sábado, 29 de abril de 2017

Mandarin Oriental Knightsbridge , Londres, Inglaterra





Os  narrow boats de Londres: casas flutuantes nos canais ingleses.


Há um tempinho atrás, enquanto passeava pelo bairro de Little Venice, um dos cenários londrinos mais pitorescos e conceituados da cidade, me chamou a atenção o grande número de pequenas balsas ancoradas nas duas margens do estreito canal do Regent’s Park. Curiosa, fui bisbilhotar de perto esta extensa marina, caminhando ao longo do canal. Mas o que eu queria mesmo era saber o que se escondia atrás das portas coloridas fechadas ou semi-abertas destas embarcações de estilo padronizado, cujas proporções nada tinham de convencional: eram tão estreitas que eu cheguei a duvidar que alguém pudesse se mexer lá dentro sem dar um nó nas pernas ou, literalmente, enfiar os pés pelas mãos. 


Outro detalhe curioso eram as suas proas, tetos e popas: de tão ornamentados, seria difícil navegar sem que tudo despencasse dentro das águas turvas do canal. Na realidade, a quantidade de adornos, enfeites soltos, jardineiras presas ao casco e ancoras para lá de enferrujadas, indicavam que a maioria daqueles barcos não tinha intenção de zarpar.  Eu havia acabado de descobrir o modo diferente – e bem britânico – de fazer daquilo que era denominado narrow boat,  um lar. 



Traduzindo ao pé da letra, narrow boat significa barco estreito. Com características muito semelhantes às daquelas balsas que eram utilizadas durante séculos para o transporte de mercadorias, a embarcação tem um calado muito baixo e só serve para a navegação fluvial. A sua largura é de no máximo 1.82 metros, embora o comprimento varie entre 10 e 17 metros. Hoje, este tipo de barco cheio de carga já não trafega nos canais ingleses com esta função, mas a tendência fez com que poucos virassem sucatas: ao longo dos anos foram sendo adquiridos a fim de serem transformados em confortáveis moradias flutuantes por pessoas que enjoaram de morar em casas convencionais.

Além disso, também não faltam na Inglaterra estaleiros que se especializaram em construir narrow boats sob encomenda, novinhos em folha, e com todo um requinte de design de interior. No entanto, por mais transformações e transfigurações internas que se faça, apenas a sua largura jamais poderá ser modificada. A razão é simples: dentro da imensa teia de canais, que soma mais de 300 milhas navegáveis em todo o Reino Unido, há inúmeros túneis cuja largura não ultrapassa os 2 metros.   Os cascos, de madeira, são sempre pintados com cores alegres e as portinholas ganham motivos campestres ou até mesmo medievais.  Por quê? Ninguém sabe explicar.



E’ verdade: não faltam sequer cortinas de renda nas janelas, dezenas de vasos de flores no teto, decoração rústica no convés e adornos pouco ortodoxos nas proas ou no teto das embarcações. Isso sem falar na decoração interna. Se por um lado seus ocupantes optaram por viver de modo diferente da maioria dos seres terrestres, ao mesmo tempo eles não tiveram a mínima intenção de abrir mão dos confortos e da tecnologia usufruída por aqueles que habitam em lugares, digamos, convencionais. Encontra-se de tudo a bordo: do computador à maquina de lavar roupa e louça, do telefone celular à televisão e à tábua de passar, fora a água quente e todos os eletrodomésticos que fazem parte das comodidades indispensáveis para o bom funcionamento de um lar flutuante sobre águas – seja ele “fixo” ou móvel .
 Castelos e rosas são ornamentos pintados nas portas de quase todos os narrow boats e obedecem a uma tradição que remonta desde os tempos em que estas embarcações serviam como meio de transporte fluvial para todas as mercadorias. 
Encontra-se de tudo quando a gente olha os detalhes da decoração, dos enfeites...



Driblar as medidas estreitas é que se torna um verdadeiro desafio. Mas esse pessoal faz proezas: conseguem acomodar cama de casal, banheira e lareira num espaço tão exíguo que só entrando num barco destes para acreditar. E aplaudir. Além do mais, “esticam” seus parcos metros no território fora d’água, ou seja, invadem o estreito cais do Regent’s Canal com vasos de flores, plantas ornamentais e até mesas com cadeiras. Até pátio tem, acolhedor, que é para fazer uma social.  Afinal, mesmo dando preferência para locais mais sossegados do que Little Venice, ninguém é ermitão. Talvez só a Madonna, que mora numa mansão neste bairro chique,  ou o dono da Virgin, Richard Branson, que, dizem por aí,tem até um barco ancorado por ali.


O majestoso lobby do Mandarin Oriental Londres
Hyde Park King Suíte: maior que um narrow boat!


 E já que não dá pra se hospedar num destes com estas dimensões, vale experimentar um hotel majestoso, cujas suítes oferecem pelo menos 4 vezes mais espaço do que nosso charmoso narrow boat. A localização estratégica do Mandarin Oriental, localizado em Knightsbridge  a menos de 5 quilômetros de Little Venice, permite que você se locomova pelos pontos mais requintados e badalados da cidade - por todos os outros meios de transporte possíveis. Em tempo: até mesmo a bordo de um narrow boat-bus, que sai do terminal do zoológico e percorre os canais de Little Venice e Camden Town. 


Um narrow boat navegando.



                           












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