Vendedora de doces circula nas ruas de Cartagena. Cobra 1$ pra posar... |
Desde que li o romance " Do amor e outros demônios", do autor colombiano Gabriel Garcia Márquez, que é ambientado em Cartagena (onde o autor colombiano possui uma bela mansão), me senti instigada a conhecer esta deslumbrante relíquia colonial, fundada em 1533 pelo conquistador espanhol D. Pedro de Heredia .
Graças a um cinturão de 13 quilômetros de muralha, La Heróica - como também é apelidada esta cidade fortificada- resistiu durante séculos a todo tipo de investida inimiga vinda do mar. Mas, além de protegê-la de saques e ataques no passado, também a deixou incólume à onda de violência deflagrada no resto do país nos anos 80. Nenhum cartucho jamais destruiu sequer um naco de suas imponentes construções que datam do século 16.
Como consequência, Cartagena
também não sucumbiu à deflagração arquitetônica: os seus casarões e sobrados, após um longo período de declínio, foram sendo progressivamente adquiridos por famílias de alto
poder aquisitivo. Restaurados com zelo e paixão, hoje não se
compra um imóvel histórico, mesmo caindo aos pedaços, por menos de 3 milhões de
dólares.
Apesar de mínima , Cartagena das
Índias se divide em três bairros distintos: El Centro, onde os cidadãos de sangue azul viviam antigamente e no qual estão edificadas as igrejas principais, museus
e praças; San Diego, mais quieto e particularmente residencial, lugar reservado aos comerciantes abastados
e militares de alta patente; finalmente, o Getsemani , que ficou como reduto dos judeus, africanos, índios e outras etnias que sempre estiveram
presentes no Caribe colombiano.
Cada detalhe arquitetônico é um colírio para os olhos e uma lição de história |
Se as fachadas de Cartagena falassem, provavelmente contariam como, durante séculos, passaram por aqueles portões de madeira maciça toneladas de diamantes, ouro,perolas, e esmeraldas roubadas dos incas e outras civilizações andinas. Histórias de um passado que está impregnado em cada pedra da cidade.
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Hotel Tcherassi , um achado na cidade colonial, com piscina e spa |
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI-7lvIlOs-Nugf_VCNyaugPdAj5Bhir1V5wPOR3IiE-AVgMSjqWev2XAQsVGNcKqohtQt1XlH5IJhmqXesJQ1KSeZFx0bf5JA9_j212i6svRPwclagt3Irj_aUwMQFRAtSy7h2lDCZwk6/s200/hotel+schlerassi+vista+parcial.jpg)
Nem todo mundo conhece, mas caso você quiser se hospedar nele, faça reservas com bastante antecedência. Ele não é barato, mas vale cada tostão. E o serviço é irrepreensível. E seu restaurante, concorrido, merece o aplauso.
A turistada adora passear de charrete pelas calles estreitas de Cartagena |
O jeito mais turístico de
conhecer a cidade é a bordo de uma das charretes puxadas a cavalo, que percorrem o labirinto de ruelas com itinerários repetitivos. Estes passeios são ideais pois
acomodam famílias inteiras e o giro é interessante, embora óbvio. Após serem banidas por um tempo, este meio de transporte - simbólico na história de Cartagena - foi reintroduzido e virou cartão postal da cidade.
Porém, para os mais dispostos, há uma maneira bastante inusitada e original -
e, claro, extremamente eficiente - para esmiuçar cada cantinho: é fazer o tour
de segway, uma locomoção segura e divertida, fácil de manejar e ideal para driblar a falta de tempo. Na
equação custo -benefício, você armazena muito mais conhecimento rodando por uma
hora e meia sobre duas rodas. Digamos que esta maravilhosa bugiganga - que pode ser descrita como uma fusão entre
um scooter e uma patinete , é apropriada para qualquer pessoa com um mínimo de equilíbrio.
Depois de ter uma noção
abrangente da cidade, escolhi os principais monumentos e logradouros para voltar a pé e admirá-los com calma. Sendo
assim, na manhã seguinte, antes mesmo de
sentar para desfrutar o fastuoso café da
manhã servido no pátio interno do hotel, resolvi sair
em busca dos locais armazenados na memória
durante aquele passeio de segway. Eram pouco mais de oito horas quando
comecei a percorrer as ruas ainda semi- desertas, que aos poucos iam sendo ocupadas por cidadãos comuns.
Vendedor de suco de laranja espremido na hora |
Após algumas voltas,
cheguei à fachada barroca do Palácio da Inquisição, na Plaza de Bolivar, uma das principais da
cidade, em torno da qual ficam a
Catedral, o Museu do Ouro e o Banco Central.
Uma estátua de Bolivar em tamanho real, montado em um cavalo empinado,
simboliza a importancia desta praça que, embora pequena, atrai todo tipo de
gente, de músicos a pitoresca palenquera,
mulher que vende frutas ou doces num
tabuleiro e depois circula com ele equilibrado sobre a cabeça.
Botero assina esta escultura exposta na Plaza de San Diego |
Fui dar uma olhada na Plaza de San Diego, onde o
ícone é uma escultura de bronze
gigantesca, de uma mulher desnuda e com proporções nada atléticas, obra de arte assinada
por Botero; continuei a caminhada até a Plaza de los Coches, onde antigamente eram comercializados os escravos
que aportavam dos navios oriundos da África. Hoje, as arcadas abrigam barraquinhas de sucos
frescos e frutas, doces e petiscos. Não havia ninguém
diante da igreja San Pedro Claver, cujas portas só se abrem em determinadas
horas do dia, e as pequenas e curiosas
esculturas de ferro que ornamentam a praça pareciam espectadores fisgados ao chão.
E durante uma hora, me perdi pelas ruelas, e me deixei envolver pela beleza e
reboliço do ambiente, absorvendo em cada passo um pouquinho mais de
conhecimento. Captar os personagens que
ilustram as ruas de Cartagena era também
um dos objetivos. São rostos e feições que mesclam traços descendentes de espanhóis,
índio nativo e africano.
De segway é possível explorar com intimidade cada cantinho da cidade. |
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