quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Quinta das Lágrimas, Coimbra, Portugal



Vista de Coimbra 

Todo conto começa assim: era uma vez.....e esse não vai ser diferente.

Vestido de D. Inês - quer copiar o modelito?
...Era uma vez, há mais de 650 anos atrás, um poderoso príncipe e uma bela dama envolvidos numa grande paixão. Infelizmente, devido a intrigas no reino, os amantes eram obrigados a vivenciar o seu amor às escondidas. A desaprovação chegava a tal ponto que, aproveitando uma ausência temporária do seu filho, o rei mandou executar a sua amante a facadas, o que, é óbvio, desencadeou uma violenta revolta por parte do príncipe.

 E, pouco depois, assim que sucedeu ao pai, a primeira providencia foi se vingar e mandou executar os assassinos com requinte de crueldade: eles tiveram o coração arrancado ainda vivos. Não satisfeito, o novo rei fez questão de desenterrar os restos mortais de sua amada, a colocou sentada no trono e mandou que a coroassem como a sua rainha, alegando ter-se casado com ela em segredo. Em seguida, os súditos foram obrigados a prestar homenagem pública e beijar a mão do cadáver, sob ameaça de morte. 

Deu arrepios? Pois a história da rainha morta é real e todo o cenário também:  estávamos em Portugal na Idade Média, o príncipe era dom Pedro; seu pai, o rei , era Dom Alfonso IV e a fidalga era sua prima D. Inês de Castro. Grande parte desta história de amor foi vivida em Coimbra, mais especificamente nos arredores de uma quinta onde  está erguido um palacete construído no século 18 e hoje abriga um sofisticado hotel da rede Relais & Châteaux. Emoldurada por um magnífico parque de 120 mil metros quadrados, a Quinta das Lágrimas ainda emana a história desta paixão.
 
O lugar onde  D.Pedro e D. Inês deixaram juras de amor e  segredos é hoje um palacete e luxuoso hotel membro da cadeia Relais & Châteaux
Assim que a gente coloca os pés no belo saguão desta mansão aristocrática, a vibração é intensa : logo na entrada, nos deparamos com o vestido de D. Inês erguido num manequim. A Rainha Morta, como é mais conhecida esta fidalga, causa uma impressão bem forte...Logo imaginamos as cenas dos encontros secretos, das juras de amor , do desfecho bruto  e do cenário de desolação após a sua morte.  Na recepção, uma escultura da Inês, talhada em pedra, nos remete novamente ao passado e a lenda vivida entre os ilustres personagens.
corredor que leva até as suítes mais luxuosas

O hotel tem seu próprio green, com vista para a cidade ao fundo

E´  que, apesar de Pedro e Inês não terem conhecido este palacete, deixaram suas auras no espaço. Todo o ambiente, a decoração , a sobriedade dos longos corredores, o pé direito alto, o pátio interno e os magníficos jardins são dignos de realeza. Hoje, quem também se delicia regiamente são os golfistas, que encontram ao seu dispor, ao pé do hotel, um campo de golfe pitch and putt de 9 buracos e mais um putting green . Além disso, o Quinta das Lágrimas atrai uma clientela pela gastronomia renomada de seu restaurante, o Arcadas, onde o destaque é o menu degustação,  intitulado – voce adivinhou! – “Pedro & Inês” . E que tem tudo para propiciar muita alegria aos comensais.


Porque nada de imaginar que a bela Coimbra, antiga capital de Portugal,  seja cunhada só de lágrimas derramadas, sofrimento e luto. Pelo contrário. Embora muita coisa gire em volta deste drama de amor e seus protagonistas – leia-se inúmeras fundações, festivais de arte e eventos cunhados com o nome de Inês e Pedro -  a cidade é  alegre e vivaz.

centro da cidade - só pedestres e muita descontração

  Nem mesmo as enchentes históricas do rio Mondego estragam a vivacidade desta cidade,  cheia de jovens, já que é  uma cidade acadêmica por excelência – a universidade de Coimbra é apenas um entre os inúmeros monumentos históricos  cujo estado continua impecável. Entre eles se destaca, apenas para citar um, a mais antiga e bem conservada catedral romana de todo o país. Fora estes marcos históricos,  que exigem uma peregrinação cultural de peso, não dispense uma fugida até o mercado municipal Pedro V, para sentir os aromas e acompanhar de perto a rotina dos habitantes, que vem comprar  verduras e frutas.


A famosa universidade de Coimbra : marco cultural e histórico

 Para quem saboreia a autenticidade, esta visita é um must. Pelo menos para quem aprecia coloridos exóticos e a genuidade que existe em qualquer ambiente popular. E já que estamos falando em popular, não deixe de experimentar as famosas arrufadas, um pão de brioche salpicado com côco, uma das  especialidades culinárias de Coimbra.





O cenário no dia-a-dia de Coimbra é repleto de estudantes, muitos perambulando pela parte antiga da cidade, ao pé do promontório onde se ergue a universidade. Dizem por lá que quase todos os caminhos levam à sacrossanta universidade. Mas o mais conhecido é saindo do Largo da Portagem, bem em frente à ponte que atravessa o rio Mondego, onde existe um percurso íngreme que serpenteia por um emaranhado de ruelas estreitas e silenciosas. O centro medieval de Coimbra é ideal para ser percorrida a pé... muito embora nós descobrimos outras maneiras ( algumas nada convencionais) de explorá-la.



A mais ortodoxa é alugando, por dia ou por algumas horas,  uma trotinete ou uma bicicleta – porém, o quesito menos ortodoxo fica por conta do fato de ambas serem elétricas. A vantagem é que elas tem o acesso permitido até mesmo no centrinho comercial reservado aos pedestres e na parte antiga da cidade. 

Além de poupar esforço  – em resumo, voce pedala quando quer e, nas ladeiras íngremes , quando  perde o folego, basta um leve toque e o motor liga automaticamente. Assim, não há o menor problema em encarar a colina e chegar até a  Sé Velha onde estão encravadas não só a universidade, mas também um monumento à cultura, a Biblioteca Baroca, uma preciosidade histórica que data de 1750. Ali, num edifício que foi concebido para ser uma “casa de livros” , estão guardados 200 mil volumes, sendo a maioria coleções originais editadas nos séculos 16, 17 e 18.



Coimbra é fiel às suas tradições. Uma delas é a “queima das fitas”, a festa mais simbólica dos universitários, que hoje somam cerca de 20 mil alunos. O evento é sempre em maio, quando os futuros formandos incendeiam as suas fitas coloridas na escadaria da Sé Nova – fitas estas que recebem quando são admitidos na universidade, sendo amarelas para os estudantes de medicina e vermelhas para os de direito.  Outra curiosidade local são a capa e a batina, que mesmo sendo uma indumentária  obrigatória apenas nas cerimonias solenes, são trajados pelos mais conservadores no dia-a-dia, que fazem questão de transitar vestidos de negro pelo campus e cercanias.

Universidade de Coimbra : entrada

Rio Mondego

Biblioteca de Coimbra e seus preciosos livros

Este rio, de águas límpidas ( é dos menos poluídos da Europa) é também conhecido como o rio dos poetas e por sua vez serve de palco para alguns passeios, seja de caiaque ou botinho elétrico. No entanto, é preciso ter muito cuidado em algumas partes, pois são tão rasas que o barco pode encalhar. Isto se deve ao assoreamento que, infelizmente compromete a navegação de embarcações maiores ou com calado. Mas, em nada impede uma divertida descida para observar as margens e  a paisagem que forma o cartão postal da cidade. 

O Parque Verde foi inteiramente remodelado e conta com simpáticos restaurantes, pubs e bares alinhados num amplo deck de madeira, onde a gente senta debaixo de ombrellones para almoçar ou jantar, degustar uma sangria, uma cerveja gelada ou um café. Deste lado direito da orla, a vegetação é abundante e sempre sopra uma brisa suave para amenizar o calor. Os finais de tarde são especialmente agradáveis, e o cenário muito bonito no por-do -sol.  E depois deste espetáculo da natureza, que pode, em alguns casos, levar às lágrimas os mais sentimentais, só é preciso levar de volta para casa as boas lembranças de Coimbra.








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