, tal qual um potro indomável, estremecia para ser posto em liberdade. “Vamos, vamos, rapidinho, folks,” comandava Matt, enquanto pulávamos para dentro do cesto de vime redondo. E antes que nos déssemos conta, tínhamos decoladoem silêncio. Matt
foi sumindo aos poucos de baixo da gente, até que o perdemos rapidamente de
vista. Em menos de cinco minutos, já ultrapassávamos os telhados e o topo de
árvores. Voávamos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGAuKA7_zOF19NDNQKdX-McsSu00NRtMuBxOvNPvtiPktGFogHOJGxPq630_XP6lzXs677nfXI58G1g2vifgF8fA78NgEsFJA5RHA5J5oL8pBqPbwbAXExMSJm59A7CehOQC2ej3FzOAh7/s200/napa+valley2440.jpg)
O barulho compara-se a um estrondo, ou ao ronco de uma fera sendo domada. As cores, antes sobrepujadas, iam se destacando mais vivas a cada instante que passava, para logo em seguida se erguerem com nitidez, inflando com orgulho. Em questão de minutos, a operação estava terminada, e o balão, já encorpado e ereto, tal qual um potro indomável, estremecia para ser posto em liberdade. “Vamos, vamos, rapidinho, folks,” comandava Matt, enquanto pulávamos para dentro do cesto de vime redondo. E antes que nos déssemos conta, tínhamos decolado
Aí é que cai a ficha: você está dentro de um cesto de
menos de três metros de diâmetro, onde são acomodados 4 passageiros e mais o nosso
piloto, Steve, dono de nossas vidas pelos próximos 100 minutos. Cinco pessoas
adultas, de pé, cercadas de...nada por todos os lados, rodopiam (lentamente,
por favor!) sobre elas mesmas para melhor apreciar a vista. Debruçadas com
atenção, e nada de peripécias ou movimentos drásticos. A balaustrada fica numa
altura de cerca de 1,5
metro , o que significa que da cintura para cima, não há
mais proteção. A uma certa altura (de novo, literalmente, pois vamos subindo
cada vez mais alto até atingir cerca de 200 metros de altitude!)
aquela sensação de friozinho na barriga já não é mera imagem figurada. Faz frio
mesmo! E já mencionei vertigem? Bem, caso alguém desconheça esta sensação, não
é este o momento sensato para falar sobre ela. Lá no alto, não há barulho
algum, estamos sobrevoando em paz absoluta uma paisagem ainda meio turva, pois
os primeiros raios de sol lutam para saírem detrás das nuvens. Aos pouquinhos,
a bruma matinal vai se dissipando e o céu se tinge de azul pastel. São os
primeiros vestígios do fim da aurora e o inicio de um amanhecer de mais um
lindo dia sobre Napa Valley. Os outros dois balões estão visíveis e trocamos
acenos. O mundo, cá embaixo, está saindo do seu torpor e acordando lentamente.
Sobrevoamos pastos, bosques, colinas e,
principalmente, os vinhedos, que podemos
contar às centenas, enfileirados com simetria, recortados por alamedas onde
pontinhos humanos parecem formiguinhas atarefadas. De repente, não há mais
nuvem no céu e o sol despontou,
majestoso, no horizonte. Os seus raios refletem no balão, realçando as
suas cores vivas. O único barulho é o ronco do maçarico que Steve manuseia,
controlando e mantendo a altura desejada. A impressão é de que subimos cada vez mais
alto. A linha do horizonte já se curva e é mais saudável nem perguntar ao
piloto qual é a nossa altitude. Também fica difícil discernir qual é o
itinerário, pois os ventos fracos ora nos
empurram para uma direção ou para
outra.
O tempo voou mais rápido do que o balão. Após algumas
manobras sobre um vinhedo, Steve explica que estamos nos preparando para descer
e que teremos que jogar alguns cabos para fora do cesto quando ele mandar. Isto
para que a equipe em terra ( que deveras estava seguindo de carro a nossa
trajetória ) possa nos resgatar e firmar
o cesto no solo para evitar que o balão seja arrastado. “Se segurem na borda para não sentirem o
tranco,” orienta o piloto. No entanto,
uma lufada de vento impede aquela aterrissagem perfeita no alvo previsto, o
cesto se desequilibra ligeiramente, mas nada que atrapalhe o desenrolar da
operação. Em poucos minutos já estamos a salvo, com os pés em terra firme.
Prontos para estourar a garrafa de champagne que nos aguarda como desfecho,
como manda o figurino após qualquer passeio de balão. E’ o famoso champagne
breakfast! Bem, a esta altura – ou na falta de – já eram quase 9 horas da
manhã! E ainda havia muito o que fazer naquele dia em Napa Valley...
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Emoção garantida e visual esplêndido |
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