quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Tcherassi Hotel & Spa, Cartagena, Colombia

Vendedora de doces circula nas ruas de Cartagena. Cobra 1$ pra posar...


Desde que li o romance  " Do amor e outros demônios", do autor colombiano Gabriel Garcia Márquez, que é  ambientado em Cartagena  (onde o autor colombiano possui uma bela mansão),  me senti instigada a conhecer  esta deslumbrante  relíquia colonial, fundada em 1533 pelo conquistador espanhol  D. Pedro de Heredia . 


Graças a um cinturão de 13 quilômetros de muralha, La Heróica - como também é apelidada esta cidade fortificada-  resistiu  durante séculos a todo tipo de investida inimiga vinda do mar. Mas, além de protegê-la de saques  e ataques no passado,  também a deixou incólume à onda de violência deflagrada no resto do país nos anos 80. Nenhum cartucho  jamais destruiu sequer um naco de suas imponentes construções que datam do século 16.


Como consequência, Cartagena também não  sucumbiu à deflagração arquitetônica: os seus casarões e sobrados, após um longo período de declínio,  foram sendo progressivamente adquiridos por famílias de alto poder aquisitivo. Restaurados com zelo e paixão, hoje não se compra um imóvel histórico, mesmo caindo aos pedaços, por menos de 3 milhões de dólares. 

Apesar de mínima , Cartagena das Índias se divide em três bairros distintos:  El Centro,  onde os cidadãos de sangue azul viviam antigamente e no qual  estão edificadas as igrejas principais, museus e praças; San Diego,  mais quieto e particularmente residencial,  lugar reservado aos comerciantes abastados  e militares de alta patente; finalmente, o Getsemani , que ficou  como reduto dos judeus, africanos,  índios e outras etnias que sempre estiveram presentes no  Caribe colombiano. 

Cada detalhe arquitetônico é um colírio para os olhos e uma lição de história

Se as fachadas de Cartagena falassem, provavelmente contariam como, durante séculos, passaram por aqueles portões de madeira maciça toneladas de  diamantes, ouro,perolas,  e esmeraldas roubadas dos incas e outras civilizações andinas. Histórias de um passado que está impregnado em cada pedra da cidade.




Se tivesse que descrever a atmosfera de Cartagena, diria que é um misto de Paraty com Havana.


Hotel Tcherassi , um achado na cidade colonial, com piscina e spa


Meu achado foi este pequeno hotel butique de apenas 7 suítes fantásticas, chamado Tcherassi Hotel & Spa, incrustado num destes antigos casarões da era colonial. Decorado com muito gosto, é muito bem situado - são  apenas 5 minutos a pé da Plaza Santo Domingo. 



Nem todo mundo conhece, mas caso você quiser se hospedar nele, faça reservas com bastante antecedência. Ele não é barato, mas vale cada tostão. E o serviço é irrepreensível. E seu restaurante, concorrido,  merece o aplauso.

A turistada adora passear de charrete pelas calles estreitas de Cartagena

Há duas, ou melhor, três maneiras de se explorar  Cartagena.  A pé, se embrenhando  pela cidade nas ruelas estreitas,  de preferência sem rumo, sem mapa e  sem risco de se perder; tenha como referência a muralha que circunda a cidade e o endereço de seu hotel; também não precisa temer pela sua segurança, mesmo sendo mulher e andando sozinha com máquina a tiracolo. No máximo, você será abordado por um dos ambulantes que perambulam pelas calles vendendo artesanato, bijuterias, ou pelo sombrerero  que tenta  empurrar um daqueles chapéus estilo panamá  "autêntico"  por 40 U$ - mas pelo qual você acaba pagando a metade, nem que seja para se livrar da chatice do indivíduo. Em tempo: tenha sempre dinheiro trocado, levando em conta que a moeda americana é aceita com prazer  nos estabelecimentos , e que o câmbio paralelo, bem elástico, varia de local a local.


O jeito mais turístico de conhecer a cidade é  a bordo de uma das charretes puxadas a cavalo, que percorrem o labirinto de ruelas  com itinerários  repetitivos. Estes passeios são ideais pois acomodam famílias inteiras e o giro é interessante, embora óbvio.  Após serem banidas por um tempo, este meio de transporte -  simbólico na história de Cartagena - foi reintroduzido  e virou cartão postal da cidade.

 Porém, para os mais dispostos,  há uma maneira bastante inusitada e original - e, claro, extremamente eficiente - para esmiuçar cada cantinho: é fazer o tour de segway, uma locomoção segura e divertida, fácil de manejar e ideal para driblar a falta de tempo. Na equação custo -benefício, você armazena muito mais conhecimento rodando por uma hora e meia sobre duas rodas. Digamos que esta maravilhosa bugiganga  - que pode ser descrita como uma fusão entre um scooter e uma patinete , é apropriada para qualquer pessoa com um mínimo de equilíbrio. 


 Depois de ter uma noção abrangente da cidade, escolhi os principais monumentos e logradouros para  voltar a pé e admirá-los com calma. Sendo assim,  na manhã seguinte, antes mesmo de sentar  para desfrutar o fastuoso café da manhã servido no pátio interno do  hotel,  resolvi sair em busca dos locais armazenados na memória  durante aquele passeio de segway. Eram pouco mais de oito horas quando comecei a percorrer as ruas ainda semi- desertas, que aos poucos  iam sendo ocupadas  por cidadãos comuns.

Vendedor de suco de laranja espremido na hora

 Após algumas voltas, cheguei à fachada barroca do Palácio da Inquisição, na Plaza  de Bolivar, uma das principais da cidade,  em torno da qual ficam a Catedral, o Museu do Ouro e o Banco Central.  Uma estátua de Bolivar em tamanho real, montado em um cavalo empinado, simboliza a importancia desta praça que, embora pequena, atrai todo tipo de gente, de músicos a pitoresca palenquera, mulher que vende frutas ou doces  num tabuleiro e depois circula com ele equilibrado sobre a cabeça. 

Botero assina esta escultura exposta na Plaza de San Diego
O ponto de maior interesse nesta praça é este palácio que  hoje  abriga o Museu da Inquisição, no qual estão  expostos artefatos nada  afáveis  outrora utilizados para extorquir confissões das vítimas acusadas de bruxaria ou heresia. Embora contabilizam "apenas" 700 condenações, Cartagena  foi  um palco importante para a realização desta  incumbência : em 1610 se tornou a sede da Inquisição espanhola na América latina. 

Fui dar uma olhada na Plaza de San Diego, onde o ícone é uma  escultura  de bronze  gigantesca,  de uma  mulher desnuda  e com proporções nada atléticas, obra de arte assinada por Botero; continuei a caminhada até a Plaza de los Coches,  onde antigamente eram comercializados os escravos que aportavam dos navios oriundos da África.  Hoje, as arcadas abrigam barraquinhas de sucos frescos e frutas, doces e petiscos.   Não havia  ninguém  diante da igreja San Pedro Claver,   cujas portas só se abrem em determinadas horas do dia,  e as pequenas e curiosas esculturas de ferro que ornamentam a praça pareciam espectadores fisgados ao chão. E durante uma hora, me perdi pelas ruelas, e me deixei envolver pela beleza e reboliço do ambiente, absorvendo em cada passo um pouquinho mais de conhecimento. Captar  os personagens que ilustram as ruas de Cartagena  era também um dos objetivos. São rostos e feições que mesclam traços descendentes de espanhóis, índio nativo e africano.

De segway é possível explorar com intimidade cada cantinho da cidade.


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