Esta aventura, que se intitula “Uma noite no deserto” , é sugerida no roteiro de muita gente que viaja para o Marrocos. Acampar no deserto é diferente mesmo. A idéia de dormir num autêntico acampamento bérbere não só soa fascinante como cria uma expectativa até mesmo no mais calejado viajante. No mínimo, você vai visualizar personagens montados em camelos ( aliás, camelo tem de sobra e é como a gente chega lá) , atravessando lentamente aquelas volúveis dunas de areia branca. Se cutucar mais um pouco a sua imaginação, dá também para associar a aventura com os contos de Mil e uma Noites que a gente leu na infância.
Mas a verdadeira surpresa dizia
respeito ao conforto: no
acampamento não tinha banheiro (pelo menos quando eu fui). Com
isso não quero dizer que as tendas, todas individuais, não teriam o seu
banheiro privativo. Não ia ter banheiro para ninguém porque no deserto
simplesmente falta água. Para qualquer brasileiro, que tem mania de entrar para
debaixo do chuveiro pelo menos duas vezes ao dia, dá para entender porque este
pequeno detalhe deixou o grupo todo , digamos, alvoroçado.
“Levem casacos quentes, mas não muita roupa, porque, como sabem, não vai ter banho,” recomendou o guia. Apesar de todas as incógnitas que ainda giravam em torno da noite no deserto, ( pensando bem , nada mais natural, pois nunca alguém entre nós tinha dormido no Saara ) o grupo acordou entusiasmado para a expedição, que saiu de manhã da cidade a bordo de quatro Land Rovers para uma jornada de115 quilômetros em
direção ao pré-Saara.
Seguindo um simpático ritual, os guias distribuíram para cada pessoa um “kit deserto” : um djelabá azul, aquela típica túnica inteiriça usada pelos nômades que habitam o Saara e, de quebra, ganhamos também um sash colorido, que vem a ser um tipo de xale de algodão que se transforma numa espécie de turbante, e que protege a cabeça do calor, do frio e das rajadas de areia. Quando todo mundo apareceu vestido ( ou seria fantasiado ?) de tuaregue ( indivíduo que pertence ao povo bérbere), não houve quem não sucumbisse ao efeito criado pelas vestimentas. Entre boas risadas, além de dissipar todas as tensões, estávamos relaxados para vivenciar a etapa seguinte: uma curta expedição no dorso de camelos até o nosso acampamento.
“Levem casacos quentes, mas não muita roupa, porque, como sabem, não vai ter banho,” recomendou o guia. Apesar de todas as incógnitas que ainda giravam em torno da noite no deserto, ( pensando bem , nada mais natural, pois nunca alguém entre nós tinha dormido no Saara ) o grupo acordou entusiasmado para a expedição, que saiu de manhã da cidade a bordo de quatro Land Rovers para uma jornada de
Seguindo um simpático ritual, os guias distribuíram para cada pessoa um “kit deserto” : um djelabá azul, aquela típica túnica inteiriça usada pelos nômades que habitam o Saara e, de quebra, ganhamos também um sash colorido, que vem a ser um tipo de xale de algodão que se transforma numa espécie de turbante, e que protege a cabeça do calor, do frio e das rajadas de areia. Quando todo mundo apareceu vestido ( ou seria fantasiado ?) de tuaregue ( indivíduo que pertence ao povo bérbere), não houve quem não sucumbisse ao efeito criado pelas vestimentas. Entre boas risadas, além de dissipar todas as tensões, estávamos relaxados para vivenciar a etapa seguinte: uma curta expedição no dorso de camelos até o nosso acampamento.
Ao atravessar M’hamid, o derradeiro oásis antes do
deserto, a sensação é nítida :
transpomos o portal do Pré- Saara. Em questão de minutos, não há mais
nenhum vestígio de civilização. As Land ,
uma atrás da outra, serpenteiam
entre dunas numa estrada de traçado duvidoso. A poeira embaça o horizonte, onde o sol está se pondo
lentamente.
O tempo passa, não há sinal de vida, só areia. Naquele momento
passou pela minha cabeça que, se me largassem ali, eu nunca mais voltava. As dunas, com a sua textura em
tons dourados, tiram a referência. Paranóia de leigo, é claro, pois aposto que
qualquer homem azul ( nome dado aos habitantes do deserto que,
invariavelmente, estão vestidos dos pés à cabeça com uma túnica azul igualzinha
à nossa) acharia o caminho de volta com
a maior tranquilidade.
Após meia hora,
avistamos um grupo de homens e camelos.
Naquele exato momento, me senti entrando no meio do set de uma filmagem e lembrei de ter lido que alguns sucessos de
bilheterias foram rodados naquelas
bandas , como “Lawrence da Arábia”, “ A
Jóia do Nilo” e “O Homem que queria ser
Rei”. Em todos, os camelos estavam
presentes. Estes quadrúpedes ruminantes,
que são criados no deserto desde 600
AC , são
conhecidos oficialmente no Marrocos como
“dromedário”. Eles podem caminhar de 30 a 45 quilômetros por
dia , dependendo se levam carga ou não.
Em geral, são calmos, mas os guias canadenses tinham nos alertado
que poderiam debandar caso um esbaforido
grupo de brasileiros fosse correndo em sua direção.
Do alto de nossos camelos, de cima de
uma duna, tivemos a primeira visão do nosso acampamento : duas fileiras com oito
tendas cada, montadas uma ao lado da
outra e viradas frente à frente; no fundo, uma tenda maior, com duas mesas baixas e vários banquinhos, dispostos encima
de alguns tapetes coloridos.
As tendas são todas iguais, feitas de pano. Medem cerca de 1,5
m de largura por 2,0 m de comprimento e 1,70m
de altura na parte mais alta. No seu interior, encima de um tapete colocado
diretamente sobre a areia , repousa um colchão de casal e o único móvel - uma
mesinha de cabeceira. Nela, um lampião
de querosene exala um cheiro forte . No canto, uma chaleira contendo água e uma
bacia “sugeria” que você pudesse se
lavar sem maiores inconvenientes. Até toalhas tinham colocado na cama. Não me
pergunte para quê...Espertos foram aqueles que levaram os paninhos úmidos para limpar bumbum de bebê...
Às sete começaram a servir o
jantar. Às 9, o efeito-Saara já se fazia perceber, porque de repente quase
todo mundo estava com sono. Uma grande fogueira foi então acesa , e algumas pessoas aproveitaram o calor para
ficarem em sua volta, conversando. O que
mais chamava a atenção era o número de
estrelas cadentes chovendo em cascata do céu. Por sua vez,
a lua quase cheia iluminava o
acampamento. Não tenho dúvidas : pairava
romantismo no ar do deserto.
As tendas muito coladas umas às
outras definiram quem ronca, quem
espirra, quem fala durante o sono , quem
tem pesadelos e quem quis
experimentar o clima romântico do
Saara. E só o sopro forte e constante do vento foi
capaz de dissimular ruídos estranhos. Só que ,
em contrapartida, este mesmo
sopro jogava para dentro da tenda finas
camadas de areia, peneirada através do pano, mas que iam se acumulando
lentamente no travesseiro e nos cabelos.
Acordei inúmeras vezes para
varrer com a mão o monte de areia que começava a tomar conta da
cama. No final, não teve jeito : tinha areia por todo lado da
tenda.
![]() |
A cama dentro da tenda |
Acordou todo
mundo às 6:20 da manhã. “Venham ver o nascer
do sol!” , chamava insistentemente o guia. Em poucos minutos, o grupo estava no alto de uma colina
esperando para admirar um dos
espetáculos mais bonitos e cobiçados do Saara:
o sol nascendo no horizonte, projetando os seus fachos de luz nas dunas,
dourando- as lentamente. Um momento mágico , sem dúvida.
O nascer do sol é uma visão espetacular |
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