domingo, 6 de março de 2016

The Surrey Hotel, New York, USA


Ícones arquitetônicos são estampas novaiorquinas.

Com gestos precisos e elegantes,  a jovem atendente britânica retirou um dos 19 frascos de perfume alinhados assimetricamente em três prateleiras da butique Editions de Parfums, do perfumista francês Frederic Malle. Em seguida , retirou a tampa, e, de forma quase teatral, apertou o spray mirando para dentro de um dos três “tubos de ensaio” gigantes que ornamentam uma parede inteira da butique, e cuja parte superior ela havia aberto. Ao mesmo tempo, pediu que eu inserisse a cabeça e a metade do corpo  para dentro daquele espaço afim de  “ poder sentir a fragrancia do Dans Tes Bras –“como ela realmente é” , sem a interferência de nenhum outro cheiro que por ventura estaria impregnado no recinto. E, que, convenhamos, estaria, porque já que estávamos numa butique de perfumes, nada mais natural do que se sentir envolvida ( ou até mesmo atordoada!)  pelo misto de essências que pairava no ar.
Madison, uma avenida perfumada: uma gama de perfumes exclusivos, assinada por nomes reputados,  exala as suas fragrâncias  numa faixa de 7 blocos





No entanto, assim que se penetra neste ambiente agradavelmente perfumado, a impressão que temos é de entrar no salão da vovó cheio de recordações, principalmente quando se olha para as fotografias preto e branco penduradas encima da lareira, emoldurando portraits de personagens oriundos de várias faixas etárias. “ A idéia foi criar um ambiente estilo “petit salon” para que a clientela relaxe,” explica a gentil inglesa, e, sorrindo, revela que efetivamente os móveis são oriundos da casa da avó do perfumista.


E as pessoas retratadas? São os “noses” ( ou professional “nez”) , aqueles profissionais responsáveis por descobrir, depurar, purificar e esculpir uma essencia e gerar uma nova sensação olfativa, dando vida a rótulos com nomes tão sugestivos ou misteriosos  como Carnal Flower, Angeliques Sous la Pluie ou Bigarade Concentrée

A única coisa que destoa do décor à l´ancienne são os tais enormes cilindros  envidraçados, que foram patenteados como “ tubos olfativos”. E que impressionam... muito! Imediatamente me vem à tona imagens como máquina do tempo, alquimia futurista e até mesmo cenas de impacto do filme “Perfume”, baseado no livro homonimo de Patrick Suskind, no qual o protagonista interpreta um serial killer obcecado em transformar o cheiro das mulheres desejadas ( e inevitavelmente assassinadas) numa fragrancia inebriante. Em consequência,  elas acabam até borbulhando em imensos tubos de ensaio. Mas, nada de se apavorar, pode enfiar a cabeça tranquilamente que você não corre o risco de ser destilado na Madison Avenue....


                                                                    
Um pouco mais adiante, do outro lado da rua, a fachada enigmática da Diptyque quase não chama a atenção dos pedestres. Poderia ser uma loja de guériguéri. Mas, quando a gente se aproxima da vitrine, dá para distinguir produtos semelhantes a uma linha de cosméticos. E são. No recinto clean e bem apropriado para tudo aquilo que oferece, desde a gama de eau de toilette e colonias a velas perfumadas e cremes corporais, esta marca de perfumaria – cujo nome gira em torno de dualidade – foi criada há mais de 40 anos atrás, quando tres sócios franceses “aromatizaram” suas experiencias de viagem, e conceberam paisagens olfativas, segundo eles,  inspiradas no sabor de uma fruta exótica, de uma flor delicada, ou da profundeza de um  bosque.


 Deram origem, então, a precursora L´Eau ( a base de canela e geranio) e a mais de dezenas de outras fragrancias, que só podem ser compradas nas próprias butiques ( a de Nova Iorque é uma filial da parisiense). Com rótulos personificados – o ícone oval com desenhos em letras pretas  -  cinco perfumes lideram a gama dos mais procurados: L´Autre, Virgilio, L´Eau Trois, Oponé e L´Eau d´Elide.

No entanto, o produto do qual a Diptyque mais se vangloria é o perfume sólido,  um achado nada convencional se você é uma daquelas pessoas que adoram se embrenhar em nuvens de perfume. Mas, é muito prático: do tamanho de uma caixinha de sombra, a delicada embalagem preta é uma graça. E o perfume, de consistencia cremosa, se  passa com o dedo indicativo, e deve ser espalhado atrás das orelhas e na cavidade dos pulsos. Por módicos U$ 48, é vendido em quatro fragrâncias – L´Ombre dans L´Eau, Duson, Eau Druelle e Philosykos, este último extraído das folhas de figueira.
                                                           

Quando rotulou seu perfume com o nome Stoned, a designer de jóias Solange Azagury Partridge quis fazer uma brincadeira e dar a entender, sutilmente, que se pode perfeitamente ter prazer em estar “stoned” ( “chapado”, sob o efeito da maconha) sem infringir a lei. Esta sua criação, que ela também define como uma “jóia líquida” , é composta de inúmeras essências convencionais, como rosa, jasmim, baunilha, e, pasme ! inclui até pó de diamante. Deve ser a razão pela qual 100 ml deste precioso eau de parfum, realçado através de um pomposo frasco cor de rubi, todo cravejado de “pedras preciosas”, custa a bagatela de U$ 285. 


  E que você só vai encontrar em sua boutique na Madison. Boutique esta que mais parece um boudoir, com a decoração e os móveis em couro e tons sombrios, um showroom sofisticado, a altura das coleções que enfeitam prateleiras e vitrine.  Além deste perfume,  a artista também lançou o Cosmic , um segundo rótulo exclusivo  embalado num frasco que lembra o formato de um meteoro.  “Solange é muito conectada com tudo que é cósmico,” explica a assistente. E, justificando o preço estratosférico, acrescenta que qualquer um dos perfumes pode durar até seis meses, “ mesmo usando todos os dias.” Ufa!Que consolo!


O que estes perfumistas da Madison Avenue têm em comum? Bem, para começar não ostentam grifes mundialmente conhecidas. Suas criações também não são espalhadas em free shops de aeroportos e muito menos em perfumarias. E não permitem que as suas essencias sejam definidas como femininas ou masculinas. E, last but not least, cobram muito mais caro do que a maioria dos perfumes famosos justamente por personalizar essencias para lá de exclusivas. Ou seja, é o objeto de consumo  ideal para quem sonha ser reconhecida (o) de longe pelo cheiro... um cheiro para chamar de seu.


Ambiente " boudoir" para atrair e inspirar a clientela .

Em tempo : tive menos de três horas pra fazer este tour imbuído de fragrâncias exóticas. O que me salvou foi a localização ideal do The Surrey Hotel, estrategicamente encravado entre o Central Park e a Madison, Eram poucos minutos a pé até alcançar as quadras perfumadas.  O hotel é pequeno ( para os padrões novaiorquinos), mas é íntimo o bastante para você nunca se sentir constrangido em atravessar o lobby, e rapidinho chegar no elevador e na sua suíte.  Diga-se logo, muito espaçosa, confortável com uma enorme cama king size. Nem deu tempo pra aproveitar o spa deste cinco estrelas, mas já anotei no caderninho. Da próxima, não vou deixar escapar!

Entrada discreta do Surrey Hotel, localização perfeita encostada na Madison Avenue

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