terça-feira, 26 de julho de 2016

Solar da Ponte, Tiradentes, Brasil


 
Centro Histórico no anoitecer

Tutu, couve, pastel... Ou torresmo, linguiça, couve e goiabada cascão. Não tem como negar: estes ingredientes soam irremediável (e deliciosamente) mineiros, porém estão longe de serem os únicos inseridos às receitas criadas pelos renomados Chefs brasileiros e estrangeiros que irão participar do próximo Festival Internacional de Cultura e Gastronomia, a ser realizado este ano de 26 de agosto a 4 de setembro. Save the date!

Costeleta de porco com tutu e linguiça...




  Uma das relíquias coloniais mais bonitas de Minas Gerais, Tiradentes sedia este importante evento gastronômico desde 1998 e a cada ano arremata mais louvores – e adeptos.  Mais conhecido como Fest Gourmet de Tiradentes, é um dos mais importantes no Brasil e atrai acima de 40 mil visitantes para a idílica cidade histórica mineira.

Este ano, o festival conta com a participação dos chefs Onildo Rocha, do mineiro Leo Paixão, da chef Morena Leite do restaurante paulista Capim Santo, do carioca Alberto Landgraf e do gaúcho Carlos Kristensen, que pilota o fogão do Hashi.

Nas cidades cenográficas montadas na rodoviária e no Largo das Forras, praça principal de Tiradentes, os gourmês de carteirinha poderão se deleitar com cursos, demonstrações  e workshops culinários. Os dois finais de semana do festival de Tiradentes prometem deixar todo mundo com um gostinho de "quero mais".
Igreja da Matriz, uma relíquia digna de sua reputação

Pode ser que ainda tenha sorte de encontrar algum lugar pra se hospedar. Já percorri várias pousadas em Tiradentes, mas meu fraco sempre foi o Solar da Ponte, estrategicamente localizado na entrada do centro histórico, a poucos passos do Largo da Forra. Você está em cheio nos festejos porém nestes eventos lembre-se que fica tudo intransitável. No entanto, se conseguir se hospedar lá, peça um quarto de fundos pra não sofrer com barulho. 
Pousada Solar da Ponte, perto de tudo
Praça das Mercês









Este lindo casarão abriga esta pousada há décadas, faz parte do Roteiros de Charme e esbanja tradição e atmosfera tipicamente colonial. O chá das 5 é uma instituição, com direito a micos leão-dourado pra acompanhar o pão de queijo e os bolinhos confeitados. 

 Tiradentes foi construída na encosta de uma planície ao pé da serra de São José, o que torna a paisagem em volta o cenário propício para atividades como caminhadas, cavalgadas e mountain bike. Mas o ideal é percorrer  o centro  a pé, explorando os lugares de interesse histórico onde já não é mais permitido entrar com carro, ou de charrete e até mesmo a cavalo. Batizada como São José do Rio das Mortes assim que foi descoberto ouro em 1702,  a vila teve o nome trocado para o atual somente com a Proclamação da República em 1889, homenageando assim aquele que foi um de seus mais ilustres moradores, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, mártir da Inconfidência.
Micos são assíduos durante o chá das 5 no Solar 

As fachadas dos sobrados são mantidas exatamente como eram há duzentos anos atrás, mas por dentro  muitas delas foram inteiramente remodeladas. Felizmente, tudo que surge ou é modernizado  obedece a um rígido padrão arquitetônico local, afim de preservar os traços originais. O progresso também atingiu toda a infraestrutura turística e hoje Tiradentes conta com dezenas de pousadas e ampliou o leque de gastronomia para abranger várias bandeiras.  Além do típico cardápio mineiro,  composto de tutu de feijão e carne de porco, e muitas vezes servido a quilo,  é possível degustar especialidades francesas, italianas e até japonesas em restaurantes  especializados.

Como uma visita a Tiradentes é uma lição de história, vale a pena começar a percorrer a cidade observando cada detalhe das construções antigas. Foi durante o auge do período de mineração que os moradores construíram igrejas e capelas, colocando nelas o que havia de mais valioso nas artes barroca e rococó. A igreja Matriz de Santo Antonio é um dos monumentos mais expressivos da época , com a sua fachada que leva a assinatura do mestre Aleijadinho;  do lado de fora, encontra-se um relógio de sol datado de 1785, símbolo da cidade. As lâmpadas de prata, a balaustrada em madeira e a obra entalhada no altar-mor, assim como alguns dos altares laterais, datam de antes de 1750.
A igreja da Matriz ao fundo decora o cenário



Tiradentes conserva um movimento típico de cidade de interior na sua praça principal, que é o Largo das Forras. Este largo deve o nome ao fato de ser uma das reminiscências da época em que lá se abrigavam as negras alforriadas, mas  hoje é o ponto de encontro tanto para os moradores como para os visitantes e vira palco para comícios, shows, comemorações e festas. 

 Quem acha que não há vida noturna em Tiradentes se impressiona com a animação que toma conta da cidade nos finais de semana. Embora o povo local costuma se retirar após o ressonar do carrilhão das nove, a maioria dos bares e restaurantes fica aberta e oferecem atrações como música ao vivo. 
 
Tipico restaurante

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Hotel Borg, Reykjavik, Islândia



 
O lago Tjörn é um reduto de cisnes e patos. Fica bem atrás da Prefeitura. 
  
Menos de três horas de vôo separam a capital da Islândia de Londres ou Paris. Reykjavík, cujo nome significa baía das fumaças, tem uma natureza exuberante: geysers, sol da meia noite e atrações  como uma lagoa azul com águas a 38 graus. A terra da famosa cantora Bjorg é também a cidade menos poluída do mundo e o país onde se publica mais livros per capita.

casas típicas em volta do lago

Esta cidade não figura nem entre as 51 listadas na seção de meteorologia dos grandes jornais nacionais. Para conseguir pronunciá-la, dá até nó na língua. Mas não pense que é um elo perdido ou um lugar no meio do nada. A Islândia está entre as nações que possuem as menores densidades demográficas, com apenas 278 mil habitantes ocupando 103 mil quilômetros quadrados - ou seja, menos gente do que em muitos bairros brasileiros. 
Famosa catedral Hallgrimskirkja

No verão, vai à Islândia quem quer ver o sol da meia-noite. Em janeiro, chega a outra turma que prefere assistir à aurora boreal, um fenômeno meio fantasmagórico também conhecido como as luzes do norte – ondas de luzes verdes e roxas tingindo o céu estrelado. Mas o clima é sempre incerto, e a partir de outubro os dias vão  encurtando até quando apenas uma tímida luminosidade consegue penetrar pela densidão das nuvens do rigoroso inverno.

À beira do Atlântico azulado, rodeada por montanhas, Reykjavik é composta de centenas de casinhas multicoloridas, entre as quais despontam algumas torres de igreja. Um charme só. Atrás da Prefeitura, uma das poucas edificações modernas,  o lago Tjörn é um reduto de cisnes e patos que saem da água para vir comer na palma da mão de lindas criancinhas louras . O cenário parece mesmo uma pintura. Nem é preciso alugar carro para se locomover dentro da cidade, ainda mais se estiver hospedado num hotel central, como o tradicional Borg. Esta construção retro-chique é o endereço mais tradicional da cidade. 
Hotel Borg é um ícone, esbanja luxo e está muito bem localizado ao alcance de atrações como a Catedral e comércio

Andando a pé, mapa na mão, é fácil se achar. Ao mesmo tempo que parece uma vila de interior, com poucas pessoas transitando nas ruas, Reykjavík revela aos poucos porque já foi eleita a capital cultural do continente europeu. Existem inúmeros museus, galerias de arte e teatros. Esculturas estão por toda parte, expressões modernas e clássicas de artistas nativos. Até a famosa cantora islandesa Björk já teve o seu busto esculpido. Praças públicas se transformam em palcos para shows e concertos durante o verão, e os eventos culturais são tantos que ocupam páginas inteiras dos guias turísticos. 

Vista panorâmica de Reykjavik

A Islândia tem uns costumes curiosos. Um deles é que todo cartão de crédito vem estampado com o rosto do freguês. Numa terra onde se acha uma pessoa na lista telefônica pelo primeiro nome ao invés do sobrenome , em ordem alfabética, já viu que anonimato é coisa de terceiro mundo.  Mas não é bem isso, não.  Na Islândia, onde predomina o sistema de patronímico ( que é o sobrenome derivado do pai) , só uma minoria da população tem sobrenome. Ao invés, acopla-se a sílaba “son”  ao nome do pai para o filho homem e  “ dóttir” para a filha mulher. Funciona assim : Bjarni Sígurdson, é filho do Sígurd. Fácil, né ? E todo mundo só se interpela pelo primeiro nome, sem cerimônias.





Contraste entre estilos arquitetônicos
Mas a verdade é que diante de tantos atributos, Reykjavik se tornou um destino cobiçado, e as operadoras que embarcam turistas de todo lugar da Europa estão otimizando os pacotes. Tanto para antes da alta estação, como maio, e para depois, como setembro e outubro. Há quem esteja fazendo planos para ir passar o Natal e Ano Novo lá. Maluquice ? Nem tanto : além dos islandeses festejarem como poucos estas datas, com uma magnífica decoração natalina pela cidade e um arsenal de fogos de artifício para a noite do Réveillon, as agências turísticas locais criam atrativos condizentes com alguns metros de neve. A nível de aventura, é claro. Portanto, quem gosta de um passeio de snowmobile, esse é o lugar apropriado.
paisagem rural
À mercê das intempéries, enclausurados em suas casas ou em ambientes fechados a maior parte do ano, não é de surpreender que os habitantes da Islândia – cuja totalidade da população é alfabetizada - leiam vorazmente.  Como o idioma islandês sofreu pouquíssimas modificações desde os tempos dos Vikings, eles conseguem até ler as Sagas (compêndio de lendas e folclore local, típico da literatura islandesa) redigidas no século XIII.  E´ como se a gente lesse as cartas do Pero Vaz de Caminha no original com a desenvoltura de quem está com o jornal do dia na mão... Nesta nação a avidez literária é tanta que se publica mais livros per capita do que em qualquer outro lugar no mundo. A Islândia também é o berço de campeões mundiais de xadrez... e de muitos bebês: a taxa de natalidade está entre as mais elevadas da Europa. Também,  né, você faria o quê se ficasse olhando para fora da janela e vendo escuridão durante 20 horas por dia, meses a fio ?
Famosa Lagoa Azul : águas a 38º C

Reykjavik, cujo nome significa baía das fumaças, deve seu nome às fontes de água quente que jorram por todo o país.  Além de serem atrativas para o banho, os cidadãos utilizam esta energia geotérmica e não poluente para aquecer e iluminar as suas casas.  Ou seja, estamos falando da capital menos poluída do planeta. E se da água do chuveiro do hotel emanar um odor sulfúreo, não estranhe. Dizem que faz bem à pele. Afinal, o terreno é vulcânico. E ainda hoje, vulcanicamente falando, esta terra é um dos lugares mais ativos do mundo, porque a Islândia é ainda um bebê. Faz pouco mais de 20 milhões de anos que vulcões irromperam ao norte do Atlântico e espalharam a lava que serviria de fundação para a ilha. A população está permanentemente ameaçada por vulcões, que podem entornar a sua caldeira a qualquer momento. 

Os islandeses têm paixão por cavalos

 Assim como os Vikings que desembarcaram há quase mil anos atrás, os habitantes se banham nas águas sulfúreas com a mesma facilidade que o brasileiro mergulha no mar. A mais reputada é a Lagoa Azul, localizada na península de Reykjanes, a cerca de 32 km da capital e vinte minutos do aeroporto. A água a 38º C, rica em minerais e salina devido à proximidade do mar, é reputada pelos seus efeitos curativos nas doenças de pele e no embelezamento em geral.  O azul do nome da lagoa não foi dado em vão: a cor é de esmeralda com uma luminosidade que estonteia de longe.

Gnomos representam uma cultura milenar




A palavra “geysir” ( gaiser, em português) foi inventada na ilha e descreve não só as fontes de água quente em geral como todos os jatos de água fervendo. Dirigindo-se em direção sul, a pouco mais de uma hora de Reykjavík, você pode  ver estes fenômenos naturais em plena exibição.  Haukadalur, onde ficam os gaisers, é um dos lugares mais freqüentados pelos turistas, que querem ver de perto, mas muito perto mesmo, o célebre Grande Geysir.
Passeios a cavalo é uma experiência única

Com tantas opções para ver e fazer na Islândia, principalmente no que diz respeito ao turismo-aventura ( leia-se de caminhadas a cavalgadas, passeios off-road, ver baleias e fazer circuitos de avião pela ilha) o orçamento pode estourar. E’ que nada lá é barato. Aliás, as cifras são de aterrorizar. Pense no preço de alguma coisa, e triplique. Basta andar por uma das ruas principais do centro, a Skólavördustígur, que é cheia de lojas de antiguidades e artefatos locais. Mas olhar não custa nada.  Mesmo sendo um lugar caro, é agradável badalar pela rua comercial , a Laugavegur.  

Bacalhau no famoso mercado Kolaporfid

Mas há uma atração ( mais em conta) que só funciona final de semana: é o Kolaporfid, um “mercado de pulgas” dentro de um enorme galpão, que fica no cais do porto de Reykjavík. Vale a pena entrar só para conhecer e tentar ver de perto os famosos testículos de carneiro que os islandeses consideram um prato de resistência. Caso não os veja, outros produtos típicos da ilha ficam à venda nas prateleiras das barracas – filé de tubarão seco ( hákarl)  , arengue em conserva e bacalhau.   


Antes de contorcer a língua para aprender a pronunciar nem que seja o básico da polidez, como bom dia ou obrigado , é bom saber que no idioma islandês não existe uma palavra única para um mero  “por favor”. Então, orgulhe-se se conseguir apenas decorar o nome da capital, em si só uma proparoxítona complicada. Mas, caso for convidado para ir comer na casa de algum cidadão islandês, é de bom tom gravar pelo menos uma expressão que revela as praxes mais enraizadas na cultura nórdica – a de ser grato pela comida recebida. Takk fyrir mig – obrigado pela refeição.
Fala-se islandês em toda a ilha, uma língua nórdica gutural que conserva ainda toda a pureza da linguagem usada pelos seus ancestrais, os Viking.  Felizmente quase todo mundo fala inglês. Dê-se por feliz se, ao final da viagem, estiver pronunciando Reykjavik como os habitantes locais.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Hotel Baja Montanita , Montanita, Ecuador

Pescadores em volta do resultado do dia. Imagem recorrente todas as manhãs na praia de Montanita.


A cerca de 180 quilômetros de Guayaquil, no Equador, se encontra uma pequena comunidade que mescla um ambiente de surfe com neo-hippies. Quando resolvi passar uns dias por lá , a caminho de um cruzeiro pelas Ilhas Galápagos, sabia que aquele destino era uma incógnita. Pra variar, isto me soava atraente...A América Central tem ainda muito a ser explorado. Pequenas comunidades como Montanita são idílicos, apesar das (inúmeras) falhas na infraestrutura turística. Porém, quem sabe se é porisso mesmo que mantêm seu charme, o pitoresco, a atmosfera genuína...

 Todos os dias, pela manhã, saíamos para caminhar durante horas para observar o movimento dos pescadores recém-chegados na praia, as dezenas de curiosos que sempre se aconchegam junto às redes, quer seja pra fotografar ou até mesmo conseguir algum peixe.

Como disse, muitas vezes há falhas na infra. No caso, o hotel Baja Montanita lá não era estas coisas do outro mundo, faltava sal e charme. Mas, a acomodação era confortável, nada extraordinária, e não teve nada que me deixasse com saudades. Pena...No entanto, a localização era perfeita, pé na areia, bem no final de uma praia quilométrica, e estrategicamente afastado da bagunça da vila. Hoje, revendo o site, vejo que fizeram melhorias significativas. O que é bom, pois o lugar merece uma visita. Por outro lado, todas as outras pousadas que visitei eram bastante rústicas, pra não dizer básicas, o que agrada aos adeptos do surfe que vêm mesmo pegar onda.

 E´ muito difícil colocar um rótulo  em Montanita, pois apesar de atrair uma legião de surfistas, a vila se desenvolveu lentamente e meio desordenadamente, deixando apenas alguns vestígios das antigas casitas de pescadores e sem se preocupar em substituí-las por estabelecimentos de alto luxo. 

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Cenas da vida diária no centrinho do vilarejo 


Em alguns trechos da praia, considerada como uma das mais bonitas da costa sul, há muitos hostels e alguns hotéis um pouco mais graduados,  construídos na última década para atender ao crescente fluxo de turistas. 

  Como é notória a ausência de mansões de veraneio, conclui-se que Montanita não atrai o jet-set  e nem vai se transformar em reduto de gente sofisticada.  No entanto,  o clima rústico-descolado do lugar tem seu carisma:  tudo é muito colorido, as construções são bem simpáticas, os personagens locais são pitorescos, não passa carro e há muito movimento de pedestres  no  centrinho, onde proliferam lojinhas com apetrechos de surfe e surfwear em geral.

   Barraquinhas povoam a areia próximo ao burburinho, e há dezenas de  restaurantes , desde churrascarias  a fast food. A atmosfera é animada dia e noite por uma população flutuante jovem e despojada.  


Extensa faixa de areia, água morna e pouca gente no canto da praia onde fica localizado o Baja Montanita, a última construção bem no final, encostada no morro. A praia em frente é praticamente isolado.
Por-do-sol: quem resiste a um abraço diante deste visual...

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Hotel Pousada Canto das Águas, Chapada Diamantina, Bahia

Lençois: a exuberância da Bahia sem mar

Será que é possível imaginar a Bahia com alguma outra coisa sem ser praia? E´ muito difícil fazer a (dis)associação. Porém, acredite, este estado do Nordeste tem muito mais do que areia e mar para ofertar de bandeja aos seus visitantes. A história nos revelou uma Bahia onde se mesclaram todo tipo de culturas e, ao mesmo tempo, também sempre enfatizou a magia de suas praias imaculadas.

 Por isso, pouca gente tem noção de que suas montanhas, morros, canions, altiplanos, chapadões e cachoeiras são dádivas naturais de seu ecosistema  e podem impressionar tanto quanto ( ou até mais)  do que a sua costa delineada de branco.

Uma pequena cidade se destaca no cenário selvagem e preservado do centro do estado baiano: é Lençóis, encravada no coração do Parque Nacional da Chapada Diamantina,.antigamente uma importante zona de extração de diamantes.



  Embora não seja um destino incomum, Lençóis pode ser rotulado como uma espécie de santuário para os ecoturistas, e a opção ideal para o viajante mais aventureiro cujo objetivo é tomar um “chá de natureza”, ou seja, absorver todo o luxo e a riqueza do meio ambiente. E´que em volta de Lençóis, tudo é magnífico, único e – felizmente! – preservado.




A vista sobre Lençois de quem chega após alguma  travessia pela Chapada Diamantina


Algumas horas do dia ficam assim, sem ninguém nas ruas

No domingo, o comércio fecha as portas e algumas partes da cidade ficam desertas. E` o momento ideal para percorrer as ruas lentamente, atento aos detalhes arquitetônicos dos casarões coloniais. Vale sentar num boteco de esquina, ou numa praça, e observar o ritmo pacato desta antiga vila de garimpeiros. Hoje, vale garimpar nas lojinhas de artesanato, onde quem gosta de arte popular vai se deliciar. 

Lembrando que Lençóis era uma importante zona de extração de diamantes e portanto vivia cheia de garimpeiros, não deixe de experimentar um dos pratos típicos do garimpo, o godó de banana,  como este ensopado de carne com banana verde. 

Passar uns dois dias perambulando pela cidade é uma boa pedida. Nós ficamos no Canto das Águas,estabelecimento que se orgulha de ser o primeiro hotel sustentável no Brasil. Como ele é estrategicamente localizado, mesmo durante os eventos mais concorridos você consegue dormir apenas com o agradável borbulhar das águas do rio que beira esta construção neocolonial.


Ao mesmo tempo, está a passos do centrinho. As acomodações  servem como pouso confortável após uma caminhada. Em tempo: deixe-se paparicar com uma massagem, realizada ao ar livre, debaixo de um toldo,  num sossegado jardim. 
A tranquilidade do Canto das Águas, próximo ao barulhinho das corredeiras.

No entanto, só a pé é que dá para explorar  os arredores da Chapada e alguns trekkings mais longos, intitulados  travessias, podem levar até três dias. Para os andarilhos, um sonho de viagem. Mas, mesmo quem não é adepto a extensas caminhadas pode curtir a atmosfera desta autentica vila colonial, com belos casarões de época, e que transborda em hospitalidade e boa gastronomia graças a bons hotéis e cardápios que vão de slow food à thai. Tem mais: o seu calendário ostenta  eventos o ano inteiro, entre eles as famosas festas juninas em junho e o Festival de Lençóis, em setembro.


A luminosidade mágica do inverno nas ruas de Lençóis.

                                                                 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Hotel Tartini, Pirán, Eslovenia

O delicioso cenário que se estende a perder de vista sobre Piran e o mar Adriático

Caso estiver zanzando na Eslovênia, não deixe de incluir o charmoso porto de Piran no seu itinerário. Você vai se deparar com uma cidadezinha discreta, cênica e, posso acrescentar, romântica. Pra completar, vai se dar conta de que é um dos segredos mais bem guardados dos países Balcãs,  cujas fronteiras marítimas são a Itália e a Croácia e as terrestres ainda incluem a Áustria e a Hungria. Uma curiosidade: neste pequeno país com apenas 2 milhões de habitantes ( duas vezes o número de pessoas que lotaram a praia de Copacabana na visita do Papa), você consegue se comunicar em 5 idiomas - o local, alemão, italiano, inglês, croata...Prático,né?

Lugares apropriados para nadar

Embora minúsculo, Piran recebe turistas de várias cidades próximas, principalmente da  capital Ljubljana, a pouco mais de 70 quilômetros de distancia. Como qualquer cidade costeira, Piran- cujo nome, em grego, deriva da palavra fogo – tem  um típico clima mediterrâneo, mas que é considerado como o melhor do país,  pois no verão as temperaturas encostam nos 30º C.

Praça principal de Pirán



 Nesta região do Adriático, os ventos são característicos: o maestral, do oeste e moderado,  o forte  jugo do sudoeste e  o burja do nordeste, mais forte ainda e que é o chamariz de surfistas oriundos  do resto da Europa. Praticamente  incólume à invasão de turistas em comboio ( está proibido o acesso a ônibus), o centro histórico mantém os ares de uma vila de pescadores e uma população abaixo de cinco mil pessoas. Este número só tende a diminuir, pois não há espaço para se expandir na península. Suas casas antigas e sobrados , bem compactados, têm sido reformados  e preservados dentro dos conceitos arquitetônicos que regem a cidade.


O mar praticamente encosta ao longo do cais que emoldura toda a rua principal , e quebra marolas nas muradas  de pedras que protegem a orla. As águas são frescas  e translúcidas,  um convite para os banhistas que se aboletam  de várias maneiras nas “praias” da “promenade” , ou seja, os calçadões de Punta e Madona, na ponta da península de Piran.  A marina é localizada um pouco  mais ao sul e renomada  por ser uma dos mais abrigadas da Eslovênia, graças a um poderoso quebra-mar  próximo aos faróis  e um ancoradouro em forma de ferradura encravado praticamente dentro da praça principal da cidadezinha.  Em dias de maré de sigízia,  no pico da alta, os barcos de pescadores – que são os que ocupam as posições estratégicas  mais perto do porto - ficam praticamente rentes com a orla por onde trafegam os poucos carros autorizados a entrar na cidade. Como regra, os pedestres ficam livres para circular mais a vontade. Apenas os scooters, alugados para turistas, interrompem a rotina pacata.Mas, é a melhor forma de se locomover e explorar os arredores.


Vale a pena percorrer lentamente a cidade de Piran, quer pela atmosfera  descontraída e também para observar as marcas que a história deixou impregnadas  em suas pedras seculares ao longo dos tempo.  Pouco se sabe de fato sobre a  sua origem, que permanece envolta em misteriosas teorias.  Especula-se que Piran, como cidade costeira fortificada, tenha sido habitada a partir do século 5.  Mas, as fortificações de Punta foram construídas no século 7 e indubitavelmente o terracota de suas fachadas são herança de uma era Veneziana.

A praça principal atrai visitantes a qualquer hora do dia e da noite.

E´ uma lição de História passar o dia em Piran, visitando seus museus ( há um interessante Museu Marítimo ao pé do porto) ou  apenas vagando  - e se esgueirando – pelo labirinto de  vielas  estreitas, escadarias e ladeiras sinuosas, adivinhando o rumo das que desembocam em um pátio arejado, diante  de uma igreja, ou de uma barraquinha de frutas e verduras; ou ainda descobrir as que levam até o calçadão em Madona, onde os banhistas se espreguiçam em poltronas para tomar sol, e também sentam para almoçar nos restaurantes a beira-mar.

Tartini , a praça mais concorrida do vilarejo

 Porém, após alguns passos, é fácil notar que existem muitos becos que não dão em lugar algum.  Certas ruelas são tão apertadinhas que mal deixam  penetrar os raios de luz. E´ uma excursão atemporal, a começar pela praça mais badalada, Tartinijev trg, ou Tartini Square, para quem não consegue pronunciar esta palavra no idioma esloveno.

Um passeio a pé até o castelo lá na colina vale a pena, pois a vista é fenomenal...

ruelas estreitas no coração de Piran


 E´ nesta praça, limpa, clara e atraente que pulsa o coração de Piran, lá onde o povo se reúne desde  o século 13, e desde a época  em que era o palco do mercado, em volta do qual todas as instituições municipais foram erguidas, como a Prefeitura e o Tribunal, além de residências importantes.  Curiosamente,  este mesmo local onde se ergue  a estátua do homem que deu nome à praça , o violonista Giuseppe Tartini, costumava ser  um ancoradouro para os barcos de pescadores.

Vista do nosso quartinho sobre o mar, o porto e barcos. Nada mal, né?




Foi também ali que nos hospedamos, num hotel simples, que eu tinha achado em uma das revistas de turismo, e reservei pelo site. Chama-se Hotel Tartini. Embora não ostentasse muitas estrelas, a localização era perfeita, bem no coração da praça principal. Hoje em dia, vasculhando o site, acho que já existe um ou outro com um pouco mais de luxo. Mas, como a gente praticamente só ia pro quarto pra dormir, e nem televisão via, foi muito bom. E, tenho que acrescentar que a vista do nosso quartinho era de doer de bonito, sobre o porto e barcos de pescadores...


Em volta da praça temos de tudo: barzinhos, hotel, farmácia, chocolateria, restaurantes e sorveteria. As mesinhas protegidas por ombrellones garantem sombra e um pouco de brisa fresca aos turistas que se extasiam diante do cenário bucólico de Piran. Desde as primeiras horas da manhã até altas horas da noite, bebericando um café ou uma taça de vinho,  observam o vai-e-vem e tudo o que se passa em volta do marco mais notório da cidade. Nada perturba o burburinho dos visitantes, apenas que, de hora em hora, de meia em meia, de quarto em quarto, das 6 da manhã às onze da noite, os sinos da igreja de São Jorge , que data do século 12,  não apenas tocam como dão aquele toque peculiar a um portinho muito especial. Que é para ninguém se perder na cadência de Piran. 

Na promenade, ao lado do mar, muitos restaurantes e barzinhos atraem os turistas