quarta-feira, 1 de junho de 2016

Borgo di Cortefreda, Tavarnelle Val di Pesa, Chianti, Itália

 
À descoberta da região de Chianti


Um pouco desnorteados após serpentear por mais de duas horas entre colinas e vales em estradinhas sinuosas emolduradas por vinhedos, paramos o carro diante de (mais) uma bifurcação cuja placa sinalizava novamente a direção para Tavarnelle Val di Pesa.

 Só que desta vez, ao invés de mapa, foi preciso se guiar pelo instinto: a placa indicava Tavernelle para a direita...e também para a esquerda. Um enigma nada surpreendente nesta região de Chianti, que apesar de ter menos de 200 quilômetros de perímetro abrangendo uma área de 200 mil acres, tem uma sinalização tão complexa quanto a de uma grande metrópole. 

A melhor maneira de explorar a região de Chianti é alugar um carro em um dos aeroportos mais próximos, Siena ou Florença.

Tomando Siena como ponto de partida, o circuito não chega a 200 quilômetros. Procure sempre circular pelas estradinhas secundárias, que margeiam os vinhedos e atravessam os minúsculos vilarejos. Escolha uma cidadezinha para pernoitar e trace um circuito próprio. As distancias são pequenas, porém é muito fácil se confundir, pois além das estradinhas sinuosas serem bem parecidas, a sinalização é um pouco confusa naquela região rural. Mas seja lá onde for parar, haverá sempre uma paisagem exuberante.

estradinhas de terra, adequadas para caminhar entre vinhedos
Charmoso e confortável, o Borgo di Cortefreda é muito bem localizado

Foi por mero acaso que encontramos o Borgo di Cortefreda , um  relais em Tavarnelle Val Di Pesa, onde chegamos de sopetão, sem reserva e ficamos, super bem acomodados, pelos próximos dias em que ficamos zanzando, explorando a região. Sorte pura, porque a tendência é encontrar zero de disponibilidade. O hotel, construído recentemente mas com um  charmoso estilo arquitetônico toscano,  oferece conforto e acomodações amplas com serviço eficiente e preço muito razoável para o padrão quatro estrelas. Conta com restaurante próprio, piscina, wi-fi e possibilidade de massagem no quarto. A comida era ótima e, de fato,  conseguimos uma diária super em conta.Aliás, ele vive fazendo ótimas promoções!!
Vista do nosso quarto:pátio e piscina

Considerando que se trata de um dos recantos mais lindos e charmosos da Toscana rural, se perder faz parte do programa e a única surpresa fica por conta da paisagem exuberante que vai ser descortinada atrás de cada curva. Chianti é demarcada ao norte pela cidade de Florença e ao sul por Siena, que fica a apenas 20 km de alguns dos vilarejos mais atraentes da região.  Logo após deixar a  superstrada  Firenze-Siena, é inevitável ( e fundamental) se embrenhar pela topografia montanhosa de Chianti. O maior impacto é a sensação de estar voltando no tempo, pois a arquitetura local - composta por monumentos, igrejas, cidadelas fortificadas e castelos  que datam dos séculos 14, 15 e 16 - permanece intacta. 

A explicação está em fatos históricos: após a 2ª Guerra, os habitantes das áreas rurais deixaram os seus vilarejos nativos e migraram para as grandes cidades. A região de Chianti ficou praticamente abandonada, mas graças a isso as suas construções seculares não foram desfiguradas pela arquitetura moderna que tanto enfeou os traços de belíssimas cidades.

Paisagens de tirar o fôlego, a qualquer época do ano


Iguarias toscanas



Pêssego, melão, figo ou frutas vermelhas? À primeira vista, parecem sabores do tão saboroso gelato. Mas não é sorvete,não. Trata-se de sabonetes naturais, com ingredientes inusitados: tomate, limão, café, cebola, uvas e figos. Nativa da Toscana com sede em  Florença, esta linha de cosméticos se inspirou na natureza para criar formulas de beleza enriquecidas com ingredientes naturais que a pele ‘reconhece” e assimila. 

Para quem quer levar uma lembrança original de volta para casa,  é uma boa pedida. E nem valem o peso em ouro: apenas 2,80 euros por uma barra de 250 gramas. Até porque a maioria das iguarias da região de Chianti encontradas nas prateleiras – vinhos, prosciutto, funghi porcini (cogumelos desidratados) queijos e óleo de oliva – são produtos relativamente caros.  Mas mesmo sem comprar tudo que deleita os olhos, não deixe de entrar pelo menos uma vez naquelas mercearias familiares encontradas em toda cidadezinha, como as de S. Donato in Poggio e Castellina in Chianti . 

 São quase sempre operadas por um casal e seus parentes, e o atendimento é extremamente simpático - até mesmo com aquelas pessoas com carimbo de turista escrito na testa. Além disso, é uma boa maneira de sentir a atmosfera de um vilarejo tipicamente chiantigiano onde a clientela é toda conhecida e os  “patrões” engrenam uma conversa com cada um sobre qualquer assunto pessoal.
Gelato italiano, quem resiste?

E falando em guloseimas, gelato rima com pecato – pelo menos no idioma de Dante. A coincidência não é apenas fonética : o sorvete italiano faz qualquer mortal sucumbir à tentação e cometer o pecado da gula. Irresistíveis eles são, estes gelati  expostos impiedosamente em vitrines em quase todas as esquinas, numa vasta seleção de sabores que atende por nomes tão cremosos quanto o seu paladar : sorbetto, granita, cassata, amaretto, fiori di latte, zapaione, bacio, fragola, frutti di bosco, nocciola, granito di limone, stracciatella, entre muitos outros que soam ainda mais pecaminosos.
 
Uma região para 4 estações

Mas vamos lembrar que Chianti, antes de mais nada, tem uma prestigiosa tradição enológica.  Devido às suas origens vulcânicas, o solo arenoso só se presta bem para vinhedos. As oliveiras foram plantadas há pouco tempo, mas são cultivos limitados. O que a região evoca mesmo em primeira mão são os vinhos. Para quem aprecia mais que o bom vino da tavola ( vinho da casa) para acompanhar uma refeição, um programa é percorrer a região visitando algumas fattorias (adegas) e as vinícolas que ficam abertas ao publico. Há até seminários temáticos organizados, que levam os interessados às adegas para demonstração do envelhecimento do vinho, como propõe a Fattoria La Castellina.  


Banhado por uma inusitada luz âmbar que banha os relevos da natureza, Chianti se transforma num quadro de indescritível beleza. A paisagem hipnotiza o visitante em qualquer época do ano. Nos meses de inverno faz frio, mas não é aquele frio de rachar. De inconveniente, há ventos fortes, mas pouca chuva, e o sol é suave nos dias claros. Embora chova freqüentemente, é na primavera que a região começa a ser assediada por gente do mundo inteiro, culminando em julho e agosto com as multidões que se aglomeram na Piazza del Campo em Siena para assistir ao Palio, as famosas corridas de cavalos que datam da Idade Média. 

No outono, aquelas hordas de turistas demandantes já se dissiparam, o que permite aos visitantes tardios uma exploração mais prazerosa pelas cidadezinhas desafogadas. Sem contar que já não é preciso fazer reservas (ou fila !) nos restaurantes, e os garçons dispensam muito mais atenção aos clientes. Ao procurar informações junto às ufficios de turismo, os atendentes fornecem os dados tim-tim com um sorriso e nos mais charmosos hotéis, em geral abarrotados, já há disponibilidade. E,  – melhor ainda! – todas as tabelas de preços baixaram copiosamente. Aliado à calmaria, é no tráfego que se sente a maior diferença: ao invés da correição de automóveis que se contorce por quilômetros a fio nas estradinhas sinuosas, já é possível transitar vagarosamente de alto a baixo das colinas sem ter alguém colado no seu pára-choque. Outubro traz as colheitas, ou a vendemmia. E também  as amoras que crescem à beira dos campos e em todo lugar. Os funghi (cogumelos) também proliferam nos bosques – mas nem cogite em ir catá-los, pois é preciso sapiência para evitar os venenosos.  








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