![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZft6Y9XsMSxK_c_IM08ZfRqfC0mr1yuD4pObe6phYV387lm1ubDk9HS3A-AwtJD7ZpFFyQGEWs0lr-y-e9bWARKB2gnO-yUbXwHWpPE-iXdB5IoCuWl_V_TVb0L2Kavh4WSxkk02xBHxJ/s640/puglia+2005+086.jpg) |
Não
existe melhor meio de transporte do que a bicicleta para explorar uma região. |
Às oito e meia de
uma ensolarada manhã de setembro, um grupo de 20 pessoas, todos vestindo a
típica indumentária de ciclista, circulava no lobby do hotel Palace, em Bari,
capital da Puglia, no sul da Itália. Algumas conversavam animadamente enquanto
outros checavam se os seus pertences estavam no meio da montanha de malas e
bagagens empilhadas próximo à entrada principal. Pouco antes das nove, Thilo,
um dos guias da Butterfield & Robinson, empresa organizadora da viagem,
convocou todo mundo para entrar no ônibus estacionado defronte ao hotel. “Não
se esqueçam de levar com vocês os objetos de uso pessoal que irão precisar
durante o dia!”, alertou o simpático rapaz, referindo-se às máquinas
fotográficas, filmadoras, documentos, dinheiro
e mochilas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDKbso-Ck_EBkYiXYMTBZellDw8s96py-M-W7npV1SuVWSLImLkbYZz-wfUMlLsZ_fLJVZDqG8B_MufaElbWRY3NLShHrdFCU2zlmwLSMoXUPH9Nn0QWbDaoSOll3tL_Ahj9tFbiCEMezQ/s640/puglia+2005+001.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp00AcAAH1rBVhELo5SFo6gMacIifQPsZfI2gyPHO6rkw79nIhoxkC7jDNUgi4o5r2jvRFN_znTsh-6D_HeZljzNU1pDuDFslfJdYFAxj-PbmSTDxcKVKVz6mPia9CXiwMlzT0i0q2e_ab/s320/136_3609.JPG)
Quem estivesse
observando aquele bando de turistas estrangeiros, a maioria além dos quarenta,
poderia pensar que se tratava de mais um punhado de coroas imbuídos de muito
espírito de aventura, prontos para iniciar uma viagem de bicicleta através das
legendárias oliveiras que florescem nesta região emoldurada pelo Adriático. Em
parte, estavam, sim, prontos para explorar este belíssimo itinerário usando a
bicicleta como meio de transporte. Mas
por outro lado, havia uma grande diferença entre eles e o típico esportista que
leva a suas barras de cereais na mochila, se hospeda em albergue e viaja sem
conforto: apesar de estarem trajados para pedalar, este grupo ia pedalar como
plebeus, mas se hospedando como reis.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCYEnXZS5u1e3E2rsaU1QtK8WQU7-eLrsBbJnps990pkNOIVnT_shA4E6X_BiVMlgKwPuUBo_HR0UH_h4kU8DEtdjA8CHQxUNVB0RZYEU5yzuU-inuezEhk-TSkX1NH_nMvaBYVKimbq7D/s400/puglia+2005+090.jpg) |
Chegando de bike no recinto da Masseria San Domenico |
O turismo esportivo
“estrelado” é para quem quer conhecer uma região e aliar o exercício saudável ao
conforto de suntuosas
acomodações e aplacar a fome e a sede degustando o que há de melhor em
especialidades regionais, tudo regado a champagne e às melhores safras de
vinhos. Tem mais: o que poucos acreditam é que (embora possa soar estranho)
qualquer pessoa com um mínimo de preparo físico está apta a participar de uma
viagem de bicicleta.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzku-lTsPjWqFiMsXVhBw2NJbS8cDHOrAmPLmjFNE_IE2qfl0kH7sUthvKFOJHriTIzrUlsr3mc0Zg1lh-4aWWcvKuHqnGd9qoDQtj_9ATGP_9u-hwrNMXUWSiSyiSAvjPJ5g7IWbJwLaR/s400/puglia+2005+200.jpg) |
Masseria San Domenico |
O outono é uma excelente opção para ir à Puglia. A região já não está
mais tão lotada de turistas nesta época e a temperatura baixou dos
tórridos 32 graus para amenos 26 durante o dia e dá até para
curtir um friozinho de 17 à noite. Embora
menos famosa do que a Toscana, a Puglia é muito conhecida devido às masserias ,
aquelas típicas fazendas fortificadas que há séculos vêm prensando seu azeite,
e possuíam sua própria horta e pomar
como meio de alimentar as suas famílias e protegê-las durante períodos
prolongados dos invasores que desembarcavam de vários pontos do Mediterrâneo.
Além disso, no solo da Puglia existem nada menos do que 40 milhões de oliveiras
milenares, responsáveis por 40% da produção total do azeite em todo o país.
Hoje em dia, inúmeras masserias foram reformadas para se transformarem
em hotéis de luxo ou restaurantes gastronômicos. Algumas delas, aliás,
serviriam de pouso para aquele bando de turistas estrangeiros que (lembra?)
perambulavam pelo lobby do hotel em Bari, ponto de partida para uma viagem de
bicicleta durante a qual iriam percorrer cerca de 360 quilômetros em
7 dias, explorando desde vilarejos adormecidos até sitos arqueológicos e
cidades medievais, curtindo as paisagens deslumbrantes que se revelam a cada
curva das estradinhas que serpenteam entre as oliveiras.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBy1wA17x0TwTNuUq_fBcbBpoMhNQExOFg5AyxWusDFjLOJlkcNY6IrBzUFy7z-4mW9wfOFGJp_dhuEy5mNsbIvwDc-ERz_fXFm2itBExWSZ2k5Ys6f_7RVf1gTIL3PqiXO_dgMH2IeUcw/s640/puglia+2005+140.jpg) |
Alberobello: a cidade dos trullis, típicas casinholas da região, em forma de cône. |
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhggrK3_n4tbuywGkXrjJkUux5k95PvYqc9UBFH6PZGaRJkMbYgDHLRqOlF22cDQTez1YvhMIBFFXspPHMFZNY33BgcawaR8tRZjOtPYdNFhnmG1pcT1QE8EV1-23IIECA0zJMNTBdce_Qp/s320/puglia+2005+123.jpg) |
Pedalando em meio às oliveiras |
Além dos dois guias,
que estão sempre pedalando com a gente, há também as vans de apoio para
acompanhar o grupo durante todo o tempo. Ou seja, esta não é uma viagem de
bicicleta com o objetivo de testar o limite de sua aptidão física ou transformá-lo
em super atleta: cada um segue o seu ritmo e se cansar antes do final do
itinerário, ou tiver qualquer probleminha, basta fazer um sinal com a mão para
o guia, e em poucos minutos surge a van para socorrê-lo. Seja para trocar um
pneu furado, consertar a correia que soltou ou até mesmo para “abastecê-lo” com
uma cervejinha gelada (que ninguém é de ferro), uma água ou uma barra de
cereais (sim, também tem barrinhas de cereais dentro da van, mas isto não é o
menu principal!). Em outras palavras: ninguém é deixado para trás e as chances
de alguém se perder são mínimas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTzaJGSrYKKh85dvElJdIDBgeBxTFLluNgUICZUi4Tyv5qN2g7YrTg_U7P1bHCteMEPGFmet23ThuLANhjB5uRUA2gfuNhrw4yjdREmJSxSZQ5oSerolk5pJIwbcFI6LuMSFTUszI9kC-_/s320/puglia+2005+143.jpg)
Até porque cada um está de posse de um
itinerário impresso no qual constam os mínimos detalhes de cada curva, cada
placa e cada pedra pelo caminho. No máximo, acontece de errar uma entrada, não
notar uma indicação e passar algumas centenas de metros além do requisito, mas
aí em questão de minutos o guia já estará procurando pelo elo perdido.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4gQvx3qCu9UMgoXOhqCVKwRVikMpWjCWMTxjDCqoVwVVeLp4NLGGeaAao4PwqJUVKXf2x03FPbugnJ1Xic61xPBOQALHvSV9LVektKkXihheQVkyLPqUW_rVHE3kNI-wR_PpftCNspWU0/s640/135_3579.JPG) |
Produtos das masserias |
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFSQiZKjhu9BIOab8Oyq5WIJ9CniBJxosPj7LYOlpl3JLEkvJDq-qfp9le1v_R3bF3D5w957pxoKqzF8C00g6mHomyb11L2DL10ixYjX9jGW1tyztmtLSrSMaTmrvxiFlYov2DcrErLAWL/s200/puglia+2005+176.jpg) |
Gelato irresistível |
Em geral, o dia começa cedo,
com o grupo tomando café e recebendo dos guias as instruções para a pedalada.
Na Puglia, a primeira parte do itinerário é bastante suave, graças ao terreno
plano. Milhares de oliveiras e três dias depois, o cenário muda e surgem as
ladeiras e os morros. Algumas vezes, há trechos bem desafiantes. O que ajuda, é claro, é uma programação onde a atividade física será
sempre entremeada por inúmeras pausas para uma visita cultural em algum sítio
histórico ou numa prensa secular, um almoço em restaurantes típicos, e de
pit-stops ao longo do percurso, seja para tomar um expresso, comer um panini
num café de um vilarejo típico, ou pecar com um gelato ( na língua de
Dante, aliás, gelato rima com peccato!).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXPmNXJhD9o58pn3VGpUqEHJB2UfGqkY8EuvyPKO5E6q7wxYjlY10wDqz6nGgQMNQdxhr0vUu35N4knVsxjwdpgfWwDTtrpgQwhTOcFqihFtiFih3_aG1s3OAH3tDYZDx1z76LnOaPJf8c/s400/puglia+2005+081.jpg) |
Os trullis estão por toda parte da Puglia |
Um dos destaques da
viagem à Puglia fica por conta dos hotéis.
Após dois dias pedalando pelas imediações de Lecce e Ostuni, é hora de
pernoitar por duas noites numa das mais imponentes masserias de toda a
região: a San Domenico, membro da sofisticada rede Leading Hotels of the World, situada à beira do Adriático em Savelletri, onde ainda
existem vestígios do século XIV, época em que os Cavaleiros de Malta faziam
vigília em uma torre à beira-mar para proteger o domínio da invasão turca.
Hoje, do alto desta torre, dá para admirar a magnificência da masseria,
que produz azeite e todos os ingredientes para a sua cozinha cuja reputação já
ultrapassou os limites da propriedade.
E´maravilhosa a sensação de entrar pedalando- cheio de lama, suado e
cansado como um autêntico atleta! - num recinto tão sofisticado e pegar a sua chave na recepção sabendo que o
que o aguarda é uma super suíte com cama principesca, lençóis de algodão
egípcio, roupões felpudos, uma piscina de água salgada, um spa com massagens e
tratamentos corporais e, para coroar o dia,
um jantar gastronômico regado a champagne e vinhos locais. E ainda um
show privado de danças folclóricas, onde todos estão convidados a participar.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHaYRdk6iKjiP2Wgj7CtfsPQqFi9_AXUHBlQi0uudTdOV6Ujvmh052G1Xlz6BFL8GeKdKwtV6jMhrdz40ZRvxrpj_x7-sv9utQdGvUPl-RocfuVX9ZW5abY-4IHWe9aF0OgaBFbi6DN0Gt/s400/puglia+2005+064.jpg)
Mas embora toda a
semana esteja repleta de visitas surpreendentes a sitos arqueológicos, igrejas
Bizantinas, masserias históricas, infinitas extensões de oliveiras e
típicos vilarejos adormecidos, ainda é o trulli a imagem que fica mais
impregnada na memória do turista. Esta casinhola baixinha, meio arredondada,
com um telhado de pedra em forma de fatias de pizza, é a marca arquitetônica
registrada da Puglia, pois não consta nada igual em nenhuma outra região da
Itália. Estas construções são extremamente peculiares, mas curiosamente ninguém
sabe apontar ao certo a sua origem ou como proliferaram nesta determinada parte
da região, rotulada como o Vale dos Trullis. E quando se imagina já ter pedalado o número
de quilômetros suficientes para ver todos os trullis existentes na
Puglia, se chega a Alberobello, eleita a “cidade dos trullis”, hoje Patrimônio
Histórico Mundial. Na rua principal desta aconchegante cidadezinha, a gente se
depara com centenas deles, construídos lado a lado, todos reformados para
abrigar lojinhas com prateleiras repletas de souvenirs, bugigangas, guloseimas
típicas e artesanato. Ninguém resiste à tentação de levar para casa uma
miniatura de trulli, seja em qualquer tamanho, confeccionada em gesso,
madeira, ferro, ouro, prata ou até de plástico.
E´ até mais tentador do que
comprar pacotes de orechietti, uma massa em forma de pequeninas orelhas
cujo design é tipicamente pugliano.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT8egPN_pENgXi_nteZ3jzDkMEMUJBdrMTXjY-NH-dXzM_FXOIPUfWAkBElPPFHoWodEBiJ2K_WXienrEmpHua74PaxP05WTLkKYiY7FKQjcbCUk2QCPZS1siaqCIllRFWB32rClVVOMPl/s640/135_3538.JPG)
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