sábado, 24 de setembro de 2016

Hotelito Lupaia, Torrita di Siena, Itália

Paisagem toscana tem seu encanto em cada colina, cada vilarejo e a cada curva
Setembro é um mês mágico na Toscana. As cores estão no auge, a temperatura é uma carícia para todos os sentidos, o aroma que se desprende dos vinhedos e da terra traz uma paz de espírito indescritível. Saindo de Florença , depois de algumas dezenas de quilômetros,  a região vai surgindo atrás dos montes e colinas e aos poucos você estará imbuído pela essência toscana.
A lista dos vilarejos que pontilham o itinerário é infinita. Dá pra passear por vários no mesmo dia ou passar vários dias no mesmo lugar. O tempo não é empecilho, apenas a falta dele. Cada vez que vou pra Toscana , descubro recantos novos, relembro de detalhes que me encantaram, me deixo levar pela memória do passado. E tenho o ímpeto de querer conhecer cada vez mais, me adaptar aos costumes locais e até mesmo permanecer por um bom período por lá.

Ciclistas aproveitam para explorar as strade bianche onde quase não passa carro nem gente

E como sabem receber os visitantes, esse povo simpático, acolhedor, falante, que interage com a gente nas ruelas estreitas, nos restaurantes, nas lojinhas... Nomes sonoros como Montepulciano, Montalcino, Montefollonico e muitos outros soam como melodia aos meus ouvidos. São os vilarejos que ornamentam a topografia deste pedacinho ( ou pedação!) da Itália.
Numa revista descobri um hotelzinho chamado Lupaia, um achado entre muitos outros que se espalham por todos os lados. Meu instinto me dizia que era uma boa escolha.

Montepulciano
Nem hesitei e foi um daqueles achados que você dá pulinhos de alegria quando chega na porta...Muito embora a gente tenha se estressado um bocado pra descobrir o esconderijo.
O jardim privado, e diante dos olhos muito cenário verde!
Veja bem, é muito comum você se perder na Toscana. Porque a Itália não é campeã de sinalização e nem sempre o gps cumpre o seu papel. Acaba que você entra em estradinhas de terra, que aqui eles chamam de strada bianca, e vai indo e indo até chegar numa fazenda ou num beco sem saída.


O Hotelito Lupaia, que fica em Torrita de Siena, está na realidade a quilômetros-luz de Siena. Pra chegar, recomendo se planejar pra ser  de dia, porque o risco de se perder pela estrada sinuosa e sem iluminação,  é grande. Aconteceu com a gente. Mas, olha só a recompensa...Olha o quarto que escolhi, com essa decoração...Foi muito bom! O chuveiro atrás daquela cortina azul, espaço pra dar e vender...Só precisava ter cuidado com o degrau.
Soube que o hotel está com novos proprietários porque uma amiga foi pra lá e se deliciou também com o ambiente, o bom gosto, a privacidade, enfim, com o cenário em geral. Pretendo voltar um dia...


Cama de fazer príncipe??

Programa imperdível é caminhar diariamente pelas tais strade bianche, ladeadas por vinhedos e algumas casas, fazendolas e pastos. E ainda com a possibilidade de se deparar diante de uma paisagem como esta abaixo, que parece areia mas nada mais é do que terra revirada pronta pra ser arada. No meio do verde, e vista de longe, o efeito ótico é formidável...



A strade bianca serpenteia entre campos e arados

Catando as azeitonas














Nos campos em volta, sempre muito bem cuidados,
há muito o que observar, como os campesinos catando as azeitonas das oliveiras centenárias. Os vilarejos, um must,  que você deve explorar mesmo a pé, ficar pra almoçar ou jantar, são tão pitorescos que é impossível comparar um com o outro, pois cada um merece elogios e tem suas características próprias.

Banhado por uma inusitada luz âmbar que banha os relevos da natureza, a Toscana se transforma num quadro de indescritível beleza. A paisagem hipnotiza o visitante em qualquer época do ano. Nos meses de inverno faz frio, mas não é aquele frio de rachar. De inconveniente, há ventos fortes, mas pouca chuva, e o sol é suave nos dias claros. 

No outono, aquelas hordas de turistas demandantes já se dissiparam, o que permite aos visitantes tardios uma exploração mais prazerosa pelas cidadezinhas desafogadas. Sem contar que já não é preciso fazer reservas (ou fila !) nos restaurantes, e os garçons dispensam muito mais atenção aos clientes.

As paradas são floreadas com bastante atividades. Come-se, bebe-se e caminha-se pelas ruelas onde, em geral, os automóveis são proibidos. Na Cantina  Il Cantuccio (Via del Cantine, que fica na Piazza Grande) em Montepulciano, a recomendação é pedir uma garrafa de Vino Nobile di Montepulciano e vale a pena provar uma grappa  (uma aguardente que é tomada após as refeições). Almoçar uma pizza e beliscar um prosciutto  (presunto) feito de carne de javali pode substituir um prato de spagetthi. E, como sobremesa, ou a qualquer hora, nada como se fartar com os deliciosos sorvetes  italianos. Sabor não se discute, mas o de nocciola (avelã)- pronuncia-se nó-ti-óla - é inimitável. Por outro lado, o que não falta são butiques para quem gosta de fazer compras. E  até os menos consumistas vão sentir prazer em percorrer as ruas apreciando os belos trabalhos em cerâmica expostos nas vitrines das lojinhas de artesanato.




 Aliado à calmaria, é no tráfego que se sente a maior diferença: ao invés da correição de automóveis que se contorce por quilômetros a fio nas estradinhas sinuosas, já é possível transitar vagarosamente de alto a baixo das colinas sem ter alguém colado no seu pára-choque. Outubro traz as colheitas, ou a vendemmia. E também  as amoras que crescem à beira dos campos e em todo lugar. Os funghi (cogumelos) também proliferam nos bosques – mas nem cogite em ir catá-los, pois é preciso sapiência para evitar os venenosos.  


Parece uma imagem surreal , mas é a luminosidade que contribui para dar este efeito à terra arada








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