sábado, 28 de janeiro de 2017

Acampamentos ( padrão Explora) , Salar do Uyuni, Bolívia


Travesía é uma viagem emocionante através do Altiplano da Bolívia, que desvenda alguns dos lugares mais fascinantes do planeta como o Salar do Uyuni, lagoas multicoloridas e paisagens que se confundem com miragens –  tudo encostando ou acima dos 4 mil metros de altitude, o que também desperta estranhas sensações.

Bastou um amigo comentar que atravessar o Altiplano da Bolívia não era um programa para mulher. Desde então, aguçou mais ainda a vontade de fazer esta viagem de cinco dias e cinco noites, cujo itinerário tem início no deserto do Atacama, no Chile, cruza a fronteira para a Bolívia, penetra em cheio no altiplano e tem como clímax o fenomenal Salar do Uyuni, o maior do planeta.

Apachetas, o sinal de trânsito do Salar do Uyuni. E todo mundo obedece à sinalização...

Laguna Colorada, um visual bastante impactante
 Esta travessia – como o programa é mais conhecido -  é uma experiência única no gênero, pois explora de carro e a pé lugares inóspitos porém deslumbrantes, quase todos fora do alcance da maioria dos mortais. Só vê quem chega lá... E, por mais duro que seja a aclimatação acima de 4 mil metros, você é recompensado pela exuberância da natureza, que esbanja cenários mirabolantes e mexe até com os sentidos.



Porém, existe uma cartilha a seguir antes de se aventurar numa Travessia. Para começar, é imprescindível passar por um período de adaptação em San Pedro do Atacama,  o que dura no mínimo 4 dias.  Este “vestibular de altitude” é para testar a resistência física e habilitar os participantes a enfrentar, na Bolívia, os quase 5 mil metros acima do nível do mar e temperaturas que podem despencar para até 20 graus negativos! O grupo Explora é o único agente que organiza um pacote integral de Travessia do Uyuni, com aclimatação no Atacama e  acomodações privativas  - atenção! leia-se acampamentos de altiplano, que podem ser containers isolados ou antigas cabanas de pedras - ao longo do itinerário. Mas, tudo tem a assinatura do sofisticado grupo Explora...com serviço personalizado, equipe de 5 pessoas e leva no máximo 6 participantes. As travessias são realizadas o ano inteiro, e exigem um mínimo de duas pessoas. 


O amor é para todos! Mesmo a 4500 metros acima do nível do mar!

Acampando em containers, estilo Explora, com direito a roupões...
Numa primeira etapa, rumo ao norte, atravessamos a Reserva Florestal Avaroa e em seguida fomos galgando estradinhas tortuosas até chegar aos geysers Sol de Mañana. Estamos no ponto mais elevado de toda a travessia – 4870 metros acima do nível do mar. Mesmo sob o impacto do ar rarefeito, não há como ficar indiferente às cores e formas mutantes das borbulhas de lava que brotam ruidosamente das crateras. Esta área geotérmica está no estado mais genuíno possível, não há qualquer proteção, cerca ou barreira em volta dos geysers.

Sol da Mañana: Geysers fumegantes sem proteção, a quase 5 mil metros de altitude.

Após 260 quilômetros de estradas de terra empoeiradas, o longo dia termina em Canãpa, nosso primeiro rifúgio. Chegamos exaustos, com frio e uma sensação de desconforto
 – estamos a 4300 metros de altitude! A equipe de apoio chegou mais cedo, já preparou lanche e jantar, e aprumou as acomodações: vamos dormir em containers individuais, mas ao invés de cama e colchão temos sleeping bags – sacos de dormir, daqueles sofisticados, que protegem contra temperaturas de até 40 graus negativos. Felizmente, não é o caso: faz só menos 7ºC.  Cada casal também usufrui de banheiro privativo, e por incrível que pareça, naquele meio do nada, temos direito a roupões e todas as amenidades Explora. Mas, o frio é tão intenso que a chuveirada quente vai ficar para...mañana!                                                                                                 

Casitas de pedras, estilo local, morada confortável apesar de rústica
  Apesar do chá de coca e das aspirinas, a cabeça fica meio nocauteada devido à altitude. Só mesmo a deslumbrante paisagem ameniza os efeitos psicológicos ( e físicos) do mal da montanha – que acomete até o mais disposto dos aventureiros. Depois do café da manhã, a boa notícia: vamos descer a 3750 e portanto iremos dormir bem. Até porque o invólucro das próximas três noites é em charmosas casitas de pedra, estilo boliviano, exclusivas do Explora e adaptadas para receber hóspedes. Mas, continuamos com os sleeping bags, que, recheados com o delicioso ( e indeletável ) saco de água quente, o guatero, é vital para manter o esqueleto quentinho a noite inteira!

No caminho, a parada estratégica do dia combina um hiking de 4 quilômetros com almoço na relva na bucólica laguna Turquiri. Formações rochosas, pássaros e aves, bizcachas ( uma espécie de lebre selvagem de rabo comprido) e  llamas fazem parte da fauna que povoa este lugar silencioso no meio da natureza intocada.
    
Sensação indescritível é caminhar encima de um salar!
Dia 3, após um farto desayuno, saímos do nosso acampamento em direção ao Salar do Uyuni, o destino mais cobiçado da travessia. Há muita expectativa do que vamos presenciar. “Vocês hoje terão o maior impacto visual desta viagem,” assinalou nosso experiente guia, momentos antes de alcançarmos a beira do Salar do Uyuni, que vem a ser o maior deserto de sal do mundo, com 12 mil km quadrados. 

Neve, açúcar?? Não, é sal mesmo!!

 Deveras:  atravessar por mais de 100 quilômetros um salar parcialmente recoberto por uma camada de água de 20 cms (choveu mais do que o normal durante o último verão),  aguça sensações indescritíveis. Com água lambendo os pneus, o potente Ford desliza lentamente, fazendo marolas e deixando rastros. 

Pique-nique encima do salar, experiência única!
Durante horas, é como se estivéssemos navegando numa lancha. Por todos os lados, estamos cercados de ilhas que refletem seus contornos conforme a densidade da luz e o movimento das nuvens. Em alguns trechos, onde já está seco, o sal cria uma textura densa, e deixa rabiscada na superfície uma série de desenhos geométricos interessantes. Nestes trechos, o motorista aumenta a velocidade até alcançar mais de 130km/hora. 

Todos estamos hipnotizados e atordoados pelos efeitos surreais causados pelos reflexos da cadeia de montanhas, colinas, ilhotas e gigantescos vulcões  que emolduram o salar: a cada instante criam-se no horizonte incríveis miragens em 3D...que podem ser vistas a olho nú, sem o auxílio de óculos...
 
Efeito miragem em cada canto, 3D sem auxílio de óculos, uma distorção de luz que deixa qualquer impactado.

Nosso terceiro refúgio, em Tahua, é rústico e cozy, ao lado de um vilarejo onde só chegou a luz recentemente. Estamos localizados numa península à beira do salar do Uyuni, final da “rodovia” e por onde se entra seguindo as “apachetas”, marcações em pedra que indicam os lugares seguros para alcançar a terra firme.




 Dependendo do ângulo, o salar se estira diante dos olhos como uma passarela imaculadamente branca e se mescla com o horizonte. Esta imensidão vista de longe poderia ser confundida com neve, ou areia, ou até mesmo açúcar... De manhã cedo, os reflexos geram belas imagens sobrepostas e  curiosos efeitos gráficos, aguçando a imaginação de quem tem o privilégio de presenciar tais fenômenos da natureza. Na hora do pôr-do-sol, que é comemorado no meio do salar com champanhe francesa, é possível presenciar um jogo de luz capaz de arrancar suspiros de uma múmia.

 E, quando cai a noite e milhões de estrelas povoam o céu, curtimos o silencio absoluto e o contorno do vulcão Tunupa, o mais alto da região, com 5432 metros. Reza a lenda que Tunupa era o nome de uma linda mulher que surgiu na região do salar, onde viviam dezenas de tribos. Os chefes lutaram entre si para merecer o seu amor e acabaram derramando o sangue de inocentes – entre os quais até o próprio filho da diva.

A cada ângulo se desprende uma paisagem mais feérica que a outra.

 Os deuses andinos, irados com este comportamento, decidiram transformar todos em vulcões. Sendo assim, o salar seria o leite da mãe inconsolável misturado com as suas lágrimas.

Um carro passando pelo Salar, visto de longe...
Não se esqueça de levar protetor, óculos escuros e muito fôlego pra resistir às altitudes!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Porto Preguiças Resort, Lençóis Maranhenses, Maranhão

Único deserto no mundo com milhares de lagoas de águas mornas e cristalinas, o Parque Nacional dos Lençóis é um fenômeno da natureza que intriga e emociona.

Eu sei que é cedo, mas quem se programa com antecedência sempre leva vantagem... Porisso vou falar agora, em pleno verão, sobre este lugar. Bem, a melhor época para vislumbrar de perto, do alto e os arredores dos 155 mil hectares dos Lençóis Maranhenses é entre junho e setembro, após os períodos das chuvas. Mas, são justamente estas águas pluviais que garantem as mais impressionantes paisagens, como as texturas assimétricas criadas pelas centenas de lagoas cheias que ornamentam este labirinto de areia. Com a estiagem, a partir de outubro, a água vai desaparecendo gradualmente e sobram apenas as dunas, como em qualquer outro deserto no mundo.


Porém, é indescritível o impacto emocional causado pelo cenário alucinante deste deserto, no qual se mesclam com harmonia lagoas e dunas, verdadeiras montanhas que podem alcançar até 40 metros de altura, e que se moldam aos caprichos do vento. Quando se caminha por esta imensidão, pés desnudos sobre a areia cremosa, a sensação é que a gente está deslizando sobre molho bechamel.


Nem as melhores imagens fazem jus à realidade: só vendo com os próprios olhos

Chegar lá não é simples: inclui uma travessia de balsa no rio Preguiças a partir de Barreirinhas, cidade que é a porta de entrada dos Lençóis. Em seguida, é preciso seguir por uma estradinha arenosa, pela qual só passam veículos tracionados.  E só é permitida a entrada com guia, não apenas por ser um Parque Nacional, mas porque existe o risco iminente de se perder neste imenso paraíso ecológico.  Ah, antes que eu me esqueça, pernoitar é de praxe e até pouco tempo não existia muita escolha na redondeza, ou seja,  em Barreirinhas - que é o local mais próximo. Hoje tem um resort que me parece muito conveniente, o Porto Preguiças, já ouvi falar (bem) dele, com seus bangalôs individuais e uma infra estrutura conveniente e montada dentro dos padrões de luxo, mas não tive (ainda) a ocasião de me hospedar nele. Quando fomos, pernoitamos num outro hotel que não vale  uma recomendação já que hoje existe esta opção mais avantajada. Por esta razão, vou deixar de publicar uma foto dele. 

Desenhos geométricos que variam conforme a temporada se tornaram o cartão postal dos Lençóis.
Explorar os Lençóis não se limita apenas a caminhar pelas dunas e se deliciar com refrescantes mergulhos nas lagoas de água doce e cristalina. Em volta dos Lençóis existem pequenas vilas de pescadores como Atins, Caburé e Mandacaru, que resistem ao tempo e que merecem ser visitadas. Além disso, percursos em off-road, vôos panorâmicos e excursões de barco através dos rios e manguezais são apenas uma amostra dos inúmeros “pontos de vista”  oferecidos pelas agencias locais e regionais para conhecer toda a exuberância deste parque. E sem esquecer da suculenta gastronomia regional, toda à base de frutos do mar.
Nos arredores dos Lençóis, a fauna é um espetáculo à parte.

Mergulhar nas lagoas Azul, Bonita e do Peixe é programa quase obrigatório... Faça como bem entender e como achar mais divertido: desça rolando, correndo, deslizando...para mergulhar na lagoa que está ao pé da duna, qualquer método é válido. A recompensa é a água morna, doce e transparente que lhe espera, uma merecida recompensa  depois de caminhar por um cenário mutante, onde as cores variam conforme as horas vão passando e os reflexos da luz jorram de uma colina para outra.

Brincadeiras para todas as idades : mergulho nas águas frescas e límpidas

Outra dica: programe-se para visitar o parque na parte da tarde, porque assistir ao pôr-do-sol de cima de uma duna é obrigação de qualquer turista. Depois de caminhar por um tempo, e depois do banho nas lagoas, lá pelas cinco uma pequena multidão se agrupa na parte mais alta de uma duna para aplaudir este espetáculo que só a natureza é capaz de propiciar.

Menos de meia hora e a oportunidade de ver tudo lá do alto.
E, se você puder fazer uma coisa só, deixa de ser pão-duro: faça um sobrevôo por cima dos Lençóis. E´ verdade, o monomotor parece de brinquedo, mas cabem 5 passageiros, fora o piloto. E fora o desconforto momentâneo do calor antes da decolagem, o vôo panorâmico deixa qualquer um perplexo. São 25 minutos sobrevoando desenhos assimétrico  que formam a imensidão do que se denomina como os “Pequenos” e os “Grandes” Lençóis.  Tome coragem: o passeio é imperdível até mesmo para quem tem fobia de altura.



domingo, 22 de janeiro de 2017

Hotel Guarda Golf & Spa, Crans-Montana, Suíça




Emoldurado por alguns dos picos mais conhecidos da cadeia de montanhas dos Alpes suíços, o Alpage de Colombire é o reduto de um verdadeiro artesão, o maître-fromager autodidata Jean Claude Berclaz, que há  4 décadas fabrica com as próprias mãos o famoso queijo de raclette em sua forma mais pura.


Cremoso e saboroso, a raclette se degusta uma a uma...


Eu garimpei bastante para chegar até o charmoso alpage na região do Valais,  onde ele se isola durante todo o verão. Ali,  ele se predispôs a demonstrar o passo a passo da confecção de um dos queijos mais antigos e louvados do planeta.
Até o início do século, esta iguaria helvécia ainda não era conhecida pelo nome de raclette. Chamava-se simplesmente “queijo assado” entre os pastores e camponeses, que o consumiam derretendo os pedaços em frente ao fogo com a ajuda de um longo garfo de ferro. Alguns minutos depois, quando ficava amolecido tal qual manteiga, o queijo era raspado com uma faca e colocado em cima do pão. Só foi em 1909, durante uma exposição em Sion, que este modo de comer o queijo desceu pasto abaixo, chegou às mesas dos habitantes da cidade e então foi apropriadamente batizado de raclette. Nomenclatura lógica, uma vez que o verbo racler  significa “raspar”.

Hotel Guarda Golf: charmosa suíte na mansarda com vista privilegiada.

Duro foi levantar às 5:45 da manhã. Principalmente sair da cama king size do Hotel Guarda Golf, um cinco estrelas da cadeia Leading Hotels of the World que se debruça estratégicamente sobre uma das vistas mais bonitas de Crans-Montana, o percurso de golfe desenhado por Jack Nicklaus. Além de oferecer um ambiente de luxo, aninha um spa de responsa com produtos assinados por Ivo Pitanguy. O seu restaurante japonês, o Mizuki, inaugurado no início de dezembro do ano passado, fez renome em tempo recorde e já consta entre os melhores  do resort suíço. 

O spa tem piscina aquecida, sala de ginástica e oferece tratamentos sofisticados
 Felizmente, São Pedro ajuda a quem madruga e o céu estava límpido. E não demorou para o sol despontar atrás dos Alpes, enquanto o carro  serpenteava pelas curvas fechadas a caminho do Alpage Colombire ( alpage é o nome dado aos refúgios construídos no meio das montanhas) onde iríamos assistir in loco à produção artesanal de um produto que conquista cada vez mais adeptos pelo mundo dos gourmês: a raclette.


Após uma jornada extremamente cênica, chegamos ao nosso destino, a 2500 metros acima do nível do mar. Sorridente, paramentado com um avental branco, o nosso anfitrião maître fromager Jean Claude Berclaz estava a postos diante dos estábulos onde, atrás de uma porteira, fica o seu "atelier". 


 Ele nos estendeu a mão : "Linda manhã!", exclamou ele. "  Terminamos a ordenha e já vamos começar o processo do leite,"emendou esse simpático cidadão valaisan, nascido e criado há quase 60 anos neste cantão suíço, onde acorda todos os dias às 4 para cuidar de  91 vacas. São cerca de 800 litros tirados em duas ordenhas para a confecção  de 14 queijos de raclette.  Autodidata, Jean Claude trabalha neste ofício há 40 anos, sem nunca ter cursado qualquer escola especializada. Durante os meses de verão, ele praticamente não sai do alpage.


 Sensibilidade e dedicação são atributos que não podem faltar ao caráter de um artesão que se propôs a fabricar o seu próprio queijo à moda antiga, mesmo dispondo de alguns acessórios industrializados. E´ muito interessante acompanhar o trabalho de Jean Claude em seu ateliê: num ambiente imaculadamente limpo, o maquinário moderno contrasta com a decoração rústica que ornamenta a parede. Não há nenhum constrangimento em penetrar neste recinto, sequer qualquer obrigação em tirar os sapatos. E´ tudo muito simples, assim como o passo a passo do processo. Compenetrado desde os primeiros minutos, Jean Claude cumpre as tarefas como se fosse um ritual. Cada gesto é antecipado, pensado, preciso. Sempre atento, cada etapa do processo de evolução e transformação é observado. Ele se desdobra e não perde qualquer mudança que possa ocorrer na temperatura ou na consistência da massa que se forma no caldeirão. Nenhum detalhe escapa aos seus olhos de perito. Toda a operação não dura mais que duas horas, que passam voando. Às oito e meia da manhã, já temos diante de nós nada menos que 14 queijos de raclette, cada um com aproximadamente 5 quilos, prontos para serem levados para a salmoura e em seguida para uma cave onde permanecerão pelos próximos meses até serem devidamente comercializados.

Se para Jean Claude, a jornada de trabalho pode durar até 18 horas ,para quem vem de fora, é tudo novidade. Olhar esta paisagem imaculada e ouvir o tilintar característico dos sinos das vacas soltas nos pastos é uma fusão de impressões que fica gravada na memória. E mesmo que o queijo de raclette seja posteriormente comprado num supermercado, vale a pena ter conhecido o trabalho deste autêntico artesão do queijo.  

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Antiq Palace Hotel & Spa, Ljubljana, Eslovenia

A capital da Eslovênia é uma caixinha de (boas) surpresas, mas ainda não foi invadido pelo turismo de massa.

Sempre gostei de conhecer lugares que mal constam do bucket list da maioria das pessoas.  Fico empolgada quando menciono o nome de uma cidade e  me olham como se eu estivesse falando de um novo planeta. 

Pedestres passeando entre as Três Pontes, ícone da cidade e onde se aglomeram a maioria dos turistas




 A capital da Eslovênia se encaixa perfeitamente nesta categoria: Ljubljana já começa pela dificuldade de pronunciar , nunca sei direito qual é a maneira correta. O jota é mudo ou não? Só dá pra saber quando você aterrissa lá e o motorista de táxi começa a trocar idéias num inglês perfeito e no meio do discurso sai "iúbianá"  em português rudimentar. Pelo menos foi o que tentamos imitar durante toda a viagem. Mas, não dá mesmo não. O idioma eslovêno é indecifrável. 
Felizmente, devido à sua posição geográfica, estrategicamente fronteiriça com a Áustria, a Hungria, a Itália e a Croácia.  Resultado? Falam alemão, italiano, croata, húngaro e ainda descascam o inglês e o francês. Pronto: ninguém tem como desculpa dizer que não vai para este país do leste europeu porque não vai entender bulhufas. Se bobear, hoje a maioria da população local – pouco menos de 300 mil -   já arranha até o espanhol e o português.

Me encantei com a cidade imediatamente, antes mesmo de descer do táxi que nos deixou defronte a um edifício antigo, bem conservado e imponente,  e que viria a ser o Antiq Palace Hotel & Spa. De fato, o que  se transformou num cinco estrelas foi outrora a residência de uma família nobre e sua construção data do século 16.


 Não é à toa que o ambiente ainda conserva aquela áurea de aristocracia...Um belo pátio interno, um labirinto de salões e salas para você se perder, e corredores e desníveis  que fazem você até confundir o andar. Vários objetos de época decoram cada cantinho, mas o mais agradável é a gentileza de toda a equipe. A atenção que nos prestaram realmente configurou em poucos minutos aquela primeira impressão de que os eslovenos sabem ser generosos quando se trata de hospitalidade.
Os aposentos – não tem outra palavra pra descrever as acomodações deste antigo palacete – são algo surpreendente, pois extrapolam a dimensão de qualquer suíte júnior ou algo semelhante. Nosso quarto devia ter pelo menos uns 100 metros quadrados, divididos entre um verdadeiro salão de festas ( sério, um salão que poderia facilmente entreter umas cinquenta pessoas) e o dormitório propriamente dito. 

A vista panorâmica da cidade vista do alto da colina, onde fica o castelo.

Pátio interno do Antiq Palace, com muito charme e privacidade

No entanto, o banheiro era mínimo. Parecia que a ornamentação ainda pertencia ao passado, sendo que alguém foi dando um retoque de luxo em alguns quesitos pra tornar os espaços compatíveis com o critério de hotelaria. Mas, isso não é reclamação: o hotel é excelente, mesmo sendo um pouco retrógrado, estilo velha guarda. Pode ser que, com o passar do tempo, ele adquira um torque mais moderno e prático.
Não é por nada que comparam Ljubljana com a Veneza do leste, embora eu diria que está mais pra Brugges ou Amsterdam.  Tem pontes pra todo lado, com destaque pra o Triple Bridge, que são três pontes interligadas muito interessantes do ponto de vista arquitetônico. Os canais são navegáveis, todo mundo vai curtir um passeio de barco e o centro pedestre é fascinante. Como toda cidade medieval, o castelo fica no alto da colina e é palco não somente para uma vista fascinante mas inclusive abriga um museu onde é possível ver exposições bem interessante. Quando estive lá, vi uma mostra fantástica de fotografias.

Programa obrigatório: de barco pelo canal

Teatros e museus fazem parte do cenário cultural da cidade, assim como as imperdíveis feiras livres e de antiguidades, onde se absorve muito os hábitos locais. Não dá para não se deixar contagiar pelo espírito festivo e alegre dos eslovenos, sempre de bem com a vida.  Em volta das praças se aglomeram centenas de pessoas, sentadas nos vários restaurantes. A comida, aliás, é uma mescla de todas as gastronomias dos países fronteiriços. O wiener schnitzel eslovênio – vulgo bife a milanesa, não deixa nada a desejar ao seu semelhante austríaco e as massas estão à altura de qualquer pasta italiana... No verão, quando os dias são longos e as noites quentes, é muito comum o público se reunir em volta das praças para ouvir música ao vivo, principalmente próximo  aos bares.  A turma gosta de uma cervejinha gelada e a animação é contagiosa. Logo quando as primeiras luzes  se acendem, a cidade é invadida por um clima feérico e alegre.
 
Bife à milanesa gigante : igual ao Wiener Schnitzel, iguaria que pulou a fronteira.







domingo, 15 de janeiro de 2017

Heure Bleue Palais, Essaouira, Marrocos

Exótica e muito peculiar, Essaouira é um destino que ainda escapa facilmente dos radares. 

E´ pra lá de Marrakech...literalmente.
O porto antigo atrai muitos turistas, e fica agitado o dia todo até escurecer.

Há mais de vinte anos atrás, fizemos uma viagem maravilhosa para o Marrocos com um grupo de amigos maravilhosos. Nosso meio de transporte principal era a bicicleta. E nem era a bicicleta elétrica, não. A gente pedalava mesmo, usando os músculos das pernas e, quando cansava,  a van da operadora Butterfield & Robinson -  que é quem organiza estas viagens de aventura combinando luxo extremo com itinerários bacanas - resgatava os "preguiçosos" e ainda nos brindava com cerveja gelada, frutas e barrinhas de cereais.
Vista sobre Essaouira de dentro do forte

Pois bem, dentre todas as cidades que visitamos, todos os souks que bisbilhotamos e todas as medinas que exploramos ( a pé, que ninguém é de ferro), um dos lugares mais encantadores foi mesmo Essaouira, um pequeno porto localizado na costa sudoeste e que antigamente chamava-se Mogador. Alinhavado pelo Atlântico e nicho para boas rajadas de vento ( ininterrupto durante os meses de julho e agosto), ganhou fama como sítio perfeito para praticar esportes tais como windsurfe, kitesurfe e, desde alguns anos, SUP. Em tempo: os adeptos do surfe também podem deslizar em ondas bem roliças.



No entanto, (ainda) fora do alcance dos radares, Essaouira é um destino inusitado, mas com muita personalidade. Você vai se surpreender como tem coisas legais a serem descobertas e  exploradas. Além disso, o povão é hospitaleiro e não tem aquele assédio ( vendedor disso, vendedor daquilo...) de outras cidades marroquinas. A gente se sentiu seguro o tempo inteiro, sem pressão dos comerciantes pra comprar tudo a qualquer hora. Outra grande vantagem em relação aos centros mais glamorosos é que se pode ir a qualquer época do ano sem ter que disputar a infra com meio mundo. Réveillon, por exemplo. Por ser um país muçulmano, a passagem do ano só é comemorado nas internas, do lado de dentro das antigas porteiras dos hotéis, onde os estrangeiros se deleitam com ceias variadas patrocinadas pelos estabelecimentos. Natal também não consta no calendário deles e por esta razão durante as duas semanas de festas paira no ar uma característica peculiar: as noites são tranquilas e até mesmo no 31 de dezembro você acaba indo dormir à meia noite e dez. Pra quem aprecia o sossego, é nota dez.

A grande diversão é se embrenhar pelas ruelas da Medina e observar o dia-a-dia da população. Ninguém vai te perturbar.

No entanto, os afoitos podem ir dançar nas discotecas espalhadas pela medina - sim, tem isso sim! - e que oferecem música ao vivo  e um ambiente cosmopolita com direito a tomar todas as bebidas alcoólicas do planeta. Tenha fé e encare 4 lances de escadaria pra chegar ao Le Patio pra curtir um visual eclético, compartilhar animação e se divertir. Ah, sobre a bebida?  Pode sim, mas nem em todos os lugares.
Não dá pra tomar nem uma cervejinha  nos estabelecimentos locais, tais como Chez Scow, uma das barracas típicas no mercado de peixe, próximo ao cais, onde servem crustáceos frescos grelhados na hora. Aproveite pra tomar um suco de frutas cítricas naturais, espremidas na hora...E, se é um consolo, fique tranquilo:  na maioria dos restaurantes e bares, e todos os hotéis também, a bebida é liberada.


 Tem mais: Essaouira tem um clima privilegiado:  sol a pino, temperaturas oscilando entre os 18-20 graus sem exceção. Em outras palavras, não fica esquisito colocar um maiô na bagagem e tentar pegar um bronze em pleno inverno. Quase todos os hotéis de luxo têm piscina na cobertura, que sempre se  acopla a um vasto terraço, onde se espalham espreguiçadeiras e mesas. 

Aglomeração de curiosos numa das praças principais da cidade.

Usufruindo da privacidade, como fizemos vários dias no Heure Bleue Palais, um encantador  riad que é membro da conceituada cadeia Relais&Châteaux, e que está encravado num endereço prestigiado, bem próximo a uma das entradas da Medina.
Terraço ensolarado do hotel Heure Bleue Palais, un Relais & Châteaux  com vista espetacular para a Medina.

Antiga residencia do governador de Essaouira, foi remodelada em 2004 para acomodar 33 acomodações de luxo. Todas são voltadas para o pátio interno, conforme a tradição local, porém algumas suítes maiores têm varandas com vista para o mar e a Medina. A comida lá é muito boa, principalmente no restaurante, onde o chef  tem criações próprias bem saborosas. O café da manhã vai até 10:30 - que benção! - e é farto e variado, servido debaixo de palmeiras gigantes, local aprazível abrigado do calor. O serviço é um plus neste hotel, amabilidade e gentileza pra ninguém botar defeito.


Não faltam atividades - principalmente na praia :passeios de quadriciclo, caminhar pela orla na recém inaugurada promenade ( ainda com obras em acabamento), alugar bicicleta e pedalar pelos arredores, se aventurar encima de um camelo ( meio sacolejante, mas vale pra tirar uma selfie...). Cavalos também dividem o espaço da areia com surfistas e banhistas... Se quiser mais autenticidade, fique perambulando pela Medina, resistindo (ou não) às ofertas baratas de artesanato. Tapetes, então, é uma tentação que pode acabar com a sua paciência ou com o seu orçamento - lembrando que uma boa barganha pode ceifar o preço no mínimo pela metade. Detalhe: a língua mais falada depois do árabe é o francês, mas também arranham o inglês e um pouco de italiano e espanhol...Ali na Medina, é mesmo uma torre de Babel!

Nos arredores de Essaouira, paisagens bucólicas.

São todos tão lindos, que qualquer um fica tonto quando penetra naquela grota de Ali Baba, onde você está cercado por um mar de tapetes, cada um mais maravilhoso que o outro. Se pudesse, teria levado uns 50 !! Infelizmente, só deu pra comprar um... Os outros 49 ficam pra próxima visita à Essaouira.

Passeios de quadriciclos pelas dunas prometem emoções forte