sexta-feira, 25 de novembro de 2016

À bordo, Baía de Todos os Santos, Bahia


As ilhas da Baía para santo nenhum botar defeito...no doce balanço do mar.
Esta é uma viagem para quem realmente quer ter uma experiência incomum, diferenciada. Já começa pela bagagem, levando apenas o estrito necessário para uma vida no mar: Roupa de banho, canga, shorts e camisetas,  sandália de dedo, boné e muito, muito, muito protetor solar. Nada mais. Porque você vai sair do aeroporto de Salvador,  dirigir até a marina de Aratu e, 20 minutos depois, será recepcionado pelo próprio capitão  de um veleiro de 40 pés. 


Após embarcar, o rumo é zarpar para a bucólica Baía de Todos os Santos, seguindo um itinerário personalizado, montado conforme o tempo disponível dos passageiros. Pernoitando cada dia em um porto diferente, é um programa tão singelo quanto a rotina que persiste nas 56 ilhas deste arquipélago baiano, que apesar de estar a poucas milhas da civilização, não se deixou contaminar até hoje pelo ritmo borbulhante da capital da Bahia.
Casinhas coloridas em Itaparica


Dormir  num veleiro não é igual que dormir num hotel. E nem dá pra comparar.  Mas a vida a bordo  é simples, seguindo o compasso do relógio biológico inerente em cada um de nós: acorda-se com os primeiros raios de sol, espreguiça-se  olhando para o mar calmo e cristalino, mergulha-se ainda antes do café da manhã – que é servido no convés, e depois é só relaxar e se deixar levar pelo vento. 

Entre uma velejada e outra, o capitão joga âncora em baias escondidas, escolhendo a dedo os mais atraentes trechos de areia branca, de preferência desertos, além de conhecer  portinhos adormecidos. Um exemplo é a pequena ilha de Maré, que abriga apenas uma vila de pescadores sem qualquer vestígio turístico. 


E´de praxe fazer uma parada estratégica para dar uma caminhada, observar a rotina pacata dos moradores e  terminar o passeio com um almoço surpreendente no restaurante Preta, aberto há pouco mais de um ano. No mapa, consta também a famosa ilha de Itaparica, que por mais badalada que seja, ainda mantém uma atmosfera encantadora. 
Prato exótico com influência asiática no Preta




 Ainda se joga dominó nas praças, os pescadores consertam seus barcos na praia, e moradores passam boa parte do tempo sentados diante de suas moradias olhando o movimento das ruas. Poucos carros transitam pela orla e durante a semana a vila parece estar adormecida. À noitinha, as pessoas se reúnem em volta de mesinhas de um bar próximo à marina. Outra parada estratégica é a singela cachoeirinha de Tororó, escondida na mata e que desagua na minúscula praia deserta da ilha de Matarandiba.




O passeio termina antes do anoitecer, e o pôr-do-sol é um momento sagrado para quem curte a vida no mar. Depois que o capitão escolhe um lugar abrigado do vento para ancorar, como a tranquila ilha do Cal, é de praxe brindar os últimos raios que se dissipam.  E a magia continua por conta do jogo de luzes e cores mutantes que aos poucos vão tingindo a linha do horizonte.  E`,  a vida a bordo é mesmo uma caixinha de emoções.  Dependendo das dimensões dos barcos (36,37 ou 40 pés), dá para acomodar entre 4 e 6 passageiros.


 As cabines, embora pequenas, são confortáveis. E servem mesmo para um só propósito: dormir - o resto da rotina é toda ao ar livre. No catamarã de 43 pés, bem mais amplo e com 4 cabines, tem espaço para 8 pessoas. Mas, quer queira, quer não queira, vida a bordo exige espírito esportivo ( um barco não tem as mordomias e comodidades de uma pousada), paciência ( a palavra pressa inexiste no vocabulário vélico, pois a velocidade depende do vento e não da boa vontade da tripulação)  e intimidade entre os participantes ( porque você acaba esbarrando em todo mundo o tempo todo, e é praticamente impossível se isolar). 



Então, na hora de escolher com quem você quer passar férias dividindo espaço numa embarcação, faça a seleção com foco nestas características.  Mais do que ficar imbuído com o espírito de marinheiro, contemplando a magnífica paisagem ao redor, é conseguir manter harmonia na rotina do dia-a-dia.

Só comer e beber não gasta toda a energia que se acumula no compasso do balanço do mar. Um dos esportes mais em voga no momento é o stand up, uma modalidade de surfe em pé que dispensa onda e, principalmente, experiência. Qualquer um pode se aventurar depois de seguir algumas instruções básicas do capitão. Liso como um tapete, o mar não oferece perigo. E nem se preocupe com as pranchas: ela são levadas no barco.
Se animou? Então arrisque.  A Bahia está sempre ai, e o ano inteiro é hora. Difícil depois é se habituar a dormir sem o sutil balanço do mar.




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