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As Torres del Paine, ícone do Parque Nacional, podem ser vistas de muitos ângulos. Guanacos fazem parte do belo cenário. |
Se você é do tipo que preza a civilização e só gosta de
viajar para lugares onde tem uma farmácia no raio de duzentos metros, esquece:
vire a página e escolha outra reportagem
para ler. Mas se você é daquelas pessoas que fica entusiasmado com uma
programação de viagem que inclui pelo menos uma troca de avião, algumas escalas
e muito chão de terra batida para chegar até o ponto final, então a Patagônia
chilena pode ser o destino de suas próximas férias.
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Salto Chico, atração próxima ao Hotel Explora |
Porque longe é. Longe
mesmo. Quando digo longe, é porque é preciso voar ( três horas e meia) até
Punta Arenas, no extremo sul do país. No aeroporto da capital regional,
embarca-se numa van que vai
prosseguir rumo ao norte, em direção à região de Magalhães. A partir daí, a
recomendação é encarar pacientemente os 420 quilômetros (leia-se 6 horas chacoalhando, muita água,
chocolates e resignação) de estrada semi-asfaltada que separam esta cidade do
Parque Nacional Torres del Paine, localizado entre o maciço da Cordilheira dos
Andes e a estepe patagônia. Ou, segundo a opinião de certos passageiros, a
localização exata fica perto do fim do mundo onde o vento faz a curva.
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Selvagens, os guanacos são presença constante |
Para quem não sabe, o Parque Nacional Torres del Paine é um
dos mais importantes do mundo. Em suas áreas protegidas,
algumas ainda intocadas pelo homem, encontram-se glaciares, florestas, quedas
d’água e lagos cercados pelas mais belas paisagens que se pode imaginar. Além
disso, possui uma fauna austral peculiar, formada por guanacos ( da família dos
llamas), pumas, condores e centenas de espécies de aves. Criado em 1959 e tombado pela UNESCO como
reserva da biosfera, ele tem 242 mil
hectares e altitudes que oscilam entre 50 e 3050 metros.
Impressionante e excepcional vista das amplas acomodações do Hotel Explora |
O seu nome tem origem
nas impressionantes torres, as Torres
del Paine, três imponentes monólitos de granito com uma altura que atinge quase
3 mil metros. Uma atração irresistível para os alpinistas mais experientes do
planeta , que vêm enfrentar o desafio de escalar estes lisos paredões num
fôlego só : sobe a primeira, desce; sobe a segunda, desce; sobe a terceira...
Aos mortais comuns ( acostumados a fazer este sobe-e-desce em elevadores),
também denominados como turistas sem nenhuma outra pretensão que a de ver as
Torres de “perto”, resta o consolo de
galgar os 8 quilômetros de trilha morro acima para chegar apenas à base da
montanha.
Na Patagônia, você se dá conta que o vento, se bobear, leva ! Constante, forte ou ameno, e principalmente nos meses
de novembro a abril ; este costuma disparar a sua fúria (leia-se rajadas de até 140
km/hora ) mesmo em dias ensolarados, levantando ondas de até três metros de
altura em lagos de águas pacatas. Se levanta ondas a três metros, imagine só o
que faz com quem está de pé. Acertou : na melhor das hipóteses, você cai
sentada. Como na Patagônia tudo
é imprevisível, ninguém prevê nada. Numa mesma semana, para não dizer num dia
só, é comum ter que conviver com todas
as situações climáticas: sol forte,
chuva, nevasca, nevoeiro... e vento, naturalmente. Portanto, na hora de fazer a
mala, coloque de tudo um pouco e não estranhe o inchaço de sua bagagem.
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Hotel Explora, renovado, oferece um pacote all inclusive , completo e luxuoso |
O parque precisa ser explorado. E nada mais apropriado do que caminhar, cavalgar e percorrer trilhas em
florestas, beirando lagos e apreciando a beleza da natureza ao seu redor. Um
dos hotéis mais capacitado para organizar os roteiros é o Explora, um
estabelecimento estrelado que merece o sua reputação. Encravado em pleno Salto
Chico, um dos pontos mais privilegiados do Parque com vistas panorâmicas para
os picos e geleiras, este hotel propicia aos hóspedes um farto leque de
excursões para quem busca um contato íntimo com a região.
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Suite ampla e confortável, com todas as amenidades |
A diferença do
Explora é a presença de um time
exclusivo de guias bilingües, experientes e excepcionalmente treinados para acompanhar os hóspedes durante a sua
estadia. Dentro deste esquema, pode assim ser montada uma programação que atende a todos os gostos
, faixa etária e aptidões físicas. Muito bem administrado, dá segurança até
para quem nunca teve a natureza virgem ao alcance da mão.
As aventuras - ou explorações,
como preferem dizer os entendidos - são
oferecidas diariamente, como longas
cavalgadas na estepe, passeios através dos bosques e ao longo dos lagos, trekking , ou ainda safári fotográfico,
piqueniques e, é claro, opções mais radicais devidamente rotuladas de “ forte ” em contraste com as “suave” e
“média”. Tudo depende da distancia percorrida e do grau de dificuldade.
E porque não experimentar um pouco do gelo de um iceberg de
algumas centenas de anos de idade ? A exploração é “suave”, basta estar
disposto a andar uma hora e meia, com direito à travessia de uma ponte pênsil.
Os icebergs se desprenderam do Glaciar e vêm vindo até as margens do lago,
formando esculturas fantásticas de gelo. O cenário ( um dos mais
impressionantes que já presenciei) é mutante e também varia conforme as
estações.
Vista do Glaciar Grey após uma subida de 5 horas a pé...Recompensa merecida. |
Em contrapartida, a caminhada à base das Torres del Paine ( paine
quer dizer azul, no antigo idioma patagão)
chega a 16 quilômetros, dura um dia inteiro e faz uma pausa para almoçar
somente após as primeiras três horas e meia, quando os piores obstáculos da
subida já foram vencidos. E’ para espartano nenhum botar defeito. Outra
exploração mais forte, como a caminhada ao Glaciar de Grey, é um must
pelo impacto visual : você está diante do campo de gelo mais extenso do mundo,
com 340 quilômetros de extensão e até 60 quilômetros de largura. Mas, antes de
enfrentar a pé os 24 quilômetros de trilhas montanha acima e morro abaixo (12 para ir e 12 para voltar), é preciso
atravessar de lancha o Lago de Grey ou o
Lago Pehoé.
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Glaciar Grey, um fenômeno da natureza |
Até aí, nenhum problema, já que o Explora tem uma lancha ancorada
em cais próprio, só para atender aos seus hóspedes. No entanto, este meio de
locomoção tem um inimigo mortal difícil de encarar : o vento. Ou seja, se está
ventando o barco não sai de jeito
nenhum. E nem adianta insistir com el capitán, pois ele alega que o
barco pode virar devido às fortes ondas. Realmente, a temperatura da água - no
máximo 5 graus - serve apenas para os pingüins. Frustrações à parte, as
melhores expedições ficam para a manhã seguinte... E´ preciso persistência na Patagônia.
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