segunda-feira, 20 de março de 2017

Na rede, al fresco, Poconé, Mato Grosso


Cara de amigo ou não? Melhor não colocar nada ao alcance de sua mão...
Olhar xpto... 

Animais silvestres, como os coatis, jacarés, veados e tamanduás não costumam surgir na sua frente com facilidade. Muito menos numa rodovia. Porém, ao longo dos 196 quilômetros da Transpantaneira, uma larga estrada de terra em linha reta, que começa em Poconé e termina às margens do rio Cuiabá, em Porto Jofre, no Mato Grosso, é possível se deparar com qualquer um destes bichos – e muitos outros -  atravessando a pista de um lado para o outro.


Entrada da Transpantaneira: uma surpresa a cada curva

 Além de observar estes cobiçados espécimes da fauna brasileira, na área da Transpantaneira é também possível praticar atividades ecoturisticas de baixo impacto ambiental, como longos passeios a cavalo, pesca esportiva, passeios de bicicleta off-road, canoagem e, claro, o tradicional bird-watching. E como se não bastasse, outro indescritível espetáculo da natureza é o sol poente que, no formato de uma enorme bola laranja, ilustra mais um cartão postal deste Patrimônio da Humanidade.

Mas, é fundamental se acostumar com a rotina do Pantanal, que começa antes das 6 horas da manhã, pois bicho não tem essa coisa de dormir até tarde. O objetivo é contemplar o máximo de animais quando estão buscando o que comer e ver como se comportam. E é apenas nestas poucas horas matinais que conseguimos captá-los fora de suas tocas e ninhos. Depois o sol é tão forte que todos se recolhem novamente ao seu habitat, enquanto vocês, turistas (convencionais) felizardos, merecem se estirar na beira da piscina, com direito à sombra e água fresca.

Fofos, este micos. Mas, evite se aproximar, pois podem se tornar agressivos.

 Ou, melhor ainda, saboreando uma deliciosa caipirinha. À tardinha, recomeça a programação. Os mais esportivos podem optar por longas pedaladas pela estrada, ou fazer um passeio de canoa canadense em determinados trechos do rio, onde se abrigam muitas espécies de animais e aves sob os aguapés.
Até agora, está tudo dentro dos parâmetros do turista padrão, que aproveita a natureza ao seu redor sem arriscar nada e se hospeda na pousada como gente grande. Mas, quem não arrisca não petisca o melhor do Pantanal.



Vamos falar então das cavalgadas, que levam os turistas através de extensos descampados, que ficam alagados na época da cheia - tome nota, a partir de julho, já é época da seca.  Sem problemas, pois o cavalo da raça pantaneira é totalmente adaptado ao meio ambiente. Passear por algumas horas é agradável, no entanto estas aventuras podem ser estendidas por um ou dois dias, dependendo do roteiro escolhido. Resolvi arriscar uma noite al fresco, com a promessa de que seria um programa imperdível, único e inesquecível. Deveras.


O cavalo pantaneiro, tranquilo e dócil, acostumado com o terreno nem sempre transitável.

Mas, dormir no meio da natureza pode apetecer apenas às pessoas que não se incomodam com, digamos, a possibilidade de se deparar com um animal silvestre. Se for um coati, ainda passa. Um veadinho, mais bonitinho ainda. Um tamanduá é simpático. Uma onça já vai mudar o cenário, mas, convenhamos, é muuuuuuuuuito raro isto acontecer. Tem peão que admite nunca ter visto uma em décadas de peregrinações mata adentro. Então, isto não me deixou nervosa. Uma cobra atravessar o caminho, isso sim, dá calafrios.


Noite adentro, então, seria um pesadelo. Ainda mais que você dorme em redes. E redes até nada sofisticadas, tanto que na ocasião uma delas rasgou e o infortunado dorminhoco teve que se arranjar de improviso - acabou deitando encima de uma mesa comprida, alimentando a fogueira de hora em hora, afim de evitar que qualquer coisa se aproximasse do acampamento.


Juntando a tropa de manhãzinha

O cenário selvagem vale este programa. Casais de araras sobrevoando os descampados no final da tarde, os sobressaltos eventuais - você nunca sabe qual é o bicho que vai aparecer na sua frente... Macacos me mordam, mas é um sem-fim de bugios ( nem sempre com cara de muitos amigos...), a mata emite uns sons assustadores que nem sempre são identificáveis aos ouvidos de urbanoídes... O climax da chegada do grupo durante o lusco-fusco no acampamento improvisado, apear do cavalo após cinco horas na sela - isso  traz uma sensação indescritível de realização ( e alívio). E todo o espírito aventureiro sobressai, você ajuda a montar as redes no redário, abastecer a fogueira, depois é só sentar em volta do fogo e esperar que saia o churrasco. Isso mesmo, churrasco, cerveja gelada, quem diria!  Que você, faminto, vai degustar como se estivesse no melhor restaurante do mundo. E não é?

Bate papo de comadres e compadres

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