Cremoso e saboroso, a raclette se degusta uma a uma... |
Eu garimpei bastante para chegar até o charmoso alpage na
região do Valais, onde ele se isola durante
todo o verão. Ali, ele se predispôs a
demonstrar o passo a passo da confecção de um dos queijos mais antigos e
louvados do planeta.
Até o início do século, esta iguaria helvécia ainda não era conhecida pelo nome de raclette. Chamava-se simplesmente “queijo assado” entre os pastores e camponeses, que o consumiam derretendo os pedaços em frente ao fogo com a ajuda de um longo garfo de ferro. Alguns minutos depois, quando ficava amolecido tal qual manteiga, o queijo era raspado com uma faca e colocado em cima do pão. Só foi em 1909, durante uma exposição em Sion, que este modo de comer o queijo desceu pasto abaixo, chegou às mesas dos habitantes da cidade e então foi apropriadamente batizado de raclette. Nomenclatura lógica, uma vez que o verbo racler significa “raspar”.
Duro foi levantar às 5:45 da manhã. Principalmente sair da cama king size do Hotel Guarda Golf, um cinco estrelas da cadeia Leading Hotels of the World que se debruça estratégicamente sobre uma das vistas mais bonitas de Crans-Montana, o percurso de golfe desenhado por Jack Nicklaus. Além de oferecer um ambiente de luxo, aninha um spa de responsa com produtos assinados por Ivo Pitanguy. O seu restaurante japonês, o Mizuki, inaugurado no início de dezembro do ano passado, fez renome em tempo recorde e já consta entre os melhores do resort suíço.
Felizmente, São Pedro ajuda a quem madruga e o céu estava límpido. E não
demorou para o sol despontar atrás dos Alpes, enquanto o carro serpenteava pelas curvas fechadas a caminho
do Alpage Colombire ( alpage é o nome
dado aos refúgios construídos no meio das montanhas) onde iríamos assistir in
loco à produção artesanal de um produto que conquista cada vez mais adeptos
pelo mundo dos gourmês: a raclette.
Após uma jornada extremamente cênica,
chegamos ao nosso destino, a 2500 metros acima do nível do mar. Sorridente, paramentado
com um avental branco, o nosso anfitrião maître
fromager Jean Claude Berclaz estava a postos diante dos estábulos onde,
atrás de uma porteira, fica o seu "atelier".
Ele nos estendeu a mão : "Linda
manhã!", exclamou ele. " Terminamos
a ordenha e já vamos começar o processo do leite,"emendou esse simpático
cidadão valaisan, nascido e criado há quase 60 anos neste cantão suíço, onde
acorda todos os dias às 4 para cuidar de 91 vacas. São cerca de 800 litros tirados em
duas ordenhas para a confecção de 14
queijos de raclette. Autodidata, Jean
Claude trabalha neste ofício há 40 anos, sem nunca ter cursado qualquer escola
especializada. Durante os meses de verão, ele praticamente não sai do alpage.
Sensibilidade e dedicação são atributos que
não podem faltar ao caráter de um artesão que se propôs a fabricar o seu
próprio queijo à moda antiga, mesmo dispondo de alguns acessórios industrializados.
E´ muito interessante acompanhar o trabalho de Jean Claude em seu ateliê: num ambiente imaculadamente
limpo, o maquinário moderno contrasta com a decoração rústica que ornamenta a
parede. Não há nenhum constrangimento em penetrar neste recinto, sequer
qualquer obrigação em tirar os sapatos. E´ tudo muito simples, assim como o
passo a passo do processo. Compenetrado desde os primeiros minutos, Jean Claude
cumpre as tarefas como se fosse um ritual. Cada gesto é antecipado, pensado,
preciso. Sempre atento, cada etapa do processo de evolução e transformação é
observado. Ele se desdobra e não perde qualquer mudança que possa ocorrer na
temperatura ou na consistência da massa que se forma no caldeirão. Nenhum
detalhe escapa aos seus olhos de perito. Toda a operação não dura mais que duas
horas, que passam voando. Às oito e meia da manhã, já temos diante de nós nada
menos que 14 queijos de raclette, cada um com aproximadamente 5 quilos, prontos
para serem levados para a salmoura e em seguida para uma cave onde permanecerão
pelos próximos meses até serem devidamente comercializados.
Se para Jean Claude, a jornada de
trabalho pode durar até 18 horas ,para quem vem de fora, é tudo novidade. Olhar
esta paisagem imaculada e ouvir o tilintar característico dos sinos das vacas
soltas nos pastos é uma fusão de impressões que fica gravada na memória. E
mesmo que o queijo de raclette seja posteriormente
comprado num supermercado, vale a pena ter conhecido o trabalho deste autêntico
artesão do queijo.
Que delícia! Imagino a estradinha sinuosa...deve ser um sonho ��
ResponderExcluirQue delícia! Imagino a estradinha sinuosa...deve ser um sonho ��
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