Vista de Coimbra |
Todo conto começa assim: era uma
vez.....e esse não vai ser diferente.
Vestido de D. Inês - quer copiar o modelito? |
...Era uma vez, há mais de 650
anos atrás, um poderoso príncipe e uma bela dama envolvidos numa grande paixão.
Infelizmente, devido a intrigas no reino, os amantes eram obrigados a vivenciar
o seu amor às escondidas. A desaprovação chegava a tal ponto que, aproveitando
uma ausência temporária do seu filho, o rei mandou executar a sua amante a
facadas, o que, é óbvio, desencadeou uma violenta revolta por parte do
príncipe.
E, pouco depois, assim que sucedeu ao pai, a primeira providencia foi
se vingar e mandou executar os assassinos com requinte de crueldade: eles
tiveram o coração arrancado ainda vivos. Não satisfeito, o novo rei fez questão
de desenterrar os restos mortais de sua amada, a colocou sentada no trono e
mandou que a coroassem como a sua rainha, alegando ter-se casado com ela em
segredo. Em seguida, os súditos foram obrigados a prestar homenagem pública e
beijar a mão do cadáver, sob ameaça de morte.
Deu arrepios? Pois a história da
rainha morta é real e todo o cenário também: estávamos em Portugal na Idade Média, o
príncipe era dom Pedro; seu pai, o rei , era Dom Alfonso IV e a fidalga era sua
prima D. Inês de Castro. Grande parte desta história de amor foi vivida em
Coimbra, mais especificamente nos arredores de uma quinta onde está erguido um palacete construído no século 18
e hoje abriga um sofisticado hotel da rede Relais & Châteaux. Emoldurada
por um magnífico parque de 120 mil metros quadrados, a Quinta das Lágrimas ainda
emana a história desta paixão.
O lugar onde D.Pedro e D. Inês deixaram juras de amor e segredos é hoje um palacete e luxuoso hotel membro da cadeia Relais & Châteaux |
Assim que a gente coloca os pés
no belo saguão desta mansão aristocrática, a vibração é intensa : logo na
entrada, nos deparamos com o vestido de D. Inês erguido num manequim. A Rainha Morta, como é mais conhecida esta
fidalga, causa uma impressão bem forte...Logo imaginamos as cenas dos encontros
secretos, das juras de amor , do desfecho bruto
e do cenário de desolação após a sua morte. Na recepção, uma escultura da Inês, talhada
em pedra, nos remete novamente ao passado e a lenda vivida entre os ilustres
personagens.
corredor que leva até as suítes mais luxuosas |
O hotel tem seu próprio green, com vista para a cidade ao fundo |
E´ que, apesar de Pedro e
Inês não terem conhecido este palacete, deixaram suas auras no espaço. Todo o
ambiente, a decoração , a sobriedade dos longos corredores, o pé direito alto,
o pátio interno e os magníficos jardins são dignos de realeza. Hoje, quem
também se delicia regiamente são os golfistas, que encontram ao seu dispor, ao
pé do hotel, um campo de golfe pitch and
putt de 9 buracos e mais um putting
green . Além disso, o Quinta das Lágrimas atrai uma clientela pela gastronomia
renomada de seu restaurante, o Arcadas, onde o destaque é o menu
degustação, intitulado – voce adivinhou!
– “Pedro & Inês” . E que tem tudo para propiciar muita alegria aos
comensais.
Porque nada de imaginar que a
bela Coimbra, antiga capital de Portugal,
seja cunhada só de lágrimas derramadas, sofrimento e luto. Pelo
contrário. Embora muita coisa gire em volta deste drama de amor e seus
protagonistas – leia-se inúmeras fundações, festivais de arte e eventos
cunhados com o nome de Inês e Pedro - a
cidade é alegre e vivaz.
centro da cidade - só pedestres e muita descontração |
Nem mesmo as enchentes históricas do rio
Mondego estragam a vivacidade desta cidade,
cheia de jovens, já que é uma
cidade acadêmica por excelência – a universidade de Coimbra é apenas um entre
os inúmeros monumentos históricos cujo
estado continua impecável. Entre eles se destaca, apenas para citar um, a mais
antiga e bem conservada catedral romana de todo o país. Fora estes marcos
históricos, que exigem uma peregrinação
cultural de peso, não dispense uma fugida até o mercado municipal Pedro V, para
sentir os aromas e acompanhar de perto a rotina dos habitantes, que vem comprar
verduras e frutas.
A famosa universidade de Coimbra : marco cultural e histórico |
Para quem saboreia a
autenticidade, esta visita é um must.
Pelo menos para quem aprecia coloridos exóticos e a genuidade que existe em
qualquer ambiente popular. E já que estamos falando em popular, não deixe de
experimentar as famosas arrufadas, um
pão de brioche salpicado com côco, uma das
especialidades culinárias de Coimbra.
O cenário no dia-a-dia de Coimbra
é repleto de estudantes, muitos perambulando pela parte antiga da cidade, ao pé
do promontório onde se ergue a universidade. Dizem por lá que quase todos os
caminhos levam à sacrossanta universidade. Mas o mais conhecido é saindo do
Largo da Portagem, bem em frente à ponte que atravessa o rio Mondego, onde
existe um percurso íngreme que serpenteia por um emaranhado de ruelas estreitas
e silenciosas. O centro medieval de Coimbra é ideal para ser percorrida a pé...
muito embora nós descobrimos outras maneiras ( algumas nada convencionais) de
explorá-la.
A mais ortodoxa é alugando, por
dia ou por algumas horas, uma trotinete ou
uma bicicleta – porém, o quesito menos ortodoxo fica por conta do fato de ambas
serem elétricas. A vantagem é que elas tem o acesso permitido até mesmo no
centrinho comercial reservado aos pedestres e na parte antiga da cidade.
Além
de poupar esforço – em resumo, voce
pedala quando quer e, nas ladeiras íngremes , quando perde o folego, basta um leve toque e o motor
liga automaticamente. Assim, não há o menor problema em encarar a colina e
chegar até a Sé Velha onde estão
encravadas não só a universidade, mas também um monumento à cultura, a
Biblioteca Baroca, uma preciosidade histórica que data de 1750. Ali, num
edifício que foi concebido para ser uma “casa de livros” , estão guardados 200
mil volumes, sendo a maioria coleções originais editadas nos séculos 16, 17 e
18.
Coimbra é fiel às suas tradições.
Uma delas é a “queima das fitas”, a festa mais simbólica dos universitários, que
hoje somam cerca de 20 mil alunos. O evento é sempre em maio, quando os futuros
formandos incendeiam as suas fitas coloridas na escadaria da Sé Nova – fitas
estas que recebem quando são admitidos na universidade, sendo amarelas para os
estudantes de medicina e vermelhas para os de direito. Outra curiosidade local são a capa e a
batina, que mesmo sendo uma indumentária obrigatória apenas nas cerimonias solenes, são
trajados pelos mais conservadores no dia-a-dia, que fazem questão de transitar vestidos
de negro pelo campus e cercanias.
Universidade de Coimbra : entrada |
Rio Mondego |
Biblioteca de Coimbra e seus preciosos livros |
Este rio, de águas límpidas ( é dos menos poluídos da
Europa) é também conhecido como o rio dos poetas e por sua vez serve de palco
para alguns passeios, seja de caiaque ou botinho elétrico. No entanto, é
preciso ter muito cuidado em algumas partes, pois são tão rasas que o barco
pode encalhar. Isto se deve ao assoreamento que, infelizmente compromete a
navegação de embarcações maiores ou com calado. Mas, em nada impede uma
divertida descida para observar as margens e a paisagem que forma o cartão postal da cidade.
O Parque Verde foi inteiramente remodelado e conta com simpáticos restaurantes,
pubs e bares alinhados num amplo deck de madeira, onde a gente senta debaixo de
ombrellones para almoçar ou jantar, degustar uma sangria, uma cerveja gelada ou
um café. Deste lado direito da orla, a vegetação é abundante e sempre sopra uma
brisa suave para amenizar o calor. Os finais de tarde são especialmente
agradáveis, e o cenário muito bonito no por-do -sol. E depois deste espetáculo da natureza, que
pode, em alguns casos, levar às lágrimas os mais sentimentais, só é preciso
levar de volta para casa as boas lembranças de Coimbra.
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