quinta-feira, 21 de julho de 2016

Hotel Borg, Reykjavik, Islândia



 
O lago Tjörn é um reduto de cisnes e patos. Fica bem atrás da Prefeitura. 
  
Menos de três horas de vôo separam a capital da Islândia de Londres ou Paris. Reykjavík, cujo nome significa baía das fumaças, tem uma natureza exuberante: geysers, sol da meia noite e atrações  como uma lagoa azul com águas a 38 graus. A terra da famosa cantora Bjorg é também a cidade menos poluída do mundo e o país onde se publica mais livros per capita.

casas típicas em volta do lago

Esta cidade não figura nem entre as 51 listadas na seção de meteorologia dos grandes jornais nacionais. Para conseguir pronunciá-la, dá até nó na língua. Mas não pense que é um elo perdido ou um lugar no meio do nada. A Islândia está entre as nações que possuem as menores densidades demográficas, com apenas 278 mil habitantes ocupando 103 mil quilômetros quadrados - ou seja, menos gente do que em muitos bairros brasileiros. 
Famosa catedral Hallgrimskirkja

No verão, vai à Islândia quem quer ver o sol da meia-noite. Em janeiro, chega a outra turma que prefere assistir à aurora boreal, um fenômeno meio fantasmagórico também conhecido como as luzes do norte – ondas de luzes verdes e roxas tingindo o céu estrelado. Mas o clima é sempre incerto, e a partir de outubro os dias vão  encurtando até quando apenas uma tímida luminosidade consegue penetrar pela densidão das nuvens do rigoroso inverno.

À beira do Atlântico azulado, rodeada por montanhas, Reykjavik é composta de centenas de casinhas multicoloridas, entre as quais despontam algumas torres de igreja. Um charme só. Atrás da Prefeitura, uma das poucas edificações modernas,  o lago Tjörn é um reduto de cisnes e patos que saem da água para vir comer na palma da mão de lindas criancinhas louras . O cenário parece mesmo uma pintura. Nem é preciso alugar carro para se locomover dentro da cidade, ainda mais se estiver hospedado num hotel central, como o tradicional Borg. Esta construção retro-chique é o endereço mais tradicional da cidade. 
Hotel Borg é um ícone, esbanja luxo e está muito bem localizado ao alcance de atrações como a Catedral e comércio

Andando a pé, mapa na mão, é fácil se achar. Ao mesmo tempo que parece uma vila de interior, com poucas pessoas transitando nas ruas, Reykjavík revela aos poucos porque já foi eleita a capital cultural do continente europeu. Existem inúmeros museus, galerias de arte e teatros. Esculturas estão por toda parte, expressões modernas e clássicas de artistas nativos. Até a famosa cantora islandesa Björk já teve o seu busto esculpido. Praças públicas se transformam em palcos para shows e concertos durante o verão, e os eventos culturais são tantos que ocupam páginas inteiras dos guias turísticos. 

Vista panorâmica de Reykjavik

A Islândia tem uns costumes curiosos. Um deles é que todo cartão de crédito vem estampado com o rosto do freguês. Numa terra onde se acha uma pessoa na lista telefônica pelo primeiro nome ao invés do sobrenome , em ordem alfabética, já viu que anonimato é coisa de terceiro mundo.  Mas não é bem isso, não.  Na Islândia, onde predomina o sistema de patronímico ( que é o sobrenome derivado do pai) , só uma minoria da população tem sobrenome. Ao invés, acopla-se a sílaba “son”  ao nome do pai para o filho homem e  “ dóttir” para a filha mulher. Funciona assim : Bjarni Sígurdson, é filho do Sígurd. Fácil, né ? E todo mundo só se interpela pelo primeiro nome, sem cerimônias.





Contraste entre estilos arquitetônicos
Mas a verdade é que diante de tantos atributos, Reykjavik se tornou um destino cobiçado, e as operadoras que embarcam turistas de todo lugar da Europa estão otimizando os pacotes. Tanto para antes da alta estação, como maio, e para depois, como setembro e outubro. Há quem esteja fazendo planos para ir passar o Natal e Ano Novo lá. Maluquice ? Nem tanto : além dos islandeses festejarem como poucos estas datas, com uma magnífica decoração natalina pela cidade e um arsenal de fogos de artifício para a noite do Réveillon, as agências turísticas locais criam atrativos condizentes com alguns metros de neve. A nível de aventura, é claro. Portanto, quem gosta de um passeio de snowmobile, esse é o lugar apropriado.
paisagem rural
À mercê das intempéries, enclausurados em suas casas ou em ambientes fechados a maior parte do ano, não é de surpreender que os habitantes da Islândia – cuja totalidade da população é alfabetizada - leiam vorazmente.  Como o idioma islandês sofreu pouquíssimas modificações desde os tempos dos Vikings, eles conseguem até ler as Sagas (compêndio de lendas e folclore local, típico da literatura islandesa) redigidas no século XIII.  E´ como se a gente lesse as cartas do Pero Vaz de Caminha no original com a desenvoltura de quem está com o jornal do dia na mão... Nesta nação a avidez literária é tanta que se publica mais livros per capita do que em qualquer outro lugar no mundo. A Islândia também é o berço de campeões mundiais de xadrez... e de muitos bebês: a taxa de natalidade está entre as mais elevadas da Europa. Também,  né, você faria o quê se ficasse olhando para fora da janela e vendo escuridão durante 20 horas por dia, meses a fio ?
Famosa Lagoa Azul : águas a 38º C

Reykjavik, cujo nome significa baía das fumaças, deve seu nome às fontes de água quente que jorram por todo o país.  Além de serem atrativas para o banho, os cidadãos utilizam esta energia geotérmica e não poluente para aquecer e iluminar as suas casas.  Ou seja, estamos falando da capital menos poluída do planeta. E se da água do chuveiro do hotel emanar um odor sulfúreo, não estranhe. Dizem que faz bem à pele. Afinal, o terreno é vulcânico. E ainda hoje, vulcanicamente falando, esta terra é um dos lugares mais ativos do mundo, porque a Islândia é ainda um bebê. Faz pouco mais de 20 milhões de anos que vulcões irromperam ao norte do Atlântico e espalharam a lava que serviria de fundação para a ilha. A população está permanentemente ameaçada por vulcões, que podem entornar a sua caldeira a qualquer momento. 

Os islandeses têm paixão por cavalos

 Assim como os Vikings que desembarcaram há quase mil anos atrás, os habitantes se banham nas águas sulfúreas com a mesma facilidade que o brasileiro mergulha no mar. A mais reputada é a Lagoa Azul, localizada na península de Reykjanes, a cerca de 32 km da capital e vinte minutos do aeroporto. A água a 38º C, rica em minerais e salina devido à proximidade do mar, é reputada pelos seus efeitos curativos nas doenças de pele e no embelezamento em geral.  O azul do nome da lagoa não foi dado em vão: a cor é de esmeralda com uma luminosidade que estonteia de longe.

Gnomos representam uma cultura milenar




A palavra “geysir” ( gaiser, em português) foi inventada na ilha e descreve não só as fontes de água quente em geral como todos os jatos de água fervendo. Dirigindo-se em direção sul, a pouco mais de uma hora de Reykjavík, você pode  ver estes fenômenos naturais em plena exibição.  Haukadalur, onde ficam os gaisers, é um dos lugares mais freqüentados pelos turistas, que querem ver de perto, mas muito perto mesmo, o célebre Grande Geysir.
Passeios a cavalo é uma experiência única

Com tantas opções para ver e fazer na Islândia, principalmente no que diz respeito ao turismo-aventura ( leia-se de caminhadas a cavalgadas, passeios off-road, ver baleias e fazer circuitos de avião pela ilha) o orçamento pode estourar. E’ que nada lá é barato. Aliás, as cifras são de aterrorizar. Pense no preço de alguma coisa, e triplique. Basta andar por uma das ruas principais do centro, a Skólavördustígur, que é cheia de lojas de antiguidades e artefatos locais. Mas olhar não custa nada.  Mesmo sendo um lugar caro, é agradável badalar pela rua comercial , a Laugavegur.  

Bacalhau no famoso mercado Kolaporfid

Mas há uma atração ( mais em conta) que só funciona final de semana: é o Kolaporfid, um “mercado de pulgas” dentro de um enorme galpão, que fica no cais do porto de Reykjavík. Vale a pena entrar só para conhecer e tentar ver de perto os famosos testículos de carneiro que os islandeses consideram um prato de resistência. Caso não os veja, outros produtos típicos da ilha ficam à venda nas prateleiras das barracas – filé de tubarão seco ( hákarl)  , arengue em conserva e bacalhau.   


Antes de contorcer a língua para aprender a pronunciar nem que seja o básico da polidez, como bom dia ou obrigado , é bom saber que no idioma islandês não existe uma palavra única para um mero  “por favor”. Então, orgulhe-se se conseguir apenas decorar o nome da capital, em si só uma proparoxítona complicada. Mas, caso for convidado para ir comer na casa de algum cidadão islandês, é de bom tom gravar pelo menos uma expressão que revela as praxes mais enraizadas na cultura nórdica – a de ser grato pela comida recebida. Takk fyrir mig – obrigado pela refeição.
Fala-se islandês em toda a ilha, uma língua nórdica gutural que conserva ainda toda a pureza da linguagem usada pelos seus ancestrais, os Viking.  Felizmente quase todo mundo fala inglês. Dê-se por feliz se, ao final da viagem, estiver pronunciando Reykjavik como os habitantes locais.

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