Um pouco desnorteados após serpentear
por mais de duas horas entre colinas e vales em estradinhas sinuosas
emolduradas por vinhedos, paramos o carro diante de (mais) uma bifurcação cuja
placa sinalizava novamente a direção para Tavarnelle Val di Pesa.
Só que desta
vez, ao invés de mapa, foi preciso se guiar pelo instinto: a placa indicava
Tavernelle para a direita...e também para a esquerda. Um enigma nada
surpreendente nesta região de Chianti, que apesar de ter menos de 200 quilômetros de perímetro abrangendo uma
área de 200 mil acres, tem uma sinalização tão complexa quanto a de uma grande metrópole.
A melhor maneira de explorar a região de Chianti é alugar um carro em um dos aeroportos mais próximos, Siena ou Florença.
Tomando Siena como ponto de partida, o circuito não chega a 200 quilômetros . Procure sempre circular pelas estradinhas secundárias, que margeiam os vinhedos e atravessam os minúsculos vilarejos. Escolha uma cidadezinha para pernoitar e trace um circuito próprio. As distancias são pequenas, porém é muito fácil se confundir, pois além das estradinhas sinuosas serem bem parecidas, a sinalização é um pouco confusa naquela região rural. Mas seja lá onde for parar, haverá sempre uma paisagem exuberante.
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estradinhas de terra, adequadas para caminhar entre vinhedos |
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Charmoso e confortável, o Borgo di Cortefreda é muito bem localizado |
Foi por mero acaso que encontramos o Borgo di Cortefreda , um relais em Tavarnelle Val Di Pesa, onde chegamos de sopetão, sem reserva e ficamos, super bem acomodados, pelos próximos dias em que ficamos zanzando, explorando a região. Sorte pura, porque a tendência é encontrar zero de disponibilidade. O hotel, construído recentemente mas com um charmoso estilo arquitetônico toscano, oferece conforto e acomodações amplas com serviço eficiente e preço muito razoável para o padrão quatro estrelas. Conta com restaurante próprio, piscina, wi-fi e possibilidade de massagem no quarto. A comida era ótima e, de fato, conseguimos uma diária super em conta.Aliás, ele vive fazendo ótimas promoções!!
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Vista do nosso quarto:pátio e piscina |
Considerando que se trata de um dos recantos mais lindos e charmosos da
Toscana rural, se perder faz parte do programa e a única surpresa fica por
conta da paisagem exuberante que vai ser descortinada atrás de cada curva. Chianti
é demarcada ao norte pela cidade de Florença e ao sul por Siena, que fica a
apenas 20 km
de alguns dos vilarejos mais atraentes da região. Logo após deixar a superstrada Firenze-Siena, é inevitável ( e fundamental)
se embrenhar pela topografia montanhosa de Chianti. O maior impacto é a
sensação de estar voltando no tempo, pois a arquitetura local - composta por
monumentos, igrejas, cidadelas fortificadas e castelos que datam dos séculos 14, 15 e 16 - permanece
intacta.
A explicação está em fatos históricos: após a 2ª Guerra, os habitantes
das áreas rurais deixaram os seus vilarejos nativos e migraram para as grandes
cidades. A região de Chianti ficou praticamente abandonada, mas graças a isso
as suas construções seculares não foram desfiguradas pela arquitetura moderna
que tanto enfeou os traços de belíssimas cidades.
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Paisagens de tirar o fôlego, a qualquer época do ano |
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Iguarias toscanas |
Pêssego, melão, figo ou frutas
vermelhas? À primeira vista, parecem sabores do tão saboroso gelato. Mas não é sorvete,não. Trata-se
de sabonetes naturais, com ingredientes inusitados: tomate, limão, café,
cebola, uvas e figos. Nativa da Toscana com sede em Florença, esta linha de cosméticos se inspirou
na natureza para criar formulas de beleza enriquecidas com ingredientes
naturais que a pele ‘reconhece” e assimila.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6K7HSaS5BnWWvhIhEHqqECLwvzRvEU0Z0pORRfbhaniN-G4BIyqWEj5HT7UgYacrlE2NCyFM13ov24mDcCyk9EZbnrkr_rdc3xGOXj23gEvY3DZ4KGsgRqjqb8DZpuPligi77xdN9HSh8/s200/06940293.jpg)
São
quase sempre operadas por um casal e seus parentes, e o atendimento é
extremamente simpático - até mesmo com aquelas pessoas com carimbo de turista
escrito na testa. Além disso, é uma boa maneira de sentir a atmosfera de um
vilarejo tipicamente chiantigiano onde
a clientela é toda conhecida e os “patrões”
engrenam uma conversa com cada um sobre qualquer assunto pessoal.
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Gelato italiano, quem resiste? |
E falando em guloseimas, gelato rima com pecato – pelo menos no idioma de Dante. A coincidência não é apenas
fonética : o sorvete italiano faz qualquer mortal sucumbir à tentação e cometer
o pecado da gula. Irresistíveis eles são, estes gelati expostos
impiedosamente em vitrines em quase todas as esquinas, numa vasta seleção de
sabores que atende por nomes tão cremosos quanto o seu paladar : sorbetto, granita, cassata, amaretto, fiori di latte, zapaione, bacio,
fragola, frutti di bosco, nocciola, granito di limone, stracciatella, entre
muitos outros que soam ainda mais pecaminosos.
Mas vamos lembrar que Chianti,
antes de mais nada, tem uma prestigiosa tradição enológica. Devido às suas origens vulcânicas, o solo
arenoso só se presta bem para vinhedos. As oliveiras foram plantadas há pouco
tempo, mas são cultivos limitados. O que a região evoca mesmo em primeira mão são
os vinhos. Para quem aprecia mais que o bom vino
da tavola ( vinho da casa) para acompanhar uma refeição, um programa é
percorrer a região visitando algumas fattorias
(adegas) e as vinícolas que ficam abertas ao publico. Há até seminários
temáticos organizados, que levam os interessados às adegas para demonstração do
envelhecimento do vinho, como propõe a Fattoria La Castellina.
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Banhado por uma inusitada luz
âmbar que banha os relevos da natureza, Chianti se transforma num quadro de
indescritível beleza. A paisagem hipnotiza o visitante em qualquer época do
ano. Nos meses de inverno faz frio, mas não é aquele frio de rachar. De
inconveniente, há ventos fortes, mas pouca chuva, e o sol é suave nos dias
claros. Embora chova freqüentemente, é na primavera que a região começa a ser
assediada por gente do mundo inteiro, culminando em julho e agosto com as
multidões que se aglomeram na Piazza del Campo em Siena para assistir ao Palio,
as famosas corridas de cavalos que datam da Idade Média.
No outono, aquelas
hordas de turistas demandantes já se dissiparam, o que permite aos visitantes
tardios uma exploração mais prazerosa pelas cidadezinhas desafogadas. Sem
contar que já não é preciso fazer reservas (ou fila !) nos restaurantes, e os
garçons dispensam muito mais atenção aos clientes. Ao procurar informações junto
às ufficios de turismo, os atendentes
fornecem os dados tim-tim com um sorriso e nos mais charmosos hotéis, em geral
abarrotados, já há disponibilidade. E, –
melhor ainda! – todas as tabelas de preços baixaram copiosamente. Aliado à
calmaria, é no tráfego que se sente a maior diferença: ao invés da correição de
automóveis que se contorce por quilômetros a fio nas estradinhas sinuosas, já é
possível transitar vagarosamente de alto a baixo das colinas sem ter alguém
colado no seu pára-choque. Outubro traz as colheitas, ou a vendemmia. E também as
amoras que crescem à beira dos campos e em todo lugar. Os funghi (cogumelos) também proliferam nos bosques – mas nem cogite
em ir catá-los, pois é preciso sapiência para evitar os venenosos.
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