quarta-feira, 31 de maio de 2017

Hotel Les Cygnes, Evian, França

Reflexo de veleiro  no Lac Léman

Águas tranquilas apropriadas para esportes náuticos
O lago Léman,  que em geral as pessoas associam num piscar de olhos à Suíça, também pertence à França, a vizinha de frente. Também chamado de lago Genebra, por motivos óbvios, este belíssimo cartão postal é bacana justamente pela dupla faceta. Ou melhor dizer, dos pontos de vista.Uma vista bem diversificada, dependendo em que margem você se encontra.

A vantagem de um país pequeno é poder atravessar as fronteiras de carro com a facilidade de uma gaivota ( ou melhor dizer, cisne, que estão presentes em toda a volta do Léman). Assim sendo, num espaço de poucas horas dá pra curtir dois países e duas culturas totalmente diferentes. Um zigue-zague bem divertido.


Entrada do hotel des Cygnes
Com tempo bom e tempo de sobra, um programa bem divertido a caminho do aeroporto de Genebra (caso você se encontre do lado helvético) é desviar da autoestrada A9 na divisa dos cantãos do Valais e Vaud, Na altura de Villeneuve, vai trocar as pistas rápidas  por um itinerário muito mais bucólico e cercado de muito verde. E com velocidade controlada ( entre 50-90km/h e a multa é salgada!) Um pequeno desvio para levar você por uma estrada sinuosa, de mão dupla, uma  litorânea  que praticamente roça as águas do lago Léman.  Dá vontade de parar a cada curva pra tirar fotos. E em alguns mirantes têm até um recuo feito justamente pra isso. Você passa por vários vilarejos suíços,  alguns com minúsculas marinas, até chegar na França, coisa de menos de 30 quilômetros. E lá continuam os micro vilarejos, poucas  construções seculares que ornamentam a rodovia. Muitas flores e cores no percurso.  Ninguém pede passaporte na fronteira, pois o tráfego entre os dois países é banalizada. E caso você queira curtir ainda mais  um pouco este roteiro, sugiro até pernoitar num dos lugares mais famosos desta riviera: Évian, um nome  que soa familiar aos que conhecem a água mineral oriunda daquelas fontes.

No mínimo, escolha o Hotel des Cygnes pra almoçar, pois a sua localização é perfeita - adivinhou? pés na água, pode dizer. O hotel tem um ar de casa, aliás é uma antiga construção, os quartos são virados para o lago e a comida é gastronômica. O romantismo fica pairando no ar num ambiente descontraído, arejado, extremamente  bem decorado. Lá tem piscina, "praia" particular com deque e espreguiçadeiras, um spa, e até um mini-golfe ( quem nunca foi atraído por este campo em miniatura vai se esbaldar com o percurso e os obstáculos, pra diversão de qualquer idade!). Este hotel está encabeçando a minha lista ainda pra dormir. Mas, se julgar pela qualidade da gastronomia, acho que não vai me decepcionar. Sem sombra de dúvidas,um três estrelas mega  simpático, que acolhe seus hóspedes e comensais com esmero francês.

Iguaria sútil no restaurante do Hotel les Cygnes


Pequena cidade à beira-lago, Évian-les-Bains, como também é conhecido, reúne todas as características de reduto à la française, com as tradicionais ruas comerciais reservadas a pedestres, restaurantes charmosos e feirinhas de antiguidades e brechós em algumas praças aos sábados e domingos. Sem contar com o lago, que merece ser contemplado a qualquer momento. Bancos cravejam toda a orla, onde pessoas aproveitam para praticar jogging, andar de bicicleta, caminhar com a família...

Barraquinhas de objetos antigos, quadros, bugigangassão apenas uma das atrações nas ruas de pedestres onde se alinha um comércio bem interessante.

Jogar a qualquer momento no Casino

 Além disso, o indelével casino e outras atrações turísticas condizentes, como a prática de quase todos os esportes náuticos, do stand up à vela, esqui aquático, canoagem, e no verão, a "praia", pois as águas são limpas para o banho. E falando em água, o nome Evian deve soar bem familiar: aquele rótulo cor de rosa numa garrafa , visualizou? Pois é, trata-se da própria!você não vai ( nem precisa) querer visitar a fábrica onde todo o processo acontece, mas saiba que é dali que vem uma das águas minerais mais badaladas e espalhadas do planeta.  E, olha que coisa boa, existe um tratamento secular que implica em fazer uma "cura de água ", entre ela banhos. Mas, também ingerir litros da tal Evian. Viu, passe livre para você poder beber à vontade e dirigir depois sem problemas até o aeroporto de Genebra, a pouco mais de 40 minutos...

A Suíça está do outro lado, bem ao alcance dos olhos. 


quarta-feira, 24 de maio de 2017

The Residence, La Marsa, Carthago , Tunísia




  
 
Antigos portos púnicos de Cartago e catedral ao fundo


Artesanato local
  
Ruínas de Cartago e Catedral de Luis IX
Destino pouco divulgado fora do continente europeu, a Tunísia surpreende pela hospitalidade de seu povo e  agrada  por ser  um destino bem atraente para golfistas à procura de uma região exótica. O país ganhou autonomia da França em 1955 e proclamou a sua independência em 1956. A cidade de Cartago, localizada perto da capital Tunis e cujas ruínas são tombadas pelo Patrimônio Mundial da Unesco, era uma cidade imponente  na antiguidade. 

Artesão trabalhando ao ar livre
A Catedral Luis IX foi construída em  1890

Só perdia em importância para Roma e suscitava a inveja.  Ao cabo de sucessivos conflitos, foi destruída durante as Guerras Punicas pelos romanos, que também massacraram impiedosamente mais de 50 mil pessoas – quase a totalidade da população que restava. Totalmente arrasada, os vestígios  podem ser visitados in loco, e a sua triste história, contada através de desenhos, pinturas e restos de civilização,  enfeita as salas e as paredes do monumental Museu de Cartago.


De modo geral, a Tunísia tem um clima ameno e faz sol grande parte do ano. A melhor época para quem prefere evitar o calorão dos meses de julho e agosto  é a primavera e o outono. Ao mesmo tempo, é uma excelente opção para quem viaja acompanhado , pois tanto a golf widow  como o resto da família  encontram um farto leque de atividades de lazer, que vai de sofisticados tratamentos de thalassoterapia às excursões pelas charmosas cidadezinhas da redondeza, como Sidi Bou Said  e Hammamet , passando pelo relax total a programas inusitados nas praias de areia branca .

A marina de Sidi Bou Said
Hammamet





 Ali, o mais concorrido são os divertidos passeios de camelo , mas também há cavalos e excursões em quadriciclo. Isso sem contar com o apelo infalível e irresistível das lojinhas nas medinas e souks, onde se pode comprar – aliás, barganhar, diga-se de passagem! - de tudo um pouco. Leia-se tapetes, artesanato, cerâmica, indumentária típica, acessórios e jóias. 

Embora se possa contabilizar o número de campos de golfe nos dedos das mãos, novos percursos de primeira categoria estão pipocando país afora para atender à crescente demanda do turismo. Para se ter uma idéia, um dos mais antigos golfes da África e primeiro a ser construído na Tunísia é o Golf Federal de Cartago, assinado pelo francês Yves Bureau e inaugurado em 1927. Há cerca de 17 anos atrás, passou por uma renovação, mas os seus 18 buracos requerem muita habilidade e destreza, pois o campo, compacto, é sombreado por pinheiros, ciprestes, palmeiras, oliveiras e laranjeiras. Diante do desafio de um par 66, é necessário ser um jogador bem meticuloso e concentrado.


O luxuoso complexo do The Residence

Entretanto, o recém inaugurado campo de golfe do luxuoso resort The Residence, a 20 quilômetros de Tunis, está  praticamente localizado na orla das praias de Gammarth e La Marsa. À beira mar, este magnífico resort de proporções arquitetônicas em estilo árabe-andaluz, que pertence à cadeia Leading Hotels of the World, oferece spa, butiques, restaurantes e múltiplos ambientes arejados e bem espaçados. Ideal para quem quer relaxar num hotel de frente à praia, usufruir da privacidade e das luxuosas acomodações.


Passeio de camelo é um programa pra turistas
Os seus 18 buracos são totalmente despojados e expostos à brisa do mar e ao vento da África, o que tempera agradavelmente os raios de sol. Sob um céu azul, o sofisticado percurso assinado por Robert Trent Jones II se integra com harmonia ao cenário idílico e foi desenhado para ser adequado às condições climáticas. O local é uma reserva ambiental habitada por pássaros e contornada por pequenas lagoas que acabaram se transformando nos obstáculos naturais entre os elaborados fairways. Aparentemente fácil, o novo campo de 6,451 metros e par 72 não deixa de propor desafios. Cada um de seus buracos ganhou um adjetivo, como “humildade” , “audácia”, “rigor” ou “paciência”, entre outros. Vale como um alerta para quem vai enfrentar este percurso novinho em folha. Aliás, recomendam que o handicap mínimo seja de 26!
 
Artesanato  em cerâmica sempre cheio de ideias coloridas






domingo, 21 de maio de 2017

Etnia Pousada & Boutique, Trancoso, Bahia


O famoso “quadrado”, imenso gramado com a igrejinha de São João ao fundo, é um cartão postal de Trancoso que se mantém intocável há séculos.

Conheci Trancoso em 1972. Pequeno arraial localizado ao sul da Bahia e que foi fundado pelos jesuítas no século XVII,  era  um autêntico oásis,  reduto de pescadores e de alguns andarilhos hippies. Lá, nesta época, o tempo se esquecia de passar e a tranquilidade parecia imexível. Ainda tenho como recordação uma estrada de terra, que sobe da praia depois dos manguezais para desembocar no “Quadrado”, um enorme platô que tem como pano de fundo a belíssima igrejinha de S. João, cuja construção data de 1656. 
Cena do cotidiano no Quadrado
Ao longo das décadas, em visitas recorrentes, deu pra observar as mudanças - umas boas, outras ruins.  Algumas  vieram em forma de cores : quando as casinhas de pescadores, que aos poucos foram trocando de mãos ,  receberam tintas verde, vermelha e outros tons bem chamativos, e ganharam vida sem perder a simplicidade do estilo. 



Detalhe de restaurante no Quadrado
Etnia:privacidade e luxo


Sem preconceitos, Trancoso acolheu de bom grado aqueles novos moradores ( muitos gringos entre eles) cujo estado de espírito visava preservar para sempre os dotes naturais do lugar. Simultaneamente, no decorrer  dos anos, no entorno deste imenso gramado onde os moleques jogam bola e o povo fica vendo o tempo desfilar, foram surgindo pousadas, bares, barracas, ateliês de artistas, galerias de arte, restaurantes e até casas de dança, tudo sem alterar a rusticidade das construções originais. Venceu o bom gosto e a criatividade. Uma das grandes vantagens é o fato de não serem permitidos automóveis dentro do Quadrado: meios de transporte, somente os primitivos: charrete, cavalo, burro e bicicleta.

Panorama sobre a praia, o mar e o cartão postal de Trancoso

O famoso Quadrado fica meio anestesiado durante o dia, e poucas  pessoas circulam por ali. Segue um ritmo baiano...Até hoje. Os restaurantes só abrem por volta do meio dia e as butiques sofisticadas também seguem esse compasso de vida mansa. Isso porque presume-se que os turistas estão na praia, os mais preguiçosos acordam bem tarde e os visitantes das cercanias esperam o pôr-do-sol pra vir curtir um happy hour, pra verem e serem vistos, enfim, contemplar o movimento que vai num crescendo. E´ como se o lugar fosse cheio de formigueiros e as formiguinhas vão surgindo aos poucos até preencher cada metro quadrado deste Quadrado que desperta à noite. E, dependendo da estação do ano, ele fica imbuído do ar festivo e parece que toda a vida dos moradores e agregados gira em torno deste grande espaço ao ar livre. Aviso aos navegantes: Réveillon e Carnaval são especialmente reputados como agitados, e os preços de tudo - do côco às diárias-  atingem a estratosfera.

Casinholas de pescadores pintadas com cores alegres compõem o cenário

Refúgio dos hippies nos anos 70, não é à toa que Trancoso continua a conquistar adeptos. A imprensa internacional não se cansa de eleger o nicho como o melhor lugar do planeta pra se curtir uma praia e o espírito brasileiro. Enaltecem algumas pousadas, a gastronomia e o bem-bom da vida por ali. Verdade, o cenário ajuda um bocado: a vista panorâmica que se descortina atrás da igrejinha abrange toda a orla e um mar de águas esverdeadas. Além da sua extensa praia de areia dourada, situada a uma centena de metros abaixo por onde se chega através de um atalho que atravessa um rio e o manguezal, há muitas outras igualmente maravilhosas como a dos Nativos, Coqueiral e Rio da Barra. A praia de Pedra Grande é uma das poucas perigosas devido às suas ondas fortes. Cada uma mantém características tão atraentes como diferentes, e embora todas estejam diante de mar aberto, a maioria oferece boas possibilidades de banho em águas calmas nas suas piscinas naturais que se formam  durante a maré baixa.

Piscina do Etnia Pousada, conforto e silêncio
O relógio ficou no quarto da pousada e mede-se o tempo pelas caipirinhas, as batidas de frutas tropicais, o côco gelado, o camarão frito e o peixinho na brasa. E’ esta mordomia dia e noite que causa péssimos hábitos - a preguiça e indolência que aos poucos vão tomando conta do corpo e da mente...Principalmente se a pousada tiver tudo isso além de suítes decoradas com dengo e bom gosto, como foi o caso da minha hospedagem na Etnia, um hotel boutique que exala luxo e comodidades. Uma bela piscina cercada de árvores frondosas, um suntuoso café da manhã, uma privacidade surreal - principalmente se considerar que quem se hospeda em Trancoso deve levar em conta que o ambiente festeiro nem sempre poupa àquele que prefere silêncio e tranquilidade - e uma boa mesa. E o que também me agrada é a sua discreta localização. A Etnia não fica no bochicho, mas convenientemente encravada a pouco mais de 5 minutos a pé do centrinho e do Quadrado. 

Detalhe da decoração do Etnia no café da manhã: bom gosto e gosto bom em tudo.

Mas, voltando à beira-mar, é debaixo de uma barraca de sapé que se pode fazer o tempo passar. Difícil mesmo é ficar sem fazer nada. Mas, sentados nos banquinhos de madeira, até  mesmo em cadeiras debaixo de um guarda-sol, ou se refrescando na beira d’água, os turistas desfrutam sob horas de sol o clima hospitaleiro da Bahia.  Que o digam alguns moradores que migraram das grandes cidades e deixaram para sempre de lado o stress e a pressão da rotina (dita) civilizada. 
Restaurante  vazio na baixa estação : o agito vai recomeçar  no verão, quando Trancoso vira point para turistas do mundo inteiro.



quinta-feira, 18 de maio de 2017

Luciano Valleta Boutique, Valleta, Ilha de Malta


Malta é um arquipélago excêntrico cravejado de vilarejos, uma arquitetura riquíssima, 359 igrejas, boa gastronomia e um idioma indecifrável.

 
Vista sobre a catedral do nosso quarto: de dia, animação.
Todos os caminhos levam ao mar.
Ding, dong, ding, dong…São  2:15 da manhã.  A cada quinze minutos, os sinos da Catedral St John ressonam bem alto  nos meus ouvidos e não  há sinal de trégua. As marteladas me mantém semi- acordada e logo me dou conta de quão impossível é tentar conciliar um sono tranquilo com estrondos tão fortes em  intervalos tão curtos. Paciência!  Afinal, escolhi um hotelzinho central, bem no local onde pulsa o coração de Valletta ( pronuncia-se Valetá), a capital da ilha de Malta, construída durante o reinado dos Cavaleiros de Malta e um destino  repleto de charme e enriquecido pela História desde o século 16. Por se tratar de uma construção antiga, a disposição dos quartos era um tanto estranha. Nossa suíte era imensa, cama com dorsel, mobília extraída do baú da vovó! O melhor de tudo era a localização. Descendo, já estávamos no meio do bochicho. Só não recomendo se você tem sono leve.


Aninhado entre o norte da África e o sul da Europa (são apenas 90 minutos de ferry do porto de Malta até Pozzallo, na Itália), o arquipélago maltês mede 316 km quadrados e é formado por três ilhas: a maior delas é Malta, medindo 27 km x 14km, cujo imã é Valletta,  para onde se dirige a maioria dos turistas. Gozo, bem menor ( 14km x 7km) e ainda não completamente domesticado, é um lugar focado por aqueles que rastreiam um estilo de férias com um ritmo bem desacelerado. A ilha é abençoada  com vales verdes espetaculares, uma ou duas praias de areia e um punhado de praias com pedras e vilarejos encantadores  encravados nas colinas. 
Turistas caminham na rua principal, a Repubblika. Tem sorveterias, restaurantes e lojas de lembranças típicas.

Embora o arquipélago possa contar quase sempre com dias de sol a fio e uma temperatura generosa,  ninguém vai a Malta só para lagartixar na praia ou praticar natação nas águas translúcidas do Mediterrâneo. Desde civilizações neolíticas aos franceses, quase todas as raças e nacionalidades pisaram nestas ilhas. Os romanos, os árabes, os alemães, os espanhóis, os bizantinos e os fenícios - pode nomear à vontade - todos eles impregnaram as suas digitais ( boas ou ruins) na história do país.


 A herança cultural é estupenda e visível em cada recanto, desde esplendores barrocos a templos neolíticos que datam do terceiro milênio AC, além de mansões seculares, e um mostruário arquitetônico eclético (de militar a eclesiástico) espalhado na paisagem de beleza agreste. Pincele esta tela com dezenas de cúpulas, fortificações, catedrais e igrejas e você tem diante dos olhos o cenário tipicamente maltês.




Reservamos o 6º dia para explorar as maravilhas de Valletta, que mede apenas 600m x 1000m, mas que foi a primeira cidade planejada da Europa.  Construída em 1560 pelos Cavaleiros de St John, em 2018  ela será a capital Europeia da Cultura e , devido ao seu legado cultural,  é a única capital classificada integralmente como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. A entrada é pelo City Gate ( Portão da Cidade), e depois basta perambular para cima e para baixo pelas ruelas estreitas cravejadas de construções seculares, totalmente pedestres. 

Almoçar e jantar al fresco é uma instituição, praticada por toda a turistada, assim como a degustação de cada um dos sorvetes artesanais oferecidos ao longo da Triq-ir-Repubblika, a artéria principal da cidade. 

Interior muito eclético do Luciano Valleta

Um passeio no trenzinho diverte as crianças e não tira o brio de nenhum viajante calejado. Pelo contrário, dá uma visão panorâmica dos cartões postais de Valletta, como a região do porto e os principais museus. Para finalizar o dia com estilo, aproveitamos que não havia filas para visitar a catedral St.John Co-Cathedral.  Maior símbolo da ilha, ela foi sendo construída entre 1573 e 1578, e é realmente impressionante: muito discreta por fora, é a riqueza interior de valor incomensurável- como a maior obra do pintor italiano Caravaggio, do início do século 17,  e a profusão de ouro nas capelas -  que causa o impacto. Impacto quase tão forte quanto as badaladas dos seus sinos ecoando nos meus ouvidos na nossa última noite em Malta.

Todo esse cenário fabuloso está alinhavado por um  cintilante mar azul turquesa.   


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Pousada do Ipê, Goiás Velho, Goiás

A Casa de Cora Coralina é praticamente o mais pitoresco símbolo da cidade de Goiás
Os farricocos, bonecos característicos de Goiás.


Goiás Velho, ou Cidade de Goiás, ou simplesmente Goiás, é daquelas cidadezinhas de interior pela qual você se apaixona. Não é por menos. Além de ter traços arquitetônicos barrocos encantadores e bem preservados ( felizmente tombados pela Unesco em 2001),  as pessoas são afáveis e não existe qualquer clima de estresse no ar. 
Segundo uma poesia de Cora Coralina, uma das autoras nativas mais respeitadas do Brasil ( e que viveu neste lugar) , o costume local é que todas as portas das moradas ficam sempre abertas. A explicação é de que a hospitalidade dos moradores é inerente e que somente deixando as suas casas abertas o forasteiro vai se sentir bem-vindo.

A praça do Coreto



Imagine isso numa grande cidade...Onde todos se escondem atrás de muros e vivemos em verdadeiras fortalezas!  Isso, nos dias de hoje, é um privilégio reservado para muito pouca gente e  definitivamente, só mesmo em pouquíssimas freguesias. E olhe lá!


Isso é uma das coisas que me chamou a atenção de imediato: a partir de uma certa hora, tipo final da tarde, os habitantes se instalam defronte às suas portas, na calçada, e ficam observando o movimento de pedestres e carros. Aqueles belos casarões coloniais, casas antigas, adquirem vida só com as pessoas sentadas ali, saudando quem passa, conhecido ou não.

Passeio de charrete pelas ruas estreitas do centro histórico


Pousada do Ipê


Foi assim que, ao passar à noitinha diante de uma belíssimo sobrado, resolvemos galgar uma ampla escadaria de pedra,  pois ouvimos umas lamúrias, uns gritos, uns chamados desesperados. Assim que chegamos na porta, nos deparamos com uma escola de teatro,  a Escola de Belas Artes, em pleno trabalho de interpretação de texto. Também descobrimos que eles trabalham com deficientes, adolescentes, conjugando um trabalho criativo com inclusão social. Aplausos!

Tranquilidade e muito verde debaixo de um céu azul e sol forte, mesmo no inverno.


Não espere encontrar cinco estrelas em Goiás Velho. Há muitos pequenos estabelecimentos, pousadinhas familiares, hostels... como a Pousada do Ipê, simples, rústica, mas cujo ambiente é muito acolhedor. Essa tem até piscina. O quarto carece de luxo, mas isso não incomoda.  A localização é ótima, no centro histórico. O restaurante é  agradável, o café da manhã  bom e tem muito verde em volta. Além disso, qualquer falha é compensada pela simpatia e receptividade dos funcionários. Aliás, falando em comida, o típico prato goiano é o tal empadão. Bastante diferente daquele que a gente conhece no sudeste. Esse vem servido numa forma e tem como recheio uma montanha de ingredientes misturados, desde carne de porco até linguiça e frango.


Museu de Arte Sacra

Outra coisa também surpreendente na cidadezinha é que após as 7 da noite, as ruas se esvaziam e permanecem completamente desertas. Ou seja, se você está atrás de vida noturna, Goiás Velho não é o lugar ideal.  Nem mesmo no centro ou na praça principal.  No máximo, você vai encontrar meia dúzia de gatos pingados no único bar aberto da cidade. E’o frio, se atrevem a dizer alguns entendidos. Realmente, no inverno, a temperatura despenca ( de noite) , mas também não vamos exagerar. E de dia, bate um solaço.

E adivinha o programinha que a gente resolveu fazer durante o dia? Passeio de charrete, é claro, bem baratinho, contorna todos os recantos da cidade e ainda despeja um monte de explicação sobre um montão de coisas. Tem mais algumas paradas estratégicas, como o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, que guarda obras de Veiga Valle, artista de esculturas sacras e  nativo de Pirenópolis.  E faça umas incursões nas lojinhas de artesanato, pois lá se encontram aqueles típicos bonecos chamados de farricoco, que representam penitentes encapuzados que vestem túnicas coloridas e levam um chicote. São personagens sempre presentes na Procissão do Fogaréu, um evento religioso tradicional que se realiza sempre na Quarta Feira Santa. E se você estiver pela região na primeira semana de julho, não perca o FICA (festival internacional de cinema e vídeo ambiental).


Last but not least, tem a famosa casa de Cora Coralina, a poetisa nascida naquela cidade em 1889 e cuja obra encantou a tanta gente. A casa continua intacta e você pode entrar e observar como ela vivia naquele tempo. Muita mobília e utensílios de época estão ali, conservados e exatamente no lugar de origem. E´ tudo muito singelo,  mas cativa a sua atenção e até emociona. 

Anoitecendo nas ruelas estreitas cria uma atmosfera mágica