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Protegido por severas leis ambientais, o pássaro curioso sequer se intimida diante das pessoas...Dá pra notar? |
E esse bebê leão marinho também não... |
As ilhas Galápagos mexem com a imaginação de qualquer um. Ou porque a pessoa gosta de bichos exóticos, ou estudou a teoria de Charles Darwin na escola e bem ou mal acha interessante conhecer o lugar que tanto inspirou o cientista em sua teoria da evolução, ou então simplesmente porque acha que este arquipélago - e seus habitantes - correm o risco de sumir do mapa em algumas décadas, por força de algumas circunstancias como extinção, poluição, ou algo semelhante; mas, com ou sem tietagem sobre as teorias do nosso amigo inglês, estas ilhas vão agradar principalmente a quem gosta de bicho. E bicho para lá de esdrúxulo, em alguns casos.
Já vou adiantando aos
viajantes com alma de explorador
independente que não tem como fugir da (temida) viagem em grupo. Sendo o arquipélago um parque nacional, as leis são
para lá de xiitas e não há como um turista se aventurar por conta própria pelas
ilhas Galápagos. E mesmo em grupo, só se pode explorar algumas delas e assim mesmo acompanhado de guias
credenciados ( e xiitas!) , a bordo de alguma embarcação autorizada. Santa Cruz
é a ilha -mãe, embora não seja a maior. De lá, quem escolhe ficar em terra
firme tem opções para participar de excursões diárias, em geral até as ilhas mais próximas.
Por outro lado, não resta dúvida de que os
programas mais abrangentes são reservados para os cruzeiros que duram cerca de
uma semana. Quem opta por ficar embarcado alguns dias tem a oportunidade de
conhecer um número maior de ilhas. Há inúmeros barcos, de diversos tamanhos e
estilos, oferecendo itinerários
similares pelas ilhas Galápagos.
O
diferencial está no preço, conforto e número de cabines. Há desde acomodações
básicas ao supremo do super luxo, como o M/Y Grace, um iate que acomoda apenas 18 passageiros em 9 espaçosas
cabines, algumas com incríveis 18 metros
quadrados! As amenidades são tantas que a gente até esquece que está em alto mar. Este iate, que
já pertenceu a milionários e poderosos empresários, foi construído em 1928 e
desempenhou um papel importante durante a 2ª Guerra Mundial sob a bandeira
britânica. Em 1951, passou para as mãos
de ninguém menos do que o próprio Onassis, que por sua vez a presenteou ao
Príncipe Rainier e à Princesa Grace de Mônaco na ocasião de suas bodas. Se você se animar, saiba que no Brasil ele é representado pela Inspiration Travel.
Porém, quem está atado a um orçamento de simples mortal acaba se acomodando - e até muito comodamente! - num navio maior, como o que fomos, chamado M/V Galapagos Legend, com capacidade para uma centena de passageiros. Felizmente, estava com menos da metade. Em cerca de 5 dias, iríamos percorrer cerca de 300 milhas náuticas, navegando quase sempre durante a noite.
Também no pequeno cais do porto, onde se encontram os botes para nos conduzir até o navio M/V Legend, um encontro de primeiro grau com uma família de leões marinhos estatelados encima de bancos de cimento. Emitem sons claudicantes e nem sequer se dignam em demonstrar alguma curiosidade em relação aos turistas boquiabertos. Aliás, este será o comportamento padrão das criaturas selvagens com quem vamos nos deparar nos próximos dias. Antes que alguém pense em criar amizade, um guia intervém rapidamente e informa que é proibido encostar neles, nem mesmo com a pontinha da unha!
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyjg7Z89lgtdZrWJaNEJktrLk8Wm9-1pbdMLmY3qzB1ylbmfo75ot6i-lzXzkRPHbm1iOrVErCjIQfuNFPG5zt3-F7owbHTMvraric7laA-hLHb3X8OCWBxIgHpU4Uk3LGbLX2WzWa0vq-/s320/roteiro.JPG)
No programa, um banho de mar para
começar, com direito a snorkel e, melhor ainda, a oportunidade de nadar literalmente ao lado
de leões marinhos. A água é surpreendentemente morna, com poucas ondas. Só que
além das inofensivas criaturas tem... tubarões. No entanto, assegura Roman, " em circunstância nenhuma" consideram os humanos comestíveis. Mesmo
assim, muita gente hesita em entrar na água. Por precaução, e para ter certeza
que poderia escrever esta matéria ainda com as duas mãos, evitei de mergulhar lá
na parte mais funda.
DIA 3
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUqTUFblQnh46eeUUApAPbaXslMEHIKluIUGUmqdr_Jot6qXDUWg5OXcDjulLIjLQMMYgnam19CM4sXrFsKbujz0GWZheucmEmseC7t0tPAh8Da9pOPif1YahGnRouIwQFM8WpUdMJRcS2/s200/bebe+leao+marinho_2.JPG)
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O sofisticado iate M/Y Grace... |
...e o Legend, navio de porte médio com bastante conforto e boa programação |
Porém, quem está atado a um orçamento de simples mortal acaba se acomodando - e até muito comodamente! - num navio maior, como o que fomos, chamado M/V Galapagos Legend, com capacidade para uma centena de passageiros. Felizmente, estava com menos da metade. Em cerca de 5 dias, iríamos percorrer cerca de 300 milhas náuticas, navegando quase sempre durante a noite.
Primeira surpresa: Assim que
acabei de descer a escada do avião que nos trazia de Guayaquil, dei de cara com
uma enorme iguana que perambulava na maior tranquilidade pela pista do
aeroporto. Recuperadas as malas, nos dirigimos para o ônibus que leva todos os
passageiros para o porto e de lá para as suas respectivas embarcações. Para atender aos compristas afoitos por uma
lembrancinha típica, ali mesmo no ponto rodoviário, algumas tiendas vendem de tudo, desde bonés,
camisetas, bolsas, e, é claro, até iguanas ...de pelúcia. Os motivos são sempre
os símbolos predominantes das ilhas, ou seja, leão marinho e tartaruga.
Bartolomé |
Também no pequeno cais do porto, onde se encontram os botes para nos conduzir até o navio M/V Legend, um encontro de primeiro grau com uma família de leões marinhos estatelados encima de bancos de cimento. Emitem sons claudicantes e nem sequer se dignam em demonstrar alguma curiosidade em relação aos turistas boquiabertos. Aliás, este será o comportamento padrão das criaturas selvagens com quem vamos nos deparar nos próximos dias. Antes que alguém pense em criar amizade, um guia intervém rapidamente e informa que é proibido encostar neles, nem mesmo com a pontinha da unha!
Dia 1
Bartolomé – 1 km2
Já embarcados, é briefing para todos os recém-chegados.
Os novatos precisam se familiarizar com o regulamento para saber como vai ser a
vida a bordo durante os próximos 5 dias. Em outras palavras, como a vida deles
vai ser esboçada na terra de Darwin. Os 39 passageiros são divididos em três
grupos, cada um com seu personal guia. Nós, o denominado Albatroz, temos Roman. Ainda bem que o navio não está lotado! Não
sei como iriam orquestrar 100 turistas! Alguns se entreolham. " Estamos
numa colônia de férias," comenta um americano com ironia. E´ incrível, sim,
tem horário para tudo : despertar às 6 :
45 e até às 7:15 tem que estar no refeitório para o desayuno , que por sua vez termina às 8 em ponto. Nos próximos dez
minutos toca o sino de chamada e temos que estar a postos, colete na mão, para entrar
nos respectivos botes e zarpar rumo às atividades do dia.
Logo após nossa chegada, somos
convocados para uma primeira expedição. Nosso grupo, que chamei logo do grupo
dos “velhos e crianças”, é composto de um casal de australianos, um casal de
canadenses, um casal de finlandeses com duas crianças, quatro americanos da
melhor idade, um australiano excêntrico (personagem inesquecível tatuado da
cabeça aos pés), e nós, o casal de cariocas.
Imediatamente a gente se dá conta
que o ritmo se assemelha a um regime de colégio interno. As ordens são
dadas o tempo todo, com instruções
repetidas para não encostar a mão em nenhum bicho, não pendurar roupa em
arbustos, não catar sequer uma pena largada no chão. Por um triz o guia não usa
apito para congregar o grupo. Salva vidas são sempre obrigatórios, tira, bota, tira,
bota, mesmo para um trecho curtinho de bote. Entramos e saímos dele do lado que
Roman manda, e da maneira como ele manda.
Pisamos na minúscula ilha de Bartolomé, que mede apenas
1 quilômetro quadrado. Ali tudo é árido, e o solo vulcânico como em todo o
arquipélago. Na praia, a areia parece purê de batata baroa. De cara, a gente se
depara com leões marinhos e pinguins de proporções diminutas. " E´ muito
difícil ver pinguins por estas bandas", explica o guia. "Estes são de
água quente, o que é raro". Esta espécie sobreviveu nos Galápagos, mas encolheram
em tamanho. E´ a lei de Charles Darwin aplicada em cheio, penso com os meus
botões, enquanto imagino os bichinhos alinhados bem encima da minha geladeira.
Nadamos literalmente ao lado de leões marinhos e tubarões! |
À tarde , depois da siesta – sim, todo mundo tem direito a
tirar um cochilo depois do almoço, servido pontualmente ao meio dia - nos preparamos para fazer outro passeio.
Desta vez, uma pequena excursão a pé pelo outro lado da ilha. Após galgar os 365 degraus que nos separam do mirante, a
gente se debruça sobre vários topos de
vulcões e praias. Pena que o tempo não ajuda, o sol foi embora, o céu ficou
nublado e a luz está para lá de ruim.
DIA 2 ISABELA , 4588 km² e Punta Espinoza
A aparição súbita de humanos, mesmo passando a centímetros de suas caudas, parece não causar nenhuma estranheza a estes répteis. |
Nem amanheceu ainda. Uma musica
suave, estilo new age, invade pouco a pouco a nossa cabine. Penso que é o gringo
do camarote vizinho que está em final de festa. Nada disso. Em alguns segundos,
uma voz tão suave quanto a das locutoras de aeroporto anunciando a saída de um
vôo informa, em inglês e espanhol, que são 6 45 da manhã e que dentro de 15
minutos o café vai estar servido. Mal se passam os 15 minutos e a mesma voz retumba pelo alto falante para avisar
que "já" são las siete! Deve
ser para arrancar os preguiçosos da cama. Se atrasar, é bronca na certa. E´,
vamos nos acostumando com essa rotina, erh...praticamente
digna de internato mesmo. Mas, vamos jogar panos quentes: Como em qualquer lugar do mundo onde o
programa envolve a presença de animais selvagens em seu habitat, nós, turistas,
precisamos obedecer ao relógio deles. Em suma, tem que madrugar.
Hoje, o botinho nos leva até a
Ilha Isabela, a maior em todo Galápagos. O passeio é para ver iguanas. Contrariando
as precisões nefastas , o tempo
fica despejado e o calor é insuportável, com a umidade a quase 100%. Com Roman liderando, caminhamos um atrás do outro por uma trilha
pedregosa e esbarramos com algumas matronas gigantes lagartixando nos rochedos.
Tudo em volta está cravejado de iguanas.
São tantas que podem ser confundidas com as próprias rochas. Mas, estes
répteis não dão a mínima para estes humanos que, ocasionalmente, passam a
centímetros de suas caudas. Apesar de não ter muito charme, o comportamento das iguanas merece alguma
atenção. Quando as fêmeas estão fazendo os seus ninhos, pode surgir uma briga
pela posse. E são verdadeiras cenas de luta livre, para nenhum fanático botar
defeito. Elas se mordem, se retorcem, se unham, mas não se matam. Os machos,
que transitam em volta, ignoram totalmente a rixas de suas mulheres e passam ao
largo. "Sensatos", confabulavam os homens do grupo.
À tarde, vamos conhecer a ilha
Ferdinand, também conhecida como Punta Espinoza.
Esta ilha é particularmente única
para os aficionados em vulcões - a saber, a última erupção foi em 2005 e pode ter outra a qualquer momento. Com suas
formações rochosas esculpidas pela lava, é a terceira maior e a mais nova ilha
do arquipélago, além de ser o eldorado dos leões marinhos.
Fofos mesmo são os bebês. Deixados
sozinhos pelas mães que foram pescar, emitem sons enternecedores para chamá-las
de volta. Eles precisam ficar num lugar
seco e portanto seguro, para não correr o risco de serem devorados pelos predadores. Imagine o que um tubarão
faria com um filhote indefeso ! Ao contrário das iguanas, esses mamíferos nos
olham com olhar lânguido, carente. Infelizmente, nem se pode cogitar em encostar
um dedo. O guia proclama pela milésima
vez: "Caso detectar um cheiro
desconhecido, a mãe o rejeita e aí, ele morre." Pode deixar, a gente se
contenta em clicar estas criaturas roliças, peludas, confiantes, que se arrastam até quase encostar nos nossos
pés! Dá até para sentir o bafinho...E´ duro resistir. Na região dos Galápagos,
em espanhol, são chamados de "perros" (cachorros). E não é que se parecem mesmo?
PUERTO EGAS ( Ilha de
Santiago) e RABIDA
Uma das características mais
impressionantes das Ilhas Galápagos é a tolerância multiespécie. Todos os
bichos convivem lado a lado sem incomodar um ao outro. Mesmo os pássaros chamados cormorant, que não voam, jamais são
atacados por iguanas ou leões marinhos. Me lembro que depois do primeiro jantar
a bordo do Legend, assistimos a um espetáculo único, que nunca mais se repetiu: à luz que irradia do convés, presenciamos
dois tubarões, uma gigantesca tartaruga
e um leão marinho que nadavam na superfície, lado a lado atrás de um
cardume de peixes. Conseguimos acompanhar um pouco as estripulias destes três
figurões locais: eles disputavam a mesma
iguaria, mas em nenhum momento entraram em colisão ou conflito. Ficamos também
atônitos com a velocidade do seu torque quando tentavam alcançar o cobiçado
repasto.
Na terceira manhã desembarcamos
para um novo passeio por lindas praias
cravejadas por pedras vulcânicas. O mar continua revolto desde ontem à noite e
durante a travessia o navio sacolejou
bastante. Algumas pessoas do grupo
sequer se animaram em sair de suas cabines.
Novamente, observamos iguanas, leões marinhos e muitos pássaros. Como acontece
todos os dias, surge um elemento surpresa. Hoje foi a vez do fly catcher, espécie de pequeno pássaro que come todos
aqueles mosquitinhos chatos que costumam devorar os turistas durante as
caminhadas na mata. Mas, na terra de Darwin, por estarem protegidos até a
última pena, estes alados são mansos, curiosos e tão destemidos que um deles, ao se sentir irresistivelmente atraído pela imensa objetiva
Nikon 500 de uma turista holandesa, posou sem a menor cerimônia na ponta da
lente. E por pouco não penetrou lá dentro a fim de melhor admirar a sua própria
imagem refletida. Vários cliques comprovam como o pássaro é dócil, pois mesmo estando
tão perto do invasor, ele não conseguia desgrudar os seus olhinhos do fundo da
lente.
DIA 4 Porto Ayora,
SANTA CRUZ, 986 km²
Em terra de Darwin, quem tem
carapaça é rei
Na véspera do último dia a bordo,
fomos conhecer Porto Ayora, também capital da ilha de Santa Cruz, e o maior
centro urbano dos Galápagos, habitado por 12 mil pessoas. Famoso por ser o local onde fica a reserva de
tartarugas gigantes, é conhecido também
por sediar a estação Charles Darwin. No entanto, debaixo de um calor de verão,
o passeio pode ficar um pouco maçante, pois além das explicações tão duradouras quanto a vida
destes répteis de carapaça, ainda se ouve lamúrias sobre como a espécie está se
extinguindo.
À tardinha, o passeio nos conduz para
o interior da ilha, com direito a visitar uma caverna escavada pela lava ( a
única coisa positiva é que lá dentro a temperatura havia baixado
consideravelmente) e em seguida uma excursão a pé pela reserva das tartarugas
gigantes ( bota gigante nisso, são quase
do tamanho de uma mesa para 4 pessoas!) criadas soltas num extenso campo de vegetação rasteira, mas tão
enlameado que até emprestam botas de borracha para os turistas. Assim como as
espécies que se adaptaram aos Galápagos, me senti naquele momento um pouco
imbuída do espírito de Darwin - nós, simples humanos sem carapaça, também
tivemos que nos adaptar aos diversos ambientes deste incrível arquipélago para conseguir tirar
proveito dos seus encantos. E sobrevivemos para contar a estória.
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