terça-feira, 19 de abril de 2016

The Fairmont Banff Springs, Banff, Canadá




    Me lembrei desta aventura a cavalo porque ontem foi meu aniversário.


 Um pequeno anúncio numa revista especializada em cavalos me deu motivo para encarar as 14 horas de vôo (e mais uma boa centena de quilômetros de carro)  que separam o Brasil de Banff, uma charmosa cidade encravada no coração das Montanhas Rochosas canadenses. Chegando lá, o programa era participar de uma expedição eqüestre que se embrenhava durante sete dias em trilhas traçadas dentro do Parque Nacional de Banff, o mais antigo do Canadá. Mas, essa viagem inesquecível tem mais de duas décadas. 

A estrada cenica que leva ao Parque Nacional de Banff

Lembrando (com saudade) desta aventura a cavalo, por sinal uma experiência maravilhosa e até hoje um dos programas turísticos de veraneio mais procurados naquela região, fui super animada quando surgiu, anos-luz depois, nova oportunidade para visitar Banff, desta vez justamente em abril. Ou seja, no meio da primavera. E por coincidência, no meu aniversário. Pela internet, deu para conferir as previsões do tempo para o dia a dia e o comportamento dos dígitos durante a nossa estadia.

Como até final de maio é comum o termômetro rondar mais para menos do que para mais, arquitetei uma bagagem digna de enfrentar o mais rigoroso dos invernos. Por isso, nem pestanejei quando o piloto da Air Canada anunciou, minutos antes de aterrissar em Calgary, que a temperatura era de 13 graus. Positivos, ressaltou ele, triunfante. Confiante,  acreditei que não seria pega de surpresa. Não fui - pelo menos não inteiramente.

A nevasca em plena primavera

Logo na primeira manhã, ao abrir a cortina, mal pude acreditar que os maus augúrios do serviço de meteorologia tivessem se concretizado à risca: ao invés do sol a pino e o céu azul da véspera, uma forte nevasca formava uma parede branca tão densa que apagava qualquer vestígio dos lindos picos nevados no horizonte. Na verdade, já não dava nem para distinguir os altos pinheiros que praticamente encostavam-se à minha janela.

 Ainda bem que tinha sido possível flagrar a paisagem na TransCanada Highway, que liga Calgary a Banff e é reputada como uma das estradas mais cênicas no mundo. Também é de tirar o fôlego a magia da natureza que se revela até onde a vista alcança. Não é à toa que Banff, ao longo de mais de um século, tem atraído visitantes em busca da exuberância de suas montanhas e do aconchego de ícones superlativos como o hotel Fairmont Banff Springs, onde estávamos hospedados,  um marco histórico e uma das principais referências do lugar.  
O Fairmont se ergue majestoso no meio do parque

E já que estamos falando do passado deste estabelecimento, saibam que na década de 20 ele era o maior hotel do mundo. E que, em 1927, a companhia Canadian Pacific Railway contratou o arquiteto canadense Stanley Thompson para desenhar um percurso de golfe com 18 buracos ao redor do hotel. Este projeto, batizado como o “campo no topo do mundo”, custou mais de 1 milhão de dólares para ser concretizado. Hoje este valor seria considerado uma pechincha, mas na época era o primeiro campo de golfe do mundo a ultrapassar esta cifra. Cercado por um décor magnífico, foi inaugurado em 1929 pelo Príncipe de Gales.

Vista que se descortinava do meu quarto antes da nevasca


 E tudo em sua volta é história: imagine que enquanto hóspede em 1954, Marilyn Monroe, contracenando ao lado de Robert Mitchum no filme “A river of no return”, chegou a dar umas tacadas por ali... Aliás, de qualquer dos quartos do oitavo andar, vale contemplar um pouco deste  green  - ok, exagerei, nem tão green assim neste 18 de abril, mas de qualquer forma imponente. 



Mas, voltando ao blizzard, que, tal qual anunciado, iria se instalar pela região por três dias, o melhor a fazer era – adivinharam? - esquiar. O que, diga-se de passagem, já constava da programação. Claro, pois desde o inicio de novembro até final de maio, os aficionados pelos esportes de inverno podem deslizar nas centenas de pistas do Canadá. Banff, a quase 1.400 metros de altitude, estava ainda na segunda metade de sua temporada. Há todo tipo de atividades na neve, do tradicional esqui ao snowboard, passando por passeios de snowmobile, trenó de cachorros e snowshoeing (raquetismo), entre muitas outras opções. Mesmo assim, surpreenderam-se todos – locais e turistas – por este capricho da natureza que trouxe uma quantidade de neve absurda em menos de 24 horas.

A paisagem muda completamente de aspecto debaixo de grossos flocos de neve

 Porém, foi muito bem-vindo, pois garantia por mais algum tempo as boas condições nas pistas de Sunshine Village, o resort mais próximo da cidade. Aqui é preciso fazer um parêntese: em Banff, não tem ski-in/ski-out, o que significa que os esportistas precisam se locomover cerca de 30 minutos para chegar à primeira gôndola. Para isso, os transportes públicos funcionam no esquema de shuttles que atendem com eficiência a maioria dos usuários. 


Quando acontece de nevar tanto assim - o que, segundo o guia local, só tinha acontecido uma vez no mês de fevereiro daquele ano -  e não se falava em outra coisa  a não ser o pow pow ( diminuitivo de powder) – ou poudreuse, como insistem os puristas da nomenclatura francesa ao se referir à neve fresca, tão fofa que você  afunda até  meio das coxas! Quando perguntei por que não haviam passado a patrol para “varrer” e delinear as pistas, como é de praxe, a resposta foi de que os esquiadores estavam eufóricos com este imprevisível presente do céu. “Está todo mundo adorando,” confirmou um professor de esqui, após trazer de volta um grupo de esquiadores de primeira viagem. E, pelo estado de espírito de quem tinha calçado os esquis pela primeira vez, deu para perceber que esta experiência foi realmente gratificante. Pessoalmente, como o esqui é (uma das)  minha  (s) praia (s), dar uma esquiadinha naquela data foi mesmo um presente de aniversário caído do céu.


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