sábado, 28 de janeiro de 2017

Acampamentos ( padrão Explora) , Salar do Uyuni, Bolívia


Travesía é uma viagem emocionante através do Altiplano da Bolívia, que desvenda alguns dos lugares mais fascinantes do planeta como o Salar do Uyuni, lagoas multicoloridas e paisagens que se confundem com miragens –  tudo encostando ou acima dos 4 mil metros de altitude, o que também desperta estranhas sensações.

Bastou um amigo comentar que atravessar o Altiplano da Bolívia não era um programa para mulher. Desde então, aguçou mais ainda a vontade de fazer esta viagem de cinco dias e cinco noites, cujo itinerário tem início no deserto do Atacama, no Chile, cruza a fronteira para a Bolívia, penetra em cheio no altiplano e tem como clímax o fenomenal Salar do Uyuni, o maior do planeta.

Apachetas, o sinal de trânsito do Salar do Uyuni. E todo mundo obedece à sinalização...

Laguna Colorada, um visual bastante impactante
 Esta travessia – como o programa é mais conhecido -  é uma experiência única no gênero, pois explora de carro e a pé lugares inóspitos porém deslumbrantes, quase todos fora do alcance da maioria dos mortais. Só vê quem chega lá... E, por mais duro que seja a aclimatação acima de 4 mil metros, você é recompensado pela exuberância da natureza, que esbanja cenários mirabolantes e mexe até com os sentidos.



Porém, existe uma cartilha a seguir antes de se aventurar numa Travessia. Para começar, é imprescindível passar por um período de adaptação em San Pedro do Atacama,  o que dura no mínimo 4 dias.  Este “vestibular de altitude” é para testar a resistência física e habilitar os participantes a enfrentar, na Bolívia, os quase 5 mil metros acima do nível do mar e temperaturas que podem despencar para até 20 graus negativos! O grupo Explora é o único agente que organiza um pacote integral de Travessia do Uyuni, com aclimatação no Atacama e  acomodações privativas  - atenção! leia-se acampamentos de altiplano, que podem ser containers isolados ou antigas cabanas de pedras - ao longo do itinerário. Mas, tudo tem a assinatura do sofisticado grupo Explora...com serviço personalizado, equipe de 5 pessoas e leva no máximo 6 participantes. As travessias são realizadas o ano inteiro, e exigem um mínimo de duas pessoas. 


O amor é para todos! Mesmo a 4500 metros acima do nível do mar!

Acampando em containers, estilo Explora, com direito a roupões...
Numa primeira etapa, rumo ao norte, atravessamos a Reserva Florestal Avaroa e em seguida fomos galgando estradinhas tortuosas até chegar aos geysers Sol de Mañana. Estamos no ponto mais elevado de toda a travessia – 4870 metros acima do nível do mar. Mesmo sob o impacto do ar rarefeito, não há como ficar indiferente às cores e formas mutantes das borbulhas de lava que brotam ruidosamente das crateras. Esta área geotérmica está no estado mais genuíno possível, não há qualquer proteção, cerca ou barreira em volta dos geysers.

Sol da Mañana: Geysers fumegantes sem proteção, a quase 5 mil metros de altitude.

Após 260 quilômetros de estradas de terra empoeiradas, o longo dia termina em Canãpa, nosso primeiro rifúgio. Chegamos exaustos, com frio e uma sensação de desconforto
 – estamos a 4300 metros de altitude! A equipe de apoio chegou mais cedo, já preparou lanche e jantar, e aprumou as acomodações: vamos dormir em containers individuais, mas ao invés de cama e colchão temos sleeping bags – sacos de dormir, daqueles sofisticados, que protegem contra temperaturas de até 40 graus negativos. Felizmente, não é o caso: faz só menos 7ºC.  Cada casal também usufrui de banheiro privativo, e por incrível que pareça, naquele meio do nada, temos direito a roupões e todas as amenidades Explora. Mas, o frio é tão intenso que a chuveirada quente vai ficar para...mañana!                                                                                                 

Casitas de pedras, estilo local, morada confortável apesar de rústica
  Apesar do chá de coca e das aspirinas, a cabeça fica meio nocauteada devido à altitude. Só mesmo a deslumbrante paisagem ameniza os efeitos psicológicos ( e físicos) do mal da montanha – que acomete até o mais disposto dos aventureiros. Depois do café da manhã, a boa notícia: vamos descer a 3750 e portanto iremos dormir bem. Até porque o invólucro das próximas três noites é em charmosas casitas de pedra, estilo boliviano, exclusivas do Explora e adaptadas para receber hóspedes. Mas, continuamos com os sleeping bags, que, recheados com o delicioso ( e indeletável ) saco de água quente, o guatero, é vital para manter o esqueleto quentinho a noite inteira!

No caminho, a parada estratégica do dia combina um hiking de 4 quilômetros com almoço na relva na bucólica laguna Turquiri. Formações rochosas, pássaros e aves, bizcachas ( uma espécie de lebre selvagem de rabo comprido) e  llamas fazem parte da fauna que povoa este lugar silencioso no meio da natureza intocada.
    
Sensação indescritível é caminhar encima de um salar!
Dia 3, após um farto desayuno, saímos do nosso acampamento em direção ao Salar do Uyuni, o destino mais cobiçado da travessia. Há muita expectativa do que vamos presenciar. “Vocês hoje terão o maior impacto visual desta viagem,” assinalou nosso experiente guia, momentos antes de alcançarmos a beira do Salar do Uyuni, que vem a ser o maior deserto de sal do mundo, com 12 mil km quadrados. 

Neve, açúcar?? Não, é sal mesmo!!

 Deveras:  atravessar por mais de 100 quilômetros um salar parcialmente recoberto por uma camada de água de 20 cms (choveu mais do que o normal durante o último verão),  aguça sensações indescritíveis. Com água lambendo os pneus, o potente Ford desliza lentamente, fazendo marolas e deixando rastros. 

Pique-nique encima do salar, experiência única!
Durante horas, é como se estivéssemos navegando numa lancha. Por todos os lados, estamos cercados de ilhas que refletem seus contornos conforme a densidade da luz e o movimento das nuvens. Em alguns trechos, onde já está seco, o sal cria uma textura densa, e deixa rabiscada na superfície uma série de desenhos geométricos interessantes. Nestes trechos, o motorista aumenta a velocidade até alcançar mais de 130km/hora. 

Todos estamos hipnotizados e atordoados pelos efeitos surreais causados pelos reflexos da cadeia de montanhas, colinas, ilhotas e gigantescos vulcões  que emolduram o salar: a cada instante criam-se no horizonte incríveis miragens em 3D...que podem ser vistas a olho nú, sem o auxílio de óculos...
 
Efeito miragem em cada canto, 3D sem auxílio de óculos, uma distorção de luz que deixa qualquer impactado.

Nosso terceiro refúgio, em Tahua, é rústico e cozy, ao lado de um vilarejo onde só chegou a luz recentemente. Estamos localizados numa península à beira do salar do Uyuni, final da “rodovia” e por onde se entra seguindo as “apachetas”, marcações em pedra que indicam os lugares seguros para alcançar a terra firme.




 Dependendo do ângulo, o salar se estira diante dos olhos como uma passarela imaculadamente branca e se mescla com o horizonte. Esta imensidão vista de longe poderia ser confundida com neve, ou areia, ou até mesmo açúcar... De manhã cedo, os reflexos geram belas imagens sobrepostas e  curiosos efeitos gráficos, aguçando a imaginação de quem tem o privilégio de presenciar tais fenômenos da natureza. Na hora do pôr-do-sol, que é comemorado no meio do salar com champanhe francesa, é possível presenciar um jogo de luz capaz de arrancar suspiros de uma múmia.

 E, quando cai a noite e milhões de estrelas povoam o céu, curtimos o silencio absoluto e o contorno do vulcão Tunupa, o mais alto da região, com 5432 metros. Reza a lenda que Tunupa era o nome de uma linda mulher que surgiu na região do salar, onde viviam dezenas de tribos. Os chefes lutaram entre si para merecer o seu amor e acabaram derramando o sangue de inocentes – entre os quais até o próprio filho da diva.

A cada ângulo se desprende uma paisagem mais feérica que a outra.

 Os deuses andinos, irados com este comportamento, decidiram transformar todos em vulcões. Sendo assim, o salar seria o leite da mãe inconsolável misturado com as suas lágrimas.

Um carro passando pelo Salar, visto de longe...
Não se esqueça de levar protetor, óculos escuros e muito fôlego pra resistir às altitudes!

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