domingo, 21 de maio de 2017

Etnia Pousada & Boutique, Trancoso, Bahia


O famoso “quadrado”, imenso gramado com a igrejinha de São João ao fundo, é um cartão postal de Trancoso que se mantém intocável há séculos.

Conheci Trancoso em 1972. Pequeno arraial localizado ao sul da Bahia e que foi fundado pelos jesuítas no século XVII,  era  um autêntico oásis,  reduto de pescadores e de alguns andarilhos hippies. Lá, nesta época, o tempo se esquecia de passar e a tranquilidade parecia imexível. Ainda tenho como recordação uma estrada de terra, que sobe da praia depois dos manguezais para desembocar no “Quadrado”, um enorme platô que tem como pano de fundo a belíssima igrejinha de S. João, cuja construção data de 1656. 
Cena do cotidiano no Quadrado
Ao longo das décadas, em visitas recorrentes, deu pra observar as mudanças - umas boas, outras ruins.  Algumas  vieram em forma de cores : quando as casinhas de pescadores, que aos poucos foram trocando de mãos ,  receberam tintas verde, vermelha e outros tons bem chamativos, e ganharam vida sem perder a simplicidade do estilo. 



Detalhe de restaurante no Quadrado
Etnia:privacidade e luxo


Sem preconceitos, Trancoso acolheu de bom grado aqueles novos moradores ( muitos gringos entre eles) cujo estado de espírito visava preservar para sempre os dotes naturais do lugar. Simultaneamente, no decorrer  dos anos, no entorno deste imenso gramado onde os moleques jogam bola e o povo fica vendo o tempo desfilar, foram surgindo pousadas, bares, barracas, ateliês de artistas, galerias de arte, restaurantes e até casas de dança, tudo sem alterar a rusticidade das construções originais. Venceu o bom gosto e a criatividade. Uma das grandes vantagens é o fato de não serem permitidos automóveis dentro do Quadrado: meios de transporte, somente os primitivos: charrete, cavalo, burro e bicicleta.

Panorama sobre a praia, o mar e o cartão postal de Trancoso

O famoso Quadrado fica meio anestesiado durante o dia, e poucas  pessoas circulam por ali. Segue um ritmo baiano...Até hoje. Os restaurantes só abrem por volta do meio dia e as butiques sofisticadas também seguem esse compasso de vida mansa. Isso porque presume-se que os turistas estão na praia, os mais preguiçosos acordam bem tarde e os visitantes das cercanias esperam o pôr-do-sol pra vir curtir um happy hour, pra verem e serem vistos, enfim, contemplar o movimento que vai num crescendo. E´ como se o lugar fosse cheio de formigueiros e as formiguinhas vão surgindo aos poucos até preencher cada metro quadrado deste Quadrado que desperta à noite. E, dependendo da estação do ano, ele fica imbuído do ar festivo e parece que toda a vida dos moradores e agregados gira em torno deste grande espaço ao ar livre. Aviso aos navegantes: Réveillon e Carnaval são especialmente reputados como agitados, e os preços de tudo - do côco às diárias-  atingem a estratosfera.

Casinholas de pescadores pintadas com cores alegres compõem o cenário

Refúgio dos hippies nos anos 70, não é à toa que Trancoso continua a conquistar adeptos. A imprensa internacional não se cansa de eleger o nicho como o melhor lugar do planeta pra se curtir uma praia e o espírito brasileiro. Enaltecem algumas pousadas, a gastronomia e o bem-bom da vida por ali. Verdade, o cenário ajuda um bocado: a vista panorâmica que se descortina atrás da igrejinha abrange toda a orla e um mar de águas esverdeadas. Além da sua extensa praia de areia dourada, situada a uma centena de metros abaixo por onde se chega através de um atalho que atravessa um rio e o manguezal, há muitas outras igualmente maravilhosas como a dos Nativos, Coqueiral e Rio da Barra. A praia de Pedra Grande é uma das poucas perigosas devido às suas ondas fortes. Cada uma mantém características tão atraentes como diferentes, e embora todas estejam diante de mar aberto, a maioria oferece boas possibilidades de banho em águas calmas nas suas piscinas naturais que se formam  durante a maré baixa.

Piscina do Etnia Pousada, conforto e silêncio
O relógio ficou no quarto da pousada e mede-se o tempo pelas caipirinhas, as batidas de frutas tropicais, o côco gelado, o camarão frito e o peixinho na brasa. E’ esta mordomia dia e noite que causa péssimos hábitos - a preguiça e indolência que aos poucos vão tomando conta do corpo e da mente...Principalmente se a pousada tiver tudo isso além de suítes decoradas com dengo e bom gosto, como foi o caso da minha hospedagem na Etnia, um hotel boutique que exala luxo e comodidades. Uma bela piscina cercada de árvores frondosas, um suntuoso café da manhã, uma privacidade surreal - principalmente se considerar que quem se hospeda em Trancoso deve levar em conta que o ambiente festeiro nem sempre poupa àquele que prefere silêncio e tranquilidade - e uma boa mesa. E o que também me agrada é a sua discreta localização. A Etnia não fica no bochicho, mas convenientemente encravada a pouco mais de 5 minutos a pé do centrinho e do Quadrado. 

Detalhe da decoração do Etnia no café da manhã: bom gosto e gosto bom em tudo.

Mas, voltando à beira-mar, é debaixo de uma barraca de sapé que se pode fazer o tempo passar. Difícil mesmo é ficar sem fazer nada. Mas, sentados nos banquinhos de madeira, até  mesmo em cadeiras debaixo de um guarda-sol, ou se refrescando na beira d’água, os turistas desfrutam sob horas de sol o clima hospitaleiro da Bahia.  Que o digam alguns moradores que migraram das grandes cidades e deixaram para sempre de lado o stress e a pressão da rotina (dita) civilizada. 
Restaurante  vazio na baixa estação : o agito vai recomeçar  no verão, quando Trancoso vira point para turistas do mundo inteiro.



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