segunda-feira, 11 de abril de 2016

Pousada Canto do Francês, Soure, Ilha de Marajó, Pará



 
A ilha onde ninguém tem pressa : este é o meio de locomoção da polícia de Marajó


Quando Garcia Marquez idealizou o cenário da aldeia de Macondo  para sediar o romance 100 Anos de Solidão, ele certamente não tinha em mente a exótica Ilha de Marajó, localizada ao oeste da foz do rio Amazonas,  às margens do rio Pará e beirando o Atlântico. Mas, bem que poderia:  Apesar de Soure, capital informal desta ilha paraense,  ter bem mais do que  apenas vinte casas e 300 habitantes, ali os estranhos  convivem como velhos amigos, fazendo com que os turistas se sintam imediatamente acolhidos neste pacato vilarejo margeado pelas águas salobras do  rio Paracauari. 

O búfalo é o ícone da ilha e pode ser visto em qualquer lugar


Exótica,  povoada por indígenas desde 1100 AC, é a maior ilha fluviomarinha do mundo, e  conserva até hoje uma aura de genuinidade. Extremamente hospitaleiros e amáveis , os  habitantes se  orgulham de suas origens que remontam a civilizações pré-colombianas,  e  ainda se sentem bastante  arraigados  às tradições.

paisagem típica e bucólica

Constatei,  feliz, que estaria vivenciando durante alguns dias uma realidade bastante inusitada para qualquer pessoa que mora em cidade grande.  Tranquilidade, paz, violência zero. E´ preciso salientar que na Ilha de Marajó a infraestrutura hoteleira ainda é bastante limitada e o que existe é rústico.

 Algumas pousadas oferecem até piscina com um padrão razoável, mas é só. A nossa, deliciosamente chamada de Canto do Francês, não tinha. O quarto era simples, mas felizmente tinha ar condicionado - isso não dá pra aguentar sem! 

Pousada Canto do Francês, um pequeno oásis com charme e simplicidade

Digamos que é a pousada mais bacaninha de Soure, com toque pessoal do dono, que é francês, adivinharam. A decoração, rústica,  está aliada a um atendimento simpático e acolhedor, e você logo se sente em casa. Tem até restaurante. Luxo e amenidades não existem, mas as camas são confortáveis. São apenas 9 suítes e a localização é boa, próxima ao rio e  a apenas 10 minutos a pé do centrinho da vila.  


Outra característica da ilha é que ela só conta com uma estrada asfaltada, mas tem ruas largas de terra batida. Curiosamente, Marajó  foi concebida  e planejada, digamos,  como... Manhattan:  ao invés de ruas com nome, existem as Travessas e as Ruas, ambas só com números. Sendo assim, voce vai para o lugar tal que fica na Quarta Rua com a  Travessa 12...
Nada de ruas asfaltadas ou prédios altos

 Não tem nem como se perder.  Em tempo:  de similaridades com a Big Apple só mesmo estes detalhes urbanísticos, porque não plantaram um só arranha-céu em toda esta região - e  estamos falando de uma imensidão de pouco mais de 40 mil quilometros quadrados - equivalente ao tamanho da Suíça, por exemplo.  Não é a toa que Marajó é a maior ilha fluvial do planeta.


Mas além de só ter casas, a grande maioria modesta e simples, de um só andar, em Marajó também quase não tem automóveis.  Um meio de transporte típico - e peculiar -  é a carroça puxada a búfalo, animal que se adaptou perfeitamente ao meio ambiente e às condições climáticas que, é bom ressaltar, acarretam  mudanças drásticas na topografia da região. 



  Este bovino se tornou o  ícone de Marajó, contabilizando o maior rebanho do Brasil com 700 mil cabeças, e também se converteu num recurso econômico para grande parte dos 25 mil marajoenses, pois ele serve para carregar lixo, mercadorias,pessoas,bens de consumo e ainda virou atração turística... Fora que a búfala produz leite para a confecção de um produto bem local, que lembra um pouco o queijo grego  feta  , tanto na textura como no paladar.  Soure é a cidade mais movimentada da ilha, e é onde a maioria dos turistas aporta. Há sempre muitas festividades e eventos ao longo do ano, como rodeios de búfalo e rodas de Carimbó, a dança típica paraense. Mas, nada mais importante do que o do Círio de Nazaré, que prossegue sua peregrinação desde Belém,  e entre outubro e novembro, mobiliza toda a população da Ilha de Marajó.
                                                                                            


Esqueci de dizer que pra chegar em Marajó não é nada fácil. Daria tempo de sair do Rio de Janeiro e chegar em Miami antes de aportar na ilha. Então prepare-se. Mas, o melhor da viagem é mesmo a barca que faz a travessia de praticamente 4 horas de Belém até Salvaterra, porto obrigátório para quem vai à ilha. Depois tem mais, seja de van ou onibus...
a barca que faz a travessia de Belém a Salvaterra

Para tornar a viagem de barco mais confortável, não deixe de pagar  alguns reais a mais pelo direito de acessar  à sala VIP, que conta com ar condicionado e poltronas reclináveis.  O trajeto  é bem cênico, principalmente ao entardecer,  e leva cerca de 3 horas e meia até o porto de Camará, em Salvaterra, entrada oficial da Ilha de Marajó.


Na Ilha de Marajó, começa a chover em janeiro, e o rio Pará sobe gradualmente. Muitos lugares cênicos ficam  parcialmente submersos.   A partir de julho, chove bem menos e as águas começam a baixar lentamente.  As praias aparecem , assim como os monumentais  igarapés , por onde os turistas podem fazer passeios cênicos de barco. O calor de 30ºC é presente o ano inteiro.



Pitoresco, o  mercado é um dos pontos mais visitados pelos turistas. Ele se divide entre o armazém de carne e o da peixaria. Super bem arrumadinho por dentro, vende também frutas,  produtos artesanais e as prosaicas ervas milagrosas e poções caseiras, que prometem curar todos os males da humanidade. Vá conhecer de perto as várias espécies de peixes que proliferam nos rios da região,  como o filhote, o tambaqui e o tucunaré. Mas, precisa chegar cedo para desfrutar o ambiente , que começa a ficar animado a partir das 4 da madrugada.

 
prato de filhote, peixe típico da ilha

 
uma praia de rio



A programação turística segue algo bem padronizado: o búfalo em primeiro lugar. Começa no cardápio, porque a carne é macia feito manteiga  e o queijo da búfala é delicioso. Em seguida,  é ter contato com o búfalo ao vivo, no manejo, pois o animal se presta para levar turistas a  passeios. Dá para montar numa sela, segurando uma rédea improvisada, ou, se falhar a coragem, subir numa charrete  puxada por uma parelha. As fazendas locais oferecem programas, sempre com guias  experientes.


búfalos selados para passeios turísticos



passeios pelos igarapés



Passeios a pé na beira de praias de rio, ou de canoa por igarapés são pacotes oferecidos em diversas fazendas particulares, que abrem suas porteiras ao público.  Difícil não se deixar contagiar com a exuberância da natureza e a fauna local.   E só quem esteve em  Marajó pode ter a oportunidade de admirar uma revoada de guarás, aves de penas avermelhadas que se assemelham a  garças. E´ raro conseguir ver um bando muito numeroso, e o espetáculo é inesquecível.


Quando bate o meio dia, até mesmo os búfalos vão se refugiar em alguma poça d´água. Sem contar que dali até às 4 da tarde, o comércio fecha as portas e todo mundo vai fazer uma siesta. Não se esqueça de sempre levar uma garrafinha de água para se manter hidratado, muito embora não faltam carrocinhas com água de côco e o oportuno vendedor de abacaxi que descasca na rua a fruta mais suculenta que você já tenha provado.  Todo mundo em Marajó se orgulha deste produto e enaltece a sua doçura.

praia pra que te quero!


Muita gente vem para Soure curtir as praias, das que beiram o rio e o Atlântico. De fato, só mesmo na água dá para aguentar o calor avassalador. Porém, é preciso levar em conta as oscilações da maré. Se estiver alta, nem dá para pensar em banho de rio, pois as águas estão agitadas  e não é muito seguro. Procure relaxar nas praias onde existe infraestrutura de barzinhos, como nas praias de Barra Velha e Pesqueiro.  Na maré baixa, tudo é festa. Em tempo: algumas só são acessíveis de táxi.



ceramica marajoara, uma tradição da ilha


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