domingo, 28 de fevereiro de 2016

Pousada O Casarão, Pirenópolis, Goiás, Brasil



Embora pouco difundido, as Cavalhadas de Pirenópolis é um evento folclórico que faz parte do Patrimônio Cultural Brasileiro

Em maio, durante três dias consecutivos, os paralelepípedos de Pirenópolis vão estalar sob a batida frenética das ferraduras de centenas de cavalos montados por cavaleiros mascarados e fantasiados que irão se apossar das ruas e subverter o clima pacato desta autêntica cidadezinha colonial do interior de Goiás.

Rua Direita que desce pro centrinho

Ensaio geral das Cavalhadas

São as Cavalhadas, expressiva festa popular e um dos eventos folclóricos mais extravagantes da cultura brasileira, que se apresenta sob a forma de cortejos, jogos e desfiles,  e culmina com a encenação da batalha histórica que simboliza a luta travada entre mouros e cristãos no século 800 DC.  O espetáculo se realiza ao ar livre, dentro de uma arena chamada Cavalhódromo e com entrada franca.


 Pirenópolis, localizada a 140 quilômetros de Brasília,  é  uma encantadora cidade colonial de pouco mais de 20 mil habitantes,  que se destaca como a capital das joias artesanais em prata, além de ser conhecida como a região onde florescem  as cachoeiras mais famosas do estado de Goiás. Por outro lado,  oferece uma infraestrutura turística extremamente atrativa,  com um leque de  restaurantes excelentes, pousadas cheias de charme aninhadas em imponentes casarões de época restaurados, antiquários, lojinhas de artesanato, brechós e um comércio repleto de produtos caseiros oriundos dos arredores, com destaque para a imensa variedade de marcas de cachaça artesanal.

Os Mascarados desfilam pelas ruas de Pirenópolis durante todo o final de semana.

Rua principal e igreja do Bonfim ao lado
Tombada pelo Patrimônio Histórico,  esta antiga vila de mineração também  ganhou fama por se tornar o palco de vários eventos culturais e esportivos, que se realizam ao longo do ano. No calendário, constam desde festas literárias a competições de corrida e mountain bike, principalmente nos meses de inverno. No entanto, embora seja pouco difundida, um dos acontecimentos mais expressivos do folclóre brasileiro: a Festa do Divino Espírito Santo, que ocorre há mais de 100 anos e se realiza 40 dias após a Páscoa. Culmina com o evento das Cavalhadas - a encenação da batalha histórica que simboliza a luta travada entre Mouros e Cristãos no século 800 DC.. Este ano será no decorrer do próximo final de semana, iniciando dia 3 de junho. A programação pode ser vista no site oficial.www.pirenopolis.go.gov.br)

Casarões antigos emolduram as ruas de paralelepípedos de Pirí.
Introduzida em 1826, este ritual das Cavalhadas se manteve firme, principalmente porque os primeiros colonizadores de Pirenópolis eram em sua maioria, portugueses que migraram do norte daquele País, ou seja, de uma região outrora famosa por resistir com afinco à invasão moura. Durante este evento, que dura três dias, outros personagens roubam a cena: são os extravagantes Mascarados, que com suas fantasias ousadas, máscaras de boi criativamente assustadoras, pipocam em todas as esquinas e cantos da cidade, perturbando alegremente o ambiente fazendo algazarra e arrancando risos e ovações.


Emoldurada pela Serra dos Pirineus, o cerrado não carece de terrenos oportunos para a prática de atividades ao ar livre, e se tornou um dos locais prediletos dos adeptos de mountain bike. Basta  se afastar cerca de 20 quilômetros  do centro histórico de Pirenópolis,  por uma estrada rural , para se deparar com cenários verdes deslumbrantes, onde a natureza está totalmente preservada. As trilhas são ideais para longas caminhadas e durante estes  bucólicos passeios, os turistas são brindados com a fartura das cachoeiras, que brotam entre as formações rochosas para o deleite de todos. E de volta à vida urbana, a  cidade contenta igualmente quem aprecia a arquitetura colonial e pretende explorar tudo -  a pé, que é de fato o melhor meio de locomoção para observar de perto os encantos de um estilo de vida que só persiste numa típica cidade do interior. 

Cachoeira do Abade

 Algumas paradas são mandatórias na agenda de qualquer turista: descer  e subir as  ladeiras do centro histórico afim de criar  intimidade com o trabalho dos artesões de prata que abrem seus  ateliês ao público; perder bastante tempo nas simpáticas lojinhas que vendem peças de cerâmica, esculturas em madeira, máscaras e todo tipo de artesanato goiano;  admirar os detalhes dos belos casarões coloniais com as cores vivas de suas fachadas e, claro, degustar pelo menos alguns rótulos caseiros na cachaçaria de Seo Rosa.  Sem esquecer de experimentar a gastronomia local, escolhendo  um dos bons restaurantes para almoçar e jantar como um Mouro - ou um Cristão. Só depois de tudo isso  é que você pode se gabar de ter conhecido a verdadeira essência de Piri. 


De domingo a terça, o espetáculo se realiza ao ar livre, dentro de uma arena chamada Cavalhódromo e com entrada franca. Os cavaleiros que representam Mouros e Cristãos, trajados respectivamente de vermelho e azul, saem de suas casas pelas ruas da cidade, em cortejo atrás do “Rei” , até se reunirem defronte à Igreja do Bomfim. Em seguida, seguem para o “Cavalhódromo”. A encenação começa com a entrada frenética dos Mascarados e suas montarias fantasiadas, e depois tem inicio  a “batalha”. O espetáculo culmina com a derrota dos Mouros.  

Mascarado passeando pelo Centro Histórico  Além disso, outros personagens atraem a atenção –  são os extravagantes Mascarados, que aparecem por todos os cantos da cidade. E serão sempre eles os primeiros a entrar no Cavalhódromo com suas fantasias ousadas e máscaras de boi criativamente assustadoras.




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Durante esta ocasião, que mobiliza quase todos os moradores ( costureiras inclusive, trabalhando com afinco na confecção das fantasias! ) , a cidadezinha de Pirí , como é chamada carinhosamente pelos locais, perde um pouco daquela calmaria deliciosa para dar lugar ao tilintar dos cortejos, jogos, ensaios a céu aberto e desfiles de cavaleiros , que assolam as suas ruas de paralelepípedos.

Mascarados fazem parte da festa e a criatividade não tem limites


I

Não faltam opções simpáticas e charmosas para se hospedar em Pirenópolis, mas  a localização da Pousada O Casarão , na Rua Direita, é um endereço tranquilo por estar algumas centenas de metros afastada do burburinho do centro histórico, e garante mais privacidade. Os hóspedes se sentem em casa,pois os donos criaram uma estrutura aconchegante , e conta com piscina, um pequeno jardim e apenas 11 suítes decoradas individualmente com móveis coloniais. O café da manhã é memorável. 
 
Pousada O Casarão

Panorama de Pirenópolis visto do alto de uma colina

 A encenação representa o batismo dos Mouros pelos Cristãos.  
No último dia, os cavaleiros encenam a conversão dos Mouros em Cristãos e há jogos de confraternização no Cavalhódromo. Para finalizar, saem todos juntos até a Igreja do Bomfim.







sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Pousada do Engenho, São Francisco de Paula, RS , Brasil



Do alto de um penhasco a paisagem se revela drástica e impressionante.



A primeira etapa é pela praia, bordeando o mar.

Mais uma vez, eu sabia que iria sacolejar o esqueleto horas a fio durante três dias seguidos, sabia que ia ter que acordar bem cedo todas as manhãs e sabia também que só iria dormir em berço esplêndido na última noite. Mas, para alguém afinada com a natureza e atividades ao ar livre, a opção de participar de uma expedição a cavalo, no Rio Grande do Sul - com direito a poeira, muitas barrinhas de cereais e ainda sujeita à se encharcar na chuva.
Sendo assim, me lembro quando -  bem relaxada no sofá de casa -  esmiucei os detalhes de um dos roteiros mais inusitados e atraentes entre o farto leque de opções oferecido pela Campofora, empresa gaúcha pioneira em turismo equestre: uma cavalgada cujo ponto de partida era o balneário de Torres, e ,  como destino final,  os Aparados da Serra, localizados a 600 metros acima do nível do mar. Sobretudo, vale acrescentar, um passeio acompanhado não só por guias experientes, mas pelo clima inconstante, mutante e imprevisível de duas regiões distintas. Seríamos brindados com paisagens dignas de cartões postais , mas também poderíamos ser surpreendidos com intempéries a qualquer momento no meio do caminho.



Em suma, uma verdadeira travessia, temperada não apenas com sabor de expedição e longas horas na sela, mas também pontuada por uma valente caminhada morro acima para galgar o desnível agudo entre o mar e a serra, no Município de Morrinhos do Sul. A subida  a pé  teria início na manhã do terceiro dia, na Serra da Tajuva. Apesar de ser um trecho de apenas 1500 metros, é demasiadamente íngreme,  e os cavalos seriam puxados por peões até alcançarmos um local do altiplano chamado Descoberta.


 A partir dali, já de volta no lombo das nossas montarias, estaríamos bem próximos dos "peraus", como se diz lá no sul quando querem mencionar a beira dos canyons. Sem sombra de dúvida,  o programa prometia emoções, e a aventura terminaria com um toque de luxo numa pousada de charme em São Francisco de Paula, ou São Chico, como os locais costumam chamar esta pequena cidade do interior, situada a 1 hora da capital.


Já em outro cenário, a topografia totalmente modificada.

Juntar alguns amigos animados para compor um grupo foi mais fácil do que se pode imaginar. Até porque ninguém precisa ser um cavaleiro tarimbado para curtir este programa: além dos cavalos serem da raça crioula, cuja índole é dócil e obediente, eles têm uma andadura (modo de andar) que garante conforto, pois você não fica pipocando na sela. Que por sinal, por ser gaúcha, também contribui para assegurar o seu conforto ( pelo menos localizado), pois são "amaciadas" com um ou dois pelegos, nome dado à típica manta confeccionada com lã de ovelha. Além disso, como se cavalga por cerca de 5 a 6 horas diariamente, ninguém sai desenfreado, galopando o tempo todo – a maior parte do caminho é percorrida a passo, tranquilamente.  


Paulo Hafner revisa pessoalmente todos os detalhes com os animais.

Conforme ditava o programa, no primeiro dia, logo depois do café da manhã, nossa turma de 9 cavaleiros se reuniu diante do Guarita Park hotel, em Torres, onde nos aguardava a tropa de cavalos, o mentor das cavalgadas, Paulo Hafner, e mais um guia. Cada um dos participantes foi agraciado com a montaria adequada aos seus atributos pessoais. Entenda-se por aí alguns quesitos básicos, como prática, peso e know-how no manejo do animal. No entanto, repito: ninguém precisa ser expert no esporte, basta um mínimo de condicionamento físico, bom senso e um pouquinho só de conhecimento - saber que não se passa marcha em cavalo, por exemplo, vale ponto. 



O primeiro impacto visual veio quase imediatamente, com o cenário dramático dos penhascos sendo açoitados pelas ondas. Estávamos encima do promontório, passando por trilhas exíguas que serpenteavam pela vegetação, admirando a praia de Cal que se estendia diante de nós a perder de vista. O estado de espírito do grupo estava nas alturas,  pairava no ar uma incrível sensação de liberdade , com todos nós deslumbrados por estes momentos mágicos. Logo em seguida, os cavalos já deslizavam seus cascos na areia, a caminho das  próximas etapas.  Em  3 dias, iríamos percorrer cerca de 100 quilômetros, sempre emoldurados pelas paisagens extraordinárias e mutantes, como a imensidão dos canyons nos Aparados. No fundo, estávamos refazendo passo a passo uma autêntica cavalgada histórica, pois este itinerário  é  uma das rotas percorridas pelos tropeiros de antigamente , que saíam de madrugada campo afora para levar o gado de uma vila para outra, passavam o dia todo no lombo de seu cavalo e iam pernoitando de fazenda em fazenda até chegarem ao destino.  Em tempo, antes que alguém fique na dúvida: na programação não constava nenhum rebanho a ser levado por nós, mero grupo de turistas urbanos confeitados temporariamente como exímios cavaleiros.


Mas, se existe uma região no Brasil que pode ser definida como ideal para ser explorada  a cavalo,  é a serra gaúcha. A topografia, perfeitamente delineada para o esporte, varia entre colinas,  morros e planícies suavemente ondulados, entremeados por estradas de terra, caminhos e trilhas beirando propriedades rurais,  fazendolas e vilas isoladas. Aliás, existe uma infinidade de lugares  que só dá mesmo para chegar a pé ou montado, como atravessar arroios e bosques, ou se embrenhar no meio de plantações de bananas - impensável e impraticável por meio de qualquer outro tipo de locomoção. Mas,  é de lá que se contempla cenários de tirar o fôlego.  E quem acredita que cavalo não sobe escada está redondamente enganado: alguns trechos íngremes, mais acidentados, em solos pedregosos ou com muito cascalho, são obstáculos facilmente superados por estes robustos animais, que esbanjam energia. 
Durante uma expedição deste teor, é difícil seguir uma rotina. 


Felizmente, o tempo ajuda, o sol bate forte e não há sinal de chuva. Nem previsão. O primeiro dia teve uma parada de almoço numa fazenda à beira da Estrada do Lagunero.  Paulo explicou que estávamos fazendo o  caminho por onde os colonos alemães levavam suas mercadorias de troca até a cabeceira da Lagoa de Itapeva , que dali seguiam pelo cordão de lagoas até Porto Alegre.   Tudo é festa depois de ficar horas seguidas montado, e desfrutamos um rústico piquenique regado à cachaça regional, sanduíches e frutas. Temos até direito a siesta, só que nos moldes de um autêntico gaúcho -  tirando um cochilo na relva.
Chegaríamos ao nosso pouso de pernoite 34 quilômetros e 8 horas depois de ter deixado a ensolarada praia de Torres. A hospedagem era numa pousada familiar bem rústica no Vale do Paraíso, região rural e berço de muitos imigrantes italianos. No entanto, a simplicidade da casa era compensada pela simpatia e hospitalidade extrema de D. Zilda e Seu Hélio, um casal cuja história familiar remonta ao século retrasado!  Estávamos encravados numa vila chamada Três Cachoeiras, com poucos botecos, uma igreja e um monte de casinhas alinhavadas em volta de uma praça, típico retrato do interior do Rio Grande do Sul.



A primeira etapa estava encerrada. E apesar de não levarmos nenhum rebanho, nem carregarmos mercadorias para escambo,  tal quais os tropeiros de antão, estamos “moídos” por ter passado o dia todo encima de um cavalo.  O jantar é servido por volta das 7, no cardápio é comida caseira preparada com esmero,  muito vinho para regar a conversa que se estende um pouco na frente do fogo que crepita na lareira, porém o cansaço  toma conta de todos antes da novela das nove.  Nem mesmo a lua cheia que inundava os pastos com a sua esteira prateada consegue acender os ânimos.  Afinal, na manhã seguinte, é às sete que alguém baterá à sua porta.
O segundo dia transcorre encima da sela, num ritmo de exploração da redondeza, com direito a muito cascalho, muita poeira. E´ muito chão, mas só assim captamos o  pacato estilo de vida dos moradores da região...E na hora de tirar uma folguinha do cavalo, o pastel e a cerveja gelada num barzinho de Dom Pedro de Alcântara caem como uma luva – ou será como um pelego, para ser condizente com o linguajar gaúcho? Mas, todos nós estamos focados no clímax e terceiro dia da cavalgada, que promete sensações únicas.  E às oito horas na manhã seguinte estamos a postos, prontos para enfrentar logo aquela preconizada subida, que desemboca no altiplano dos Aparados da Serra. Apeamos  ao pé do maciço de Josafaz antes das dez, trocamos as botas por sapatos de caminhada e nos aliviamos de tudo que pode atrapalhar os movimentos. Afinal, é uma trilha com  600 metros de desnível,  que poderia ser rotulada como uma escadaria, com degraus improvisados, feitos à mão com pedras irregulares num terreno para lá de acidentado e íngreme. E, quem achava que cavalo só subiria se fosse alado, ficou perplexo: puxados por uma tropa de peões, galgavam os obstáculos com agilidade  e inteligência.



 
O horizonte ao alcance dos olhos na borda do Canyon


“ O que conta é o cavalo, o resto é o resto”, costuma repetir o mentor do turismo equestre no Brasil. Cinquenta minutos, muito suor e 1.500 metros depois,  alcançamos o nosso destino: uma extensão de prados verdes ondulados e cobertos pela grama de altiplano. Há centenas de araucárias, e a vegetação mistura as cores, do roxo ao laranja, do cinza ao amarelo.  Não demora e, uma vez lá em cima,  extasiados,  vamos nos aproximando cautelosamente da borda do canyon do Campo dos Pretos. Extasiados, admiramos um panorama sem fronteiras, imagens impactantes que nem dá para descrever. Só imagine que, de cima de um penhasco  que se debruça nos desfiladeiros bruscamente, centenas de metros no vazio...dá para ver o mar alinhavando o horizonte.  

Eis porque, como filosofia de vida, Paulo nunca hesita: “Tempo, silêncio, espaço, ar e segurança são ingredientes que os nossos passeios a cavalo propiciam...” E o resto, bem, é todo o resto. A verdade é que rimar expedição a cavalo com luxo causa estranheza, sim. Mas, para algumas pessoas como eu, as melhores cavalgadas acabam sempre sendo  aventuras durante as quais se deixou de lado os hotéis estrelados ( ou no caso, deixamos para a última noite!)  para armazenar na memória a coletânea dos luxos que a natureza é capaz de propiciar.  De graça.
interior de um chalé da Pousada do Engenho

E esta aventura terminou com um final feliz na Pousada do Engenho,  em São Francisco de Paula, que a gente merecia...Depois de passar três dias fincado numa sela, nada mais recompensador do que dormir numa cama pra lá de confortável. Chamaria isso do repouso do cavaleiro...( ao invés de guerreiro...) A pousada pertence à prestigiada cadeia Roteiros de Charme, na simpática cidadezinha de São Chico - como os locais costumam chamar esta pequena localidade situada a 1 hora da capital.



                                                   



Ali, deu para recuperar as energias, relaxando em uma das 14 cabanas, cada uma com charme próprio,( algumas chegam a 80 m²) , seguindo um estilo rústico de log cabin  com acabamento em madeira. Para conservar a total privacidade dos poucos hóspedes,foram  espalhadas numa área de 3 hectares de mata nativa.  Cada suíte difere uma da outra em tamanho e decoração, algumas chegam a 80m² . Em todas elas,  o fogo crepita na lareira a qualquer hora do dia  e o ambiente, com camas queen size e cantinhos aconchegantes, convidam ao relaxamento.  Para encerrar com louvor esta aventura, aproveite para fazer uma massagem no spa e jante à luz de velas no restaurante da pousada, onde é servida uma comida bem temperada e saborosa.  A massa é divina.

Terreno variável e muita emoção a cada momento.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Hotel CaNaXini, Ferreries, Menorca, Espanha





A mais autentica, mais catalã, mais natural e preservada das ilhas Baleares, a bucólica Menorca ficará sempre imune ao turismo de massa 



Ainda era dia às 8 da noite quando aterrissamos no pequeno aeroporto de Mahón -  ou Maó em catalão - onde alugamos um carro, que é sem duvida a melhor opção para se locomover numa ilha que mede apenas 47 quilometros de comprimento por 17 de largura. 
praia de pedras roliças

O plano era conhecer Menorca  - seletivamente - em três dias, algo nada impossível pois a única auto- estrada, a Me-1, liga o norte ao sul e atravessa vários pontos de interesse como os vilarejos de Alaior, onde se encontra o melhor do reputado queso de Mahón;  Es Mercadal, que apesar da aparência sonolenta, esconde segredos gastronômicos;  e Ferreries, cuja principal atração é o outlet de Jaime Mascaró,  um artesão de Menorca que faz sucesso mundo afora com a sua marca de sapatos Pretty Ballerinas. 


 Isso sem falar nas duas cidades mais conhecidas encravadas em cada extremo,  Maó e Ciutadella que, por si só, concentram a maioria dos visitantes.

Porto de Ciutadella

Praça central de Ciutadella

Esta estrada é também é um divisor de águas: ao norte, o terreno é arenoso e a costa árida exposta aos fortes ventos. Ao sul, predominam as pedras calcárias e baías protegidas, onde se encontram as mais belas extensões de areia. 


Seguindo a cartilha do bom turista ecológico, a idéia era conhecer  tudo do jeito menorquín de ser. Como a infraestrutura hoteleira da ilha se traduz em agroturismo, a primeira providencia foi procurar se hospedar em um dos hotéis rurais, conhecidos como  lloc no dialeto local. Na realidade, são poucos os estabelecimentos que podem realmente se enquadrar na categoria de luxo, mas em compensação eles se esbaldam no estilo e na autenticidade.

CaNaXiNi hotel rural, agriturismo de luxo

Piscina e jardim do CaNaXiNi



Via das dúvidas, optei pela melhor suíte do CaNaXini, o mais recente a entrar na lista dos melhores hotéis rurais de Menorca. Pomposo, encravado num parque e rodeado por vinhedos e um imenso jardim, este hotel butique, outrora um palacete do século passado, surpreende pela decoração clean e ultra moderna que se abriga num invólucro clássico. O décor é impecável. Além disso, nesta finca  também se produz o tradicional queijo de Mahón –  que afirmam ser muito antigo, mas ninguém sabe dizer  ao certo quando começou a ser fabricado na ilha.


A nossa localização não podia ser mais avantajosa, pois o vilarejo de Ferreries fica bem no centro, a 29 quilometros de Maó e  a apenas 16 de Ciutadella. Toda a ilha é uma Reserva da Biosfera da Unesco desde 1993, o que ajudou a manter  praticamente intactos uma cultura milenar e o dialeto local, o menorquín, e assegurou para sempre o estado selvagem das idílicas praias e enseadas.
Águas translúcidas e calmas

Mas, foi graças a leis bem xiitas que Menorca se livrou da cobiça dos grandes empreendedores imobiliários que cimentaram suas vizinhas Mallorca e Ibiza, a ínfimos 75 quilometros de distancia. Por contraste, se tornou o destino perfeito para quem quer zero de vida noturna e preza o contato  com a natureza e atividades esportivas ao ar livre, como surfe, windsurfe, vela, caminhadas, mountain bike e passeios a cavalo. 

Depois de um farto café da manhã abastecido com os produtos orgânicos oriundos da própria finca, saímos em busca das praias desertas do sul recomendadas pela nossa gentil anfitriã. 


A menor das ilhas baleares é também a mais silenciosa, discreta e, em seu jeito próprio, a mais acolhedora. São muito poucos carros nas estradinhas secundárias e o movimento é quase inexistente. Dirige-se devagar, admirando tudo em volta. Uma ou outra finca se destaca na paisagem bucólica, onde a vida rural transparece a cada curva. Cavalos e gado, rebanhos de carneiros, bosques e colinas verdes fazem parte do cenário. O povo é reservado, não é de fazer muita festa aos forasteiros, mas os acolhe com educação e respeito. Para ganhar a confiança de um menorquín, é preciso demonstrar que estamos nesta ilha por acreditar que ela é um destino privilegiado.  

praia de surfistas

típico queijo Mahón

Tanta praia dá fome e nestas paragens não há sequer um bar de apoio. Zarpamo para Ciutadella, onde moram 28 mil pessoas e por onde circula a maioria dos turistas. A segunda maior cidade de Menorca nos pareceu uma metrópole agitada depois de ter passado as ultimas horas em contato apenas com a natureza silenciosa. A antiga capital da ilha deve ser visitada a pé, sem pressa, com intenção de se embrenhar no labirinto formado pelas ruelas estreitas da parte antiga. 
Ciutadella

Bisbilhotamos Ciutadella e suas butiques, entramos em lojas de artesanato e  vasculhamos as prateleiras de sandálias fabricadas exclusivamente na ilha. Os modelos podem parecer esquisitos, mas são confortáveis e custam barato. Há inúmeros cafés alinhados defronte a Placa des Born , onde  o programa é ficar sentado tomando uma cerveja gelada ou um café, enquanto se aprecia o vai e vem de pedestres.  

Praia semi deserta, de mar manso e águas tépidas



 No dia seguinte, a caminho da Platges de Fornells, um adorável vilarejo de pescadores ao nordeste da ilha,  iríamos provar a famosa caldedreta  de llagosta em um dos mais reputados restaurantes, o Cranc Pelut. Porém, o que nos agradou mais ainda do que a comida suculenta foi a gentileza do dono, que, junto com a sua família, dispensa uma atenção toda especial aos comensais estrangeiros.



O ultimo dia ficou reservado para Maó, que não apenas emprestou seu nome ao queijo mais famoso fabricado na Espanha,  mas teve uma historia turbulenta ao longo dos séculos passados. Com um porto que é considerado como um dos mais protegidos do Mediterrâneo e o segundo maior porto natural do mundo, a capital de Menorca sempre se destacou aos olhos de amigos e...invasores.