Pôr-do-sol parisiense não é brincadeira |
Numa ensolarada manhã de junho de 1819, Benoit Véro cerra a porta de seu açougue, que fica na esquina da rua Montesquieu, e atravessa a rua para realizar o grande investimento de sua vida: comprar os dois imóveis situados bem em frente ao seu estabelecimento. A sua idéia, e a do seu associado e homem de negócios François Dodat, é construir um empreendimento imobiliário diferente, unindo os prédios por um elaborado telhado de vidro, formando assim uma passagem coberta entre as ruas Jean Jacques Rousseau e Croix-des-Petits-Champs.
Precursores dos shopping centers, os passages e galerias de Paris vêm sendo redescobertos por quem quer fugir do alvoroço das ruas e dos grandes magazines. |
Descobertas incríveis nas galerias centenárias |
Sete anos mais tarde, sob o reinado de Carlos X, inaugurava-se na capital uma das mais belas criações arquitetônicas do gênero, a Galerie Véro-Dodat. Bem iluminado por luz natural de dia e agraciado com lamparinas à noite, protegido do frio, da chuva e do sol, o local se torna ideal para a instalação de pequenas butiques, que enfileiradas de um lado e de outro, fazem florescer um comércio eclético e sofisticado nos seus 80 metros de extensão. Batizada como galerie porque soava mais chique, a Véro-Dodat é considerada até hoje como uma das mais elegantes de Paris, devido à sua decoração muito elaborada.
Discreta, porém estrategicamente localizada próxima ao Palais Royal, hoje continua abrigando lojas de antiquários, exibindo mobília centenária e outras vitrines raras, como restauradores de bonecas antigas. Curiosamente, (sinal dos tempos!) estes comerciantes tradicionais convivem em harmonia com os segmentos modernos que encontraram verdadeiros nichos nestes redutos históricos.
Mas, mesmo antes de surgir a Galerie Véro-Dodat como marco em 1826, algumas construções pioneiras, como o Passages des Panoramas, , marcam o início de inúmeros empreendimentos de estruturas transparentes e decoração elaborada. O auge se dá principalmente entre 1823 a 1828 e numa segunda fase, de 1839 a 1847, quando insuflados por uma onda de especulação sem precedentes, pipocam passages por toda a Rive Droite, concentrados nas grandes avenidas e ruas movimentadas frequentadas pelas multidões e em bairros emergentes como a Madeleine, onde se encontravam os terminais das diligências.
Além disso, também são construídos passages contíguos às salas de espetáculos, atraindo o público que se deliciava em perambular de um lado ao outro para ver e ser visto na saída do teatro ou da ópera. Basta contar que existiam mais de 150 galerias e passages em 1870, mas embora este fenômeno só proliferasse em Paris nesta época tardia, a idéia de passagens cobertas já era antiga, e sempre existiram em formas variadas dependendo das civilizações. Um dos moldes mais conhecidos universalmente é o souk árabe.
Muito mais do que um atalho entre duas ruas reservado a pedestres, os passages e as galerias se transformam em verdadeiros refúgios para os consumidores parisienses que, desde o início, se regozijavam com a oportunidade de poder fazer compras sossegados de loja em loja, sentar-se num café para ler o jornal, abrigados do barulho dos veículos destrambelhados, das intempéries e, detalhe, sem ter que sujar os sapatos de lama pelas ruas ainda sem calçadas da Paris de meados do século XIX. E mais: à noite, eram os únicos lugares públicos iluminados por lamparinas a gás.
Entretanto, quando surgiram os amplos magazines e os shopping centers em edifícios modernos, os estreitos passages com suas pequenas butiques caíram em desuso. Somente no final das últimas décadas é que se reacende o interesse por estes tradicionais redutos, locais de inspiração onde hoje, como antigamente, dá para fugir do caos automobilístico e do fluxo turístico de massa.
![]() |
Palais Royal |
Entretanto, quando surgiram os amplos magazines e os shopping centers em edifícios modernos, os estreitos passages com suas pequenas butiques caíram em desuso. Somente no final das últimas décadas é que se reacende o interesse por estes tradicionais redutos, locais de inspiração onde hoje, como antigamente, dá para fugir do caos automobilístico e do fluxo turístico de massa.
Verdadeiras caças a tesouros podem ser empreendidas nestes oásis de tranqüilidade, onde preciosidades se escondem em seus recintos, tanto para leigos como colecionadores. Sebos e livrarias especializadas, outrora também salões de leitura, lojas de fantasias, objetos antigos, peças raras e um comércio de luxo selecionado são os figurantes destes cenários arquitetônicos, hoje convertidos em templos culturais e históricos. E gastronômicos, é evidente, pois não faltam cafés, bares, delicatessen, e restaurantes gourmês, que fisgam o passante pelo olfato. Além disso, há salões de beleza, brechós e redutos de designers, onde grifes famosas compartilham democraticamente os espaços com os dégriffés .
Existem até mesmo hotéis, recatados porém cheios de charme rétró , como o Chopin, um dois-estrelas encravado no final do Passage Jouffroy e vizinho de porta do Musée Grévin, museu de cera instalado bem no começo da galeria. Mas, pessoalmente, recomendo o sofisticado Mandarin Oriental, que fica a walking distance de muitos destes passages. Você está no Faubourg St. Honoré, em si um endereço histórico, onde se alinham as melhores griffes. O hotel em si é muito discreto, é fácil passar na calçada e nem reparar a sua entrada. Até o letreiro é low profile. O glamour fica lá dentro, em seu jardim aconchegante, e no ambiente de bom gosto, ali os hóspedes estão imersos em um verdadeiro oásis de tranquilidade e luxo até nos pequenos detalhes. Marca registrada dos Mandarins.
Outro reduto interessante é o Passage Verdeau, nicho de aparelhos fotográficos antigos e imagens originais para os aficionados da arte. Por 3 mil euros, quem quisesse poderia se apropriar de uma autêntica câmera tricoma W. Bermphol Berlin exposta na vitrine da loja Photo Verdeau, que ao longo dos duzentos anos de sua existência sempre pertenceu a fotógrafos. Em outro local, nos Passages des Panoramas, que desemboca no Boulevard Montmartre, o espaço já é conhecido pelos amantes da filatelia e também pela abundância de lojinhas onde são vendidos cartões postais antigos. Raridades como o visual da Avenida Paulista no início do século XX ou até imagens rurais do interior do Brasil e lindas vistas panorâmicas podem ser flagradas - e compradas por cerca de 40 euros cada – na loja do sr. Patrick Prins, que apesar de não precisar exatamente quantos cartões possui na sua loja, garante que são mais de 300 mil. “ As pessoas vêm aqui por curiosidade, mas muitas querem ver se conseguem encontrar alguns familiares nos cartões postais de antigamente,” revela ele, que manipula diariamente caixas e mais caixas de postais oriundos do mundo inteiro, escritos ou virgens, e devotamente catalogados por ele e o filho. Ao atravessar a porta estreita deste pequeno universo, entra-se numa máquina do tempo, de história e de...saudosas lembranças do passado.
![]() |
Mandarin : Rue Faubourg St. Honoré, um endereço clássico e fachada discreta |
Existem até mesmo hotéis, recatados porém cheios de charme rétró , como o Chopin, um dois-estrelas encravado no final do Passage Jouffroy e vizinho de porta do Musée Grévin, museu de cera instalado bem no começo da galeria. Mas, pessoalmente, recomendo o sofisticado Mandarin Oriental, que fica a walking distance de muitos destes passages. Você está no Faubourg St. Honoré, em si um endereço histórico, onde se alinham as melhores griffes. O hotel em si é muito discreto, é fácil passar na calçada e nem reparar a sua entrada. Até o letreiro é low profile. O glamour fica lá dentro, em seu jardim aconchegante, e no ambiente de bom gosto, ali os hóspedes estão imersos em um verdadeiro oásis de tranquilidade e luxo até nos pequenos detalhes. Marca registrada dos Mandarins.
![]() |
Conforto e serviço impecável são marcas registradas |
Outro reduto interessante é o Passage Verdeau, nicho de aparelhos fotográficos antigos e imagens originais para os aficionados da arte. Por 3 mil euros, quem quisesse poderia se apropriar de uma autêntica câmera tricoma W. Bermphol Berlin exposta na vitrine da loja Photo Verdeau, que ao longo dos duzentos anos de sua existência sempre pertenceu a fotógrafos. Em outro local, nos Passages des Panoramas, que desemboca no Boulevard Montmartre, o espaço já é conhecido pelos amantes da filatelia e também pela abundância de lojinhas onde são vendidos cartões postais antigos. Raridades como o visual da Avenida Paulista no início do século XX ou até imagens rurais do interior do Brasil e lindas vistas panorâmicas podem ser flagradas - e compradas por cerca de 40 euros cada – na loja do sr. Patrick Prins, que apesar de não precisar exatamente quantos cartões possui na sua loja, garante que são mais de 300 mil. “ As pessoas vêm aqui por curiosidade, mas muitas querem ver se conseguem encontrar alguns familiares nos cartões postais de antigamente,” revela ele, que manipula diariamente caixas e mais caixas de postais oriundos do mundo inteiro, escritos ou virgens, e devotamente catalogados por ele e o filho. Ao atravessar a porta estreita deste pequeno universo, entra-se numa máquina do tempo, de história e de...saudosas lembranças do passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário