Me lembrei desta aventura a cavalo porque ontem foi meu aniversário.
Um pequeno anúncio numa revista
especializada em cavalos me deu motivo para encarar as 14 horas de vôo (e mais
uma boa centena de quilômetros de carro)
que separam o Brasil de Banff, uma charmosa cidade encravada no coração
das Montanhas Rochosas canadenses. Chegando lá, o programa era participar de uma expedição
eqüestre que se embrenhava durante sete dias em trilhas traçadas dentro do
Parque Nacional de Banff, o mais antigo do Canadá. Mas, essa viagem inesquecível tem mais de duas décadas.
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A estrada cenica que leva ao Parque Nacional de Banff |
Lembrando (com saudade) desta aventura
a cavalo, por sinal uma experiência maravilhosa e até hoje um dos programas turísticos
de veraneio mais procurados naquela região, fui super animada quando surgiu,
anos-luz depois, nova oportunidade para visitar Banff, desta vez justamente em
abril. Ou seja, no meio da primavera. E por coincidência, no meu aniversário. Pela
internet, deu para conferir as previsões do tempo para o dia a dia e o
comportamento dos dígitos durante a nossa estadia.
Como até final de maio é comum o
termômetro rondar mais para menos do que para mais, arquitetei uma bagagem digna
de enfrentar o mais rigoroso dos invernos. Por isso, nem pestanejei quando o
piloto da Air Canada anunciou, minutos antes de aterrissar em Calgary, que a
temperatura era de 13 graus. Positivos, ressaltou ele, triunfante. Confiante, acreditei que não seria pega de surpresa. Não
fui - pelo menos não inteiramente.
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A nevasca em plena primavera |
Logo na primeira manhã, ao abrir a
cortina, mal pude acreditar que os maus augúrios do serviço de meteorologia
tivessem se concretizado à risca: ao invés do sol a pino e o céu azul da
véspera, uma forte nevasca formava uma parede branca tão densa que apagava
qualquer vestígio dos lindos picos nevados no horizonte. Na verdade, já não
dava nem para distinguir os altos pinheiros que praticamente encostavam-se à
minha janela.
Ainda bem que tinha sido possível flagrar a
paisagem na TransCanada Highway, que liga Calgary a Banff e é reputada como uma
das estradas mais cênicas no mundo. Também é de tirar o fôlego a magia da natureza
que se revela até onde a vista alcança. Não é à toa que Banff, ao longo de mais
de um século, tem atraído visitantes em busca da exuberância de suas montanhas
e do aconchego de ícones superlativos como o hotel Fairmont Banff Springs, onde
estávamos hospedados, um marco histórico
e uma das principais referências do lugar.
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O Fairmont se ergue majestoso no meio do parque |
E já que estamos falando do passado
deste estabelecimento, saibam que na década de 20 ele era o maior hotel do
mundo. E que, em 1927, a
companhia Canadian Pacific Railway contratou o arquiteto canadense Stanley
Thompson para desenhar um percurso de golfe com 18 buracos ao redor do hotel.
Este projeto, batizado como o “campo no topo do mundo”, custou mais de 1 milhão
de dólares para ser concretizado. Hoje este valor seria considerado uma
pechincha, mas na época era o primeiro campo de golfe do mundo a ultrapassar
esta cifra. Cercado por um décor magnífico, foi inaugurado em 1929 pelo
Príncipe de Gales.
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Vista que se descortinava do meu quarto antes da nevasca |
E tudo em sua volta é história: imagine que
enquanto hóspede em 1954, Marilyn Monroe, contracenando ao lado de Robert
Mitchum no filme “A river of no return”, chegou a dar umas tacadas por ali... Aliás,
de qualquer dos quartos do oitavo andar, vale contemplar um pouco deste green - ok, exagerei, nem tão green assim neste 18 de abril, mas de qualquer forma imponente.
Mas, voltando ao blizzard, que, tal qual anunciado, iria se instalar pela região por
três dias, o melhor a fazer era – adivinharam? - esquiar. O que, diga-se de
passagem, já constava da programação. Claro, pois desde o inicio de novembro
até final de maio, os aficionados pelos esportes de inverno podem deslizar nas
centenas de pistas do Canadá. Banff, a quase 1.400 metros de
altitude, estava ainda na segunda metade de sua temporada. Há todo tipo de
atividades na neve, do tradicional esqui ao snowboard, passando por passeios de
snowmobile, trenó de cachorros e snowshoeing (raquetismo), entre muitas outras
opções. Mesmo assim, surpreenderam-se todos – locais e turistas – por este
capricho da natureza que trouxe uma quantidade de neve absurda em menos de 24
horas.
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A paisagem muda completamente de aspecto debaixo de grossos flocos de neve |
Porém, foi muito bem-vindo, pois garantia por
mais algum tempo as boas condições nas pistas de Sunshine Village, o resort
mais próximo da cidade. Aqui é preciso fazer um parêntese: em Banff, não tem
ski-in/ski-out, o que significa que os esportistas precisam se locomover cerca
de 30 minutos para chegar à primeira gôndola. Para isso, os transportes
públicos funcionam no esquema de shuttles
que atendem com eficiência a maioria dos usuários.
Quando acontece de nevar tanto assim -
o que, segundo o guia local, só tinha acontecido uma vez no mês de fevereiro daquele
ano - e não se falava em outra coisa a não ser o pow pow ( diminuitivo de powder) – ou poudreuse, como insistem os puristas da nomenclatura francesa ao
se referir à neve fresca, tão fofa que você afunda até meio das coxas! Quando perguntei por que não
haviam passado a patrol para “varrer”
e delinear as pistas, como é de praxe, a resposta foi de que os esquiadores
estavam eufóricos com este imprevisível presente do céu. “Está todo mundo
adorando,” confirmou um professor de esqui, após trazer de volta um grupo de
esquiadores de primeira viagem. E, pelo estado de espírito de quem tinha
calçado os esquis pela primeira vez, deu para perceber que esta experiência foi
realmente gratificante. Pessoalmente, como o esqui é (uma das) minha (s) praia (s), dar uma esquiadinha naquela data foi
mesmo um presente de aniversário caído do céu.
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