Menos
de três horas de vôo separam a capital da Islândia de Londres ou Paris. Reykjavík,
cujo nome significa baía das fumaças, tem uma natureza exuberante: geysers, sol
da meia noite e atrações como uma lagoa
azul com águas a 38 graus. A terra da famosa cantora Bjorg é também a cidade
menos poluída do mundo e o país onde se publica mais livros per capita.
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casas típicas em volta do lago |
Esta cidade não figura nem entre as 51 listadas na seção de meteorologia dos
grandes jornais nacionais. Para conseguir pronunciá-la, dá até nó na língua.
Mas não pense que é um elo perdido ou um lugar no meio do nada. A
Islândia está entre as nações que possuem as menores densidades demográficas,
com apenas 278 mil habitantes ocupando 103 mil quilômetros quadrados - ou seja,
menos gente do que em muitos bairros brasileiros.
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Famosa catedral Hallgrimskirkja |
No
verão, vai à Islândia quem quer ver o sol da meia-noite. Em janeiro, chega a
outra turma que prefere assistir à aurora boreal, um fenômeno meio
fantasmagórico também conhecido como as luzes do norte – ondas de luzes verdes e
roxas tingindo o céu estrelado. Mas o clima é sempre incerto, e a partir de
outubro os dias vão encurtando até
quando apenas uma tímida luminosidade consegue penetrar pela densidão das
nuvens do rigoroso inverno.
À beira do Atlântico azulado, rodeada por montanhas,
Reykjavik é composta de centenas de casinhas multicoloridas, entre as quais
despontam algumas torres de igreja. Um charme só. Atrás da Prefeitura, uma das
poucas edificações modernas, o lago
Tjörn é um reduto de cisnes e patos que saem da água para vir comer na palma da
mão de lindas criancinhas louras . O cenário parece mesmo uma
pintura. Nem é preciso alugar carro para se locomover dentro da cidade, ainda
mais se estiver hospedado num hotel central, como o tradicional Borg. Esta construção retro-chique é o endereço mais tradicional da cidade.
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Hotel Borg é um ícone, esbanja luxo e está muito bem localizado ao alcance de atrações como a Catedral e comércio |
Andando a
pé, mapa na mão, é fácil se achar. Ao mesmo tempo que parece uma vila de
interior, com poucas pessoas transitando nas ruas, Reykjavík revela aos poucos
porque já foi eleita a capital cultural do continente europeu. Existem inúmeros
museus, galerias de arte e teatros. Esculturas estão por toda parte, expressões
modernas e clássicas de artistas nativos. Até a famosa cantora islandesa Björk
já teve o seu busto esculpido. Praças públicas se transformam em palcos para
shows e concertos durante o verão, e os eventos culturais são tantos que ocupam
páginas inteiras dos guias turísticos.
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Vista panorâmica de Reykjavik |
A Islândia tem uns costumes curiosos. Um
deles é que todo cartão de crédito vem estampado com o rosto do freguês. Numa
terra onde se acha uma pessoa na lista telefônica pelo primeiro nome ao invés
do sobrenome , em ordem alfabética, já viu que anonimato é coisa de terceiro
mundo. Mas não é bem isso, não. Na Islândia, onde predomina o sistema de
patronímico ( que é o sobrenome derivado do pai) , só uma minoria da população
tem sobrenome. Ao invés, acopla-se a sílaba “son” ao nome do pai para o filho homem e “ dóttir” para a filha mulher. Funciona assim
: Bjarni Sígurdson, é filho do Sígurd. Fácil, né ? E todo mundo só se interpela
pelo primeiro nome, sem cerimônias.
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Contraste entre estilos arquitetônicos |
Mas
a verdade é que diante de tantos atributos, Reykjavik se tornou um destino cobiçado, e as operadoras que embarcam turistas de todo
lugar da Europa estão otimizando os
pacotes. Tanto para antes da alta estação, como maio, e para depois, como
setembro e outubro. Há quem esteja fazendo planos para ir passar o Natal e Ano
Novo lá. Maluquice ? Nem tanto : além dos islandeses festejarem como poucos
estas datas, com uma magnífica decoração natalina pela cidade e um arsenal de
fogos de artifício para a noite do Réveillon, as agências turísticas locais
criam atrativos condizentes com alguns metros de neve. A nível de aventura, é
claro. Portanto, quem gosta de um passeio de snowmobile, esse é o lugar
apropriado.
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paisagem rural |
À
mercê das intempéries, enclausurados em suas casas ou em ambientes fechados a
maior parte do ano, não é de surpreender que os habitantes da Islândia – cuja
totalidade da população é alfabetizada - leiam vorazmente. Como o idioma islandês sofreu pouquíssimas
modificações desde os tempos dos Vikings, eles conseguem até ler as Sagas
(compêndio de lendas e folclore local, típico da literatura islandesa)
redigidas no século XIII. E´ como se a
gente lesse as cartas do Pero Vaz de Caminha no original com a desenvoltura de
quem está com o jornal do dia na mão... Nesta nação a avidez literária é tanta
que se publica mais livros per capita do que em qualquer outro lugar no mundo.
A Islândia também é o berço de campeões mundiais de xadrez... e de muitos
bebês: a taxa de natalidade está entre as mais elevadas da Europa. Também, né, você faria o quê se ficasse olhando para
fora da janela e vendo escuridão durante 20 horas por dia, meses a fio ?
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Famosa Lagoa Azul : águas a 38º C |
Reykjavik,
cujo nome significa baía das fumaças, deve seu nome às fontes de água quente
que jorram por todo o país. Além de
serem atrativas para o banho, os cidadãos utilizam esta energia geotérmica e
não poluente para aquecer e iluminar as suas casas. Ou seja, estamos falando da capital menos
poluída do planeta. E se da água do chuveiro do hotel emanar um odor sulfúreo,
não estranhe. Dizem que faz bem à pele. Afinal, o terreno é vulcânico. E ainda
hoje, vulcanicamente falando, esta terra é um dos lugares mais ativos do mundo,
porque a Islândia é ainda um bebê. Faz pouco mais de 20 milhões de anos que
vulcões irromperam ao norte do Atlântico e espalharam a lava que serviria de
fundação para a ilha. A população está permanentemente ameaçada por vulcões,
que podem entornar a sua caldeira a qualquer momento.
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Os islandeses têm paixão por cavalos |
Assim como os Vikings que desembarcaram há
quase mil anos atrás, os habitantes se banham nas águas sulfúreas com a mesma
facilidade que o brasileiro mergulha no mar. A mais reputada é a Lagoa Azul,
localizada na península de Reykjanes, a cerca de 32 km da capital e vinte
minutos do aeroporto. A água a 38º C, rica em minerais e salina
devido à proximidade do mar, é reputada pelos seus efeitos curativos nas
doenças de pele e no embelezamento em geral. O azul do nome da lagoa não foi dado em
vão: a cor é de esmeralda com uma luminosidade que estonteia de longe.
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Gnomos representam uma cultura milenar |
A
palavra “geysir” ( gaiser, em português) foi inventada na ilha e descreve não
só as fontes de água quente em geral como todos os jatos de água fervendo.
Dirigindo-se em direção sul, a pouco mais de uma hora de Reykjavík, você
pode ver estes fenômenos naturais em
plena exibição. Haukadalur, onde ficam
os gaisers, é um dos lugares mais freqüentados pelos turistas, que querem ver
de perto, mas muito perto mesmo, o célebre Grande
Geysir.
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Passeios a cavalo é uma experiência única |
Com tantas opções para ver e fazer na Islândia,
principalmente no que diz respeito ao turismo-aventura ( leia-se de caminhadas
a cavalgadas, passeios off-road, ver baleias e fazer circuitos de avião pela
ilha) o orçamento pode estourar. E’ que nada lá é barato. Aliás, as cifras são
de aterrorizar. Pense no preço de alguma coisa, e triplique. Basta andar por
uma das ruas principais do centro, a Skólavördustígur, que é cheia de lojas de
antiguidades e artefatos locais. Mas olhar não custa nada. Mesmo sendo um lugar caro, é agradável
badalar pela rua comercial , a Laugavegur.
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Bacalhau no famoso mercado Kolaporfid |
Mas há uma atração ( mais em conta) que só
funciona final de semana: é o Kolaporfid, um “mercado de pulgas” dentro de um
enorme galpão, que fica no cais do porto de Reykjavík. Vale a pena entrar só
para conhecer e tentar ver de perto os famosos testículos de carneiro que os
islandeses consideram um prato de resistência. Caso não os veja, outros
produtos típicos da ilha ficam à venda nas prateleiras das barracas – filé de
tubarão seco ( hákarl) ,
arengue em conserva e bacalhau.
Antes
de contorcer a língua para aprender a pronunciar nem que seja o básico da
polidez, como bom dia ou obrigado , é bom saber que no idioma islandês não
existe uma palavra única para um mero
“por favor”. Então, orgulhe-se se conseguir apenas decorar o nome da
capital, em si só uma proparoxítona complicada. Mas, caso for convidado para ir
comer na casa de algum cidadão islandês, é de bom tom gravar pelo menos uma
expressão que revela as praxes mais enraizadas na cultura nórdica – a de ser
grato pela comida recebida. Takk fyrir
mig – obrigado pela refeição.
Fala-se
islandês em toda a ilha, uma língua nórdica gutural que conserva ainda
toda a pureza da linguagem usada pelos seus ancestrais, os Viking. Felizmente quase todo mundo fala inglês.
Dê-se por feliz se, ao final da viagem, estiver pronunciando Reykjavik
como os habitantes locais.
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