Baleia fazendo piruetas diante dos nossos olhos
O Rosa – como é carinhosamente chamada a Praia do Rosa - está circundada por várias lagoas salgadas e doces, como a bucólica Lagoa do Meio e a do Piri, e deve o seu nome à família que vivia lá há dezenas de anos atrás. Localizada a 70 quilômetros de
Florianópolis, em Santa Catarina, este antigo reduto de casinhas de pescadores e
moinhos de mandioca atrai centenas de pessoas por dia, em sua maioria surfistas
em busca das melhores ondas do litoral sul e com condições ideais durante o ano inteiro.
Em alta
temporada, o lugar tem um fluxo enorme de turistas, mas mesmo assim, acordando
cedo, é possível encontrar longas faixas de areia branca quase desertas.
Principalmente se a opção for ir ao Canto Norte, onde os surfistas vão chegando
em doses homeopáticas.
O bom astral é tanto que é de praxe todo mundo se
cumprimentar, ou mesmo compartilhar a sua cuia de chimarrão – hábito bastante
comum na areia, já que os vizinhos gaúchos são frequentadores assíduos do lugar.
Nos meses de inverno, toda a orla vira palco para as
estripulias das baleias francas, que passam quase três meses habitando este
trecho do litoral sul, onde dão cria e as amamentam até ficarem fortes o
suficiente para zarparem rumo a águas (ainda mais) frias. O impressionante é a
convivência pacífica entre surfistas, banhistas e admiradores, pois estes
monumentais mamíferos chegam tão perto da praia que dá para observá-los a olhos
nus. Quando fomos, ainda era possível chegar bem pertinho deles, que não se intimidam com a aproximação de humanos.
Ao longo dos últimos anos, abriram-se as portas de charmosas
pousadas para abrigar um fluxo cada vez mais crescente de visitantes, que
escolhem a Praia do Rosa para passarem férias ou feriados prolongados. Hoje, há
excelentes opções de hospedagem para agradar a todos os gostos, algumas de
destaque como o Solar Mirador, cuja vista inebriante sobre toda a faixa de
praia e a Lagoa do Meio já faz jus ao nome.
A pousada, membro das cadeias Conde
Nast Johansen e Circuito Elegante, conta com apenas 11 suites e um bangalô “
lua de mel”, todos individuais com varanda e alguns com deck e jacuzzi, que inspiram
ao descanso e ao namoro. Por estarem de frente para o mar, o difícil mesmo é
desgrudar os olhos do panorama incrível que desponta no horizonte desde os
primeiros raios de sol até o anoitecer. O serviço é irrepreensível, deixando
cada hóspede à vontade e sentindo-se em casa.
O varandão se debruça sobre uma paisagem cinematográfica |
Num primeiro impulso, assim que acorda, você quer
mesmo é ficar debruçado no terraço da pousada, admirando a vista e, de longe,
em tamanho liliputiano, os surfistas que domam as ondas perfeitas do Rosa. Mas
aí, devido às calorias armazenadas durante o farto café da manhã, a razão leva
vantagem sobre o coração e você acaba criando coragem para descer uma centena
de degraus até a lagoa para ser levado num simpático bote até a praia.
Uma vez
lá, já não há mais desculpa para deixar de explorar toda a extensão do Canto
Sul – onde está o burburinho – ao Canto Norte – onde a praia fica sendo praticamente
sua. Os mais aventureiros podem dar uma
esticada até a lagoa de Ibiraquera, subindo por uma trilha através de pastos e
descampados, alcançando o topo de uma colina de onde se desvenda um panorama de
360º. E´ de ficar boquiaberto. O passeio
culmina com um almoço bem típico em um dos pequenos restaurantes na beira da
lagoa – que pode ser atravessada a pé na maré baixa e de canoa na alta.
Invariavelmente, é uma corrida para se chegar a tempo
de estar bem posicionado para admirar o pôr-do-sol, seja do deck de sua varanda
particular ou deitado numa espreguiçadeira tomando um drinque na beira da
piscina, enquanto a luz vai aos poucos se esvaindo, deixando serpentinas
rosadas riscando o céu.
Em noites de lua cheia, prepare-se para outro
espetáculo grátis : um fragmento de bola luminosa desponta de repente no
horizonte, como uma laranja pálida, e aos pouquinhos vai emergindo de dentro
d´água até se libertar completamente e invadir o céu. O solar Mirador,
convenhamos, não foi batizado com esse nome à toa.
A vista de cima do morro é espetacular |
Felizmente, a assiduidade dos aficionados
do esporte em nada atrapalha quem está à
procura de um lugar sossegado para descansar, tomar sol e curtir longas
caminhadas ao longo de toda a extensão da praia. Tanto estes esportistas quanto os moradores,
em sua maioria pessoas que fugiram do tumulto das cidades grandes e encontraram
no Rosa um oásis de paz e beleza natural , têm verdadeira ojeriza à desordem
causada pelo turismo de massa e buscam de todas as maneiras preservar a sua
praia.
Trilhas arenosas levam de uma praia à outra |
E quem não surfa ou prefere caminhar, ao seu redor há trilhas quilométricas que serpenteiam nos morros e nas encostas, possibilitando chegar a mirantes de onde se
desvendam as vistas mais espetaculares da região. São uma atração a mais para quem ouviu falar da lenda do Caminho
do Rei, uma famosa rota traçada pelo meio da mata, e que se estende de
Florianópolis até o sul do estado, na divida com Torres, no Rio Grande do Sul.
O caminho abrange as encostas de todas as praias, como Pinheira, Garopaba,
Ferrugem, Ouvidor, Vermelha, e passando,
é claro, pelo Rosa. Embora este
caminho tenha caído em desuso, houve uma fase de intenso movimento comercial em
meados do século XIX.
Antigamente, os
portugueses com escravos carregavam
mercadorias, baús abarrotados de moedas
e outras riquezas em ouro e prata nos lombos de mulas. Subiam e desciam
pelas trilhas, as quais desmatavam com coragem e disposição. Segundo reza a lenda, muitas destas arcas
foram enterradas pelo caminho, e o que se sabe é que algumas pedras levam as
marcas que sinalizam a presença de um tesouro. Dizem, também, que alguns foram
encontrados por nativos da região, mas este segredo ninguém desvenda...
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